NÃO passa pela cabeça de alguém — creio que nem pela do mais entusiasta adepto bracarense — o Benfica falhar a conquista do título nacional no derradeiro jogo e em sua casa... O estádio da Luz terá lotação esgotada e a ferver de paixão vermelha, o Benfica tem sido a mais espectacular equipa — que gigantesca diferença de qualidade face ao último Benfica campeão, já lá vão cinco anos... —, o Rio Ave, apenas 11.º, à distância de 42 pontos (!), nada tem de papão, e, caramba, empate basta. A frio, é assim: nenhuma hipótese de haver escândalo.
Há, claro, uns ses e uns mas...:
1- O sortilégio do futebol, amiúde tão cheio de surpresas que chegam a atingir o incrível (Domingos Paciência, alimentando a crença da sua equipa e mantendo muito legítima estratégia de pressão, já lembrou como o Corunha perdeu título espanhol: no último dia, no seu terreno e falhando penalty no derradeiro minuto!).
2- O brio do Rio Ave e a sua interessante capacidade de resistência fora de casa: em 14 jogos, teve menos derrotas (5) do que resultados positivos (6 empates, 3 vitórias). Ainda assim, o mais frequente resultado do Rio Ave nesta Liga (13 empates) não será suficiente para a corrida ao título ter desfecho qual filme de Hitchcok...
3- Benfica sem Javier García e, sobretudo, sem Fábio Coentrão e Dí Maria, a diabólica asa esquerda que habitualmente lhe dá superdinâmica. A estas importantes ausências poderá juntar-se confirmação de Cardozo, Saviola, Ramires andarem presos por arames...
4- Acima de tudo: Benfica em descendente gráfico de forma... Nos últimos jogos, teve dificuldade em camuflar cansaço de jogadores chaves e... muito nervosismo. Ansiedade por a meta do grande êxito estar mesmo, mesmo ali... mas tardar a ser cortada (ai a admirável persistência do Sp. Braga!) tem vindo a emperrar a esfusiante máquina montada por Jorge Jesus. Cansaço e desconcentração competitiva foram superevidentes em Liverpool. Ansiedade tocando a zona vermelha do conta-rotações já se notara, quanto a mim, na vitória em Coimbra, qual paradoxo até no 5-0 ao Olhanense...; e tornou-se flagrante no Dragão: para além do grande mérito portista e das tais unidades em perda de rendimento, o Benfica perdeu-se no descontrolo do seu estado emocional (gritante quando, após conseguir 1-1 e ficar em superioridade numérica, de todo avariou a bússola de objectivos...).
Nada disto tira brilho à espectacular ressurreição do Benfica. Foi, sem dúvida, a melhor equipa portuguesa do campeonato e no todo da época. Futebol de ataque a toda a brida, pura fúria de vencer. Bem compreensíveis os sinais de desgaste na ponta final; o Benfica arrancou a todo o gás logo na pré-época (ror de troféus conquistados, nem um falhando), já lá vão quase 10 meses...
Há espaço para o Rio Ave arrasar o estádio da Luz e a nação benfiquista? Tanto como o meu para ganhar o euromilhões... Verdade que ainda não desisti...
SP. BRAGA: a impressionante proeza de já ter garantido, como mínimo, ser vice-campeão, quiçá com atraso de tão-só 3 pontos e com 5 de vantagem sobre o FC Porto (vida bem difícil no último dia, em casa do Nacional que sonha ir à Liga Europa por via da 5.ª posição). Em simultâneo, o mais importante para o futuro do Sp. Braga: acordou a sua cidade!; tem hoje entusiastas adeptos como não tinha, passou a encher o seu estádio e, nas últimas semanas, até os alheios, como nunca fizera. De forma um pouco artificial (milhares de bilhetes oferecidos pela Direcção)? Sim, mas isso faz parte do crucial lançamento para o futuro.
MOURINHO: o 1.º troféu da época já é do seu Inter. Roma, actual rival n.º 1, disputou em sua casa a final da Taça de Itália, mas o Inter conquistou-a. Que louco final de temporada!: Mourinho bicampeão de Itália está à distância de 2 jogos. Para Mourinho de novo campeão da Europa, o grande Barça já vergado, a distância é de 90 minutos. Se tudo isto der certo, ai do presidente do Real Madrid se não for buscá-lo!
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