
Os altos comandos do Benfica reagiram à bruta contra arbitragens que, no balanço das primeiras 4 jornadas, têm prejudicado o campeão nacional. E não ficaram por aí; amplificando ao máximo o protesto, varreram quase tudo: o secretário de Estado, a Liga – cujo recentíssimo novo presidente apoiaram -, até com ameaça de ausência na respectiva Taça (!), a Olivedesportos e, por tabela, para aí 13 clubes… pois é isso o que, financeiramente, ressalta do apelo aos adeptos benfiquistas para não comparecerem nos jogos fora da Luz. Escapou alguém? Ah, sim, a depauperada Federação…
Na crónica do V. Guimarães – Benfica, desanquei Benquerença; há muito não via tão má actuação de árbitro, porque tão claramente virada contra uma equipa – nos erros técnicos (impossível não ver o segundo penalty!) e na chocante prepotência de alguns cartões amarelos. Mas tenho de fazer duas ressalvas. Primeira: escrevi ter dúvidas – admitindo acerto do auxiliar José Cardinal – no lance em que Cardozo meteu a bola na baliza; no dia seguinte, vendo imagem televisiva, passei a ter certeza: houve fora-de-jogo. Segunda: num texto posterior, referi mala pata de Benquerença em jogos com o Benfica; é verdade, mas, no que recordo das duas últimas épocas (portanto, bem longe do Benfica – FC Porto em que ninguém pode afirmar se o remate de Petit entrou ou não na baliza), em Alvalade e, na Luz, com FC Porto e Nacional, não foi o Benfica o mais afectado por erros de arbitragem…
Pois é, aplica-se a todos os clubes, aos seus dirigentes e à enorme maioria dos seus adeptos: erros contra nós, aqui d’el rei; erros a nosso favor, profundo silêncio. Bem frescos exemplos: FC Porto favorecido na Figueira da Foz; Sporting idem no golo espantosamente anulado ao Olhanense; Benfica aspas no claríssimo penalty por Luisão cometido frente ao Hapoel. Alguém já ouviu “ganhamos porque o árbitro errou”?
Volto à reacção de tudo arrasar. Uma de duas: ou há descontrolada perturbação face a inédita série de derrotas do Benfica em início de época, ainda por cima sendo o campeão, ou Vieira e seus pares têm mesmo muito seguros e fortes indícios de que, nos jogos de bastidores, outras forças estão ao assalto do controlo da arbitragem.
Sim, sem medo das palavras: pelo menos desde que sou jornalista, o que já se expressa nalgumas décadas, quase todos os dirigentes dos clubes, sobretudo dos gigantes, têm esta prioridade: obter o controlo da arbitragem. O controlo absoluto, ou, no mínimo, as migalhas… Chocante mentalidade - amiúde reforçada por maldita realidade - daqui não sai: para se ser campeão, é imperioso controlar os árbitros / a sua nomeação, ou não deixar que seja (m) o (s) adversário (s) a consegui-lo. Tão tenebroso quanto isto! De uma forma ou de outra (e os processos têm-se diversificado), todos tentam. Uns ganham, outros perdem… E, para quem perde, sempre ó da guarda! Fazendo questão fechada de passar ao ataque na temporada seguinte… Repito: tão tenebroso quanto isto! Não tanto assim nos últimos anos? Nenhuma dúvida, já foi muitíssimo pior! Mas a mentalidade permanece…; é só dar-lhe um pouco mais de terreno de acção, lá vai ela, a todo o gás.
Os dirigentes do Benfica saberão o que fazem, terão as suas razões - para além da impossível camuflagem de a equipa estar a léguas do que rendia há um ano - , mas, com tão bruta declaração de guerra, porque lançada contra todo o mundo do futebol português (!), ganhar amigos é que não vejo como… E uma pergunta coloco: já desistiram de Benfica bicampeão? Parece… quando pedem para a equipa não ter adeptos nos jogos em casa alheia. Tanto, e bem legítimo, orgulho por só o Benfica encher todos os estádios. Tanto, e tão justo, agradecimento aos adeptos pela preciosíssima ajuda a Benfica campeão ao conseguirem que, em 28 das 30 jornadas, a maioria do público fosse fervorosamente benfiquista. A represália de estádios vazios é tiro, aliás metralhadora, no coração… da equipa.