Por Miguel Góis in Record
A pergunta impõe-se: quem tem uma maior esperança média de vida? Um indivíduo que fuma um maço de tabaco por dia, ou um jogador do Benfica que leva com um isqueiro nas Antas? Não sei porquê, mas tenho a sensação de que a medicina dedica muito tempo de pesquisa ao primeiro caso, e continua a desprezar olimpicamente o segundo. Por outro lado, não compreendo como é que só os maços de tabaco contêm avisos. Porque não passar a colar nos isqueiros mensagens com, por exemplo, o seguinte teor pedagógico: "Deixar de atirar isqueiros para o relvado reduz o número de escoriações"? Dito isto, se há local em que faz sentido que haja muita gente a deitar isqueiros fora, esse local é as Antas: há lá algumas pessoas que, se dependesse do Ministério Público, estavam hoje num sítio onde é muito complicado arranjar cigarros.
Entretanto, alguns jornais revelaram que, enquanto voavam objetos para o relvado, se jogava uma partida de futebol. Respeitosamente, duvido. Até porque, em vez de futebol, o mais recente FC Porto-Benfica parecia uma prova dos Jogos Sem Fronteiras: a certa altura, o objetivo era ver qual o jogador do Benfica que conseguiria inserir a bola dentro da baliza adversária, tendo para isso que evitar os jogadores do FC Porto que se lançavam ao chão sem que alguém lhes tocasse, e ao mesmo tempo contornar as dezenas de isqueiros, telemóveis e tochas que caíam no relvado. Da próxima vez, desconfio que o Aimar vai entrar no relvado das Antas com um saco de batatas nos pés e a segurar uma colher com um ovo na boca.
No meio de tudo isto, estiveram os heroicos jogadores do Benfica, que foram alvo de projetos diametralmente opostos. De um lado, havia os adeptos do FC Porto, que os queriam pôr negros; do outro, o árbitro da partida, que os queria amarelar.
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