Neste blog utilizo textos e imagens retiradas de diversos sites na web. Se os seus autores tiverem alguma objecção, por favor contactem-me, e retirarei o(s) texto(s) e a(s) imagem(ns) em questão.
Mostrar mensagens com a etiqueta Crónicas de Miguel Góis. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Crónicas de Miguel Góis. Mostrar todas as mensagens

10 maio 2011

Saber sofrer


A primeira coisa que me consola é perceber. Perceber como é que esta época pôde acontecer. Nessa medida, quero ver o meu presidente e o meu treinador a falarem dos erros que foram cometidos, e sobre o que se vai fazer no futuro para evitar que o clube os cometa de novo. Por exemplo, por que é que a equipa que marcou quatro golos em casa ao Lyon e ao PSV não consegue marcar um golo fora ao Braga e, já agora, ao Hapoel? Por que é que os jogadores, de há uns tempos para cá, parecem arrasados física e mentalmente? Por que é que Javi García joga tão recuado, quase como terceiro central, contra equipas que alinham apenas com um ponta-de-lança (FC Porto e Braga), deixando um buraco no meio-campo? Por que é que Airton não joga ao lado de Javi García contra equipas que povoam o meio-campo com três jogadores (FC Porto e Braga), se tão bons resultados essa dupla teve na segunda parte da final da Taça da Liga, quando o Paços de Ferreira começava a dominar o meio-campo? Por que é que não há um plano B para quando equipas como FC Porto e Braga nos fazem pressão alta? Por que é que certas atitudes individualistas de Gaitán e, sobretudo, de Jara (e, sim, refiro-me à forma absurda como nasce o primeiro golo do FC Porto na Luz, na meia-final da Taça de Portugal), parecem passar impunes?

De seguida, quero ação. Quero que o Benfica renove com Maxi Pereira já esta semana. Quero que o Fábio Coentrão fique no clube e seja aumentado, passando a ser o mais bem remunerado jogador do plantel. Quero que se faça uma boa oferta ao Atlético Madrid por Salvio, que já demonstrou vontade de ficar no clube. Quero que Pablo Aimar, de quem se diz estar de saída, não saia, apesar do bom ordenado que aufere – ele merece-o (na final da Taça da Liga, para além da magia do costume, pareceu-me o jogador em campo que mais bolas recuperou).

Outros preferirão ver cabeças a rolar. Eu quero levantar a cabeça.

20 fevereiro 2011

Falcão existe?


Ultimamente, André Villas-Boas parece investir cada vez mais tempo em mind games. Olha-se para a qualidade do futebol praticado pelo FC Porto e não se tem dificuldade em perceber qual tem vindo a ser a prioridade do técnico portista. O futebol em si é, sempre foi, muito sobrevalorizado no mundo do futebol. Pois bem, a última moda de Villas-Boas consiste em convocar um jogador que sabe, à partida, não ter condições físicas ou psicológicas para alinhar. Neste momento, pode dizer-se que o Falcão é o papão dos tempos modernos. Quando os mais jovens adeptos do Benfica e do Sevilha contrariam os seus pais, estes agora dizem: “Se não te portas bem, vem aí o Falcão”. Tal como o seu antecessor, nunca vem. Mas, pelo menos, assusta a pequenada.

Por isso, se o leitor quer dar por bem empregue o seu tempo, assista às conferências de imprensa de André Villas-Boas e às partidas de futebol do Benfica – constatará que é complicado decidir em qual das duas há mais fantasia e criatividade.

Não se percebe é porque é que há tantos espectadores que pagam dinheiro para ver os jogos do FC Porto, se podem passar logo para a parte mais interessante da noite e ouvir os comentários do técnico portista a título gratuito. Por um lado, até é pena os mind games de Villas-Boas não terem eco junto do técnico do Benfica. Se Jorge Jesus não estivesse ocupado a construir uma nova fornada de craques (Sidnei, Gaitán, Jara e Salvio), ripostava à altura e anunciava, só para baralhar, a convocatória de Shéu Han. Mas, enfim, cada um tem os seus interesses.

Seja como for, o certo é que este mais recente mind game do técnico portista parece surtir efeito: os treinadores adversários ficam verdadeiramente baralhados, sem saber se o FC Porto vai praticar um futebol aborrecido e previsível com Falcão, ou um futebol aborrecido e previsível sem Falcão. Imagino a angústia...

09 fevereiro 2011

Para totós

A pensar naqueles que não conseguiram acompanhar os 90 minutos do FC Porto-Benfica (uns porque não têm televisão por cabo, outros porque saíram mais cedo do Estádio do Dragão), aqui fica uma pequena resenha dos acontecimentos:

20.15 – Antes de as equipas entrarem no relvado, passam nos ecrãs gigantes imagens do último FC Porto-Benfica, para contentamento geral do público: desta forma, os adeptos portistas não poderão dizer que naquela noite não festejaram golos do FC Porto.

20.23 – As equipas técnicas entram no relvado. Jorge Jesus limita-se a estender a mão a André Villas-Boas, depois de ponderar a hipótese de cumprimentar o técnico portista da mesma forma que cumprimentou Luís Alberto no final do Benfica-Nacional.

20.30 – Início da partida.

3’ – A bola sai pela lateral e André Villas-Boas domina o esférico com o peito. Durante toda a noite, será a única vez que um elemento do FC Porto conseguirá receber a bola à vontade, sem oposição imediata do adversário.

6’ – Golo de Fábio Coentrão. Perspicaz, o lateral-esquerdo percebeu que, hoje em dia, se ambiciona marcar golos, tem de o fazer no início da partida, antes que seja expulso pelo árbitro da partida.

22’ – Livre de Hulk, “o Razoável”, passa muito longe da baliza. É o que dá só estar habituado a rematar a 11 metros da baliza.

26’ – Golo de Javi García, a passe de Fernando. A tática de Jesus a resultar em pleno: para quê Aimar, se se tem os jogadores do FC Porto?

43’ – Cartão amarelo para Hulk por simular uma falta. Alguns comentadores defendem que o jogador brasileiro já devia ter sido admoestado antes, por simular ser um ponta-de-lança decente.

62’ – Belluschi, na marcação de um livre, remata fraco. O que se compreende: não se consegue ganhar balanço convenientemente, quando se está no bolso do César Peixoto.

63’ – Os adeptos do Benfica começam a ter algumas dificuldades em recordar-se do nome do defesa central que, há poucos dias, foi vendido para Inglaterra. Ainda sabem que o primeiro nome começa por “D” e que tinha caracóis, mas pouco mais.

11 janeiro 2011

Doutrina Rui Costa


Tive já ocasião de manifestar publicamente a minha profunda admiração por Rui Manuel César Costa. Admiro, entre outras proezas, a forma como conseguiu tornar-se um príncipe em Florença, a capital do Renascimento, sendo oriundo da Damaia, a capital do desbloqueamento de telemóveis roubados. Não é fácil. Infelizmente, não posso subscrever um aspeto da sua vigência como diretor-desportivo do Benfica, que está diretamente relacionado com o período da reabertura do mercado em que nos encontramos.

Aquando do falhanço na contratação de Falcão, Rui Costa declarou à imprensa: “O Benfica só vai contratar jogadores que tenham a mesma vontade que nós”. Mais recentemente, quando o mesmo sucedeu com Hleb, afirmou: “Só pode vestir a camisola do Benfica quem tem ambição de a vestir. Essa é a minha cultura e a do Benfica”. Resumindo, a doutrina Rui Costa para a contratação de jogadores é: o clube só está interessado em jogadores que queiram vir para o Benfica. E tudo correria às sete maravilhas, não fosse a política de contratações do FC Porto muito similar: o clube só está interessado em jogadores que queiram vir para o Benfica.

O que questiono é por que razão um colombiano ou um bielorrusso insistiriam em vir para o Benfica, em detrimento de um outro clube português – para efeitos puramente teóricos, chamemos-lhe momentaneamente, sei lá, “FC Porto”? Porque ama o Benfica e tomou a decisão de perder uma fortuna de forma a regressar ao seu clube do coração, assinando um contrato em branco (ou, como Vale e Azevedo lhe chamava, “um contrato”), Rui Costa não pode cometer o erro de pensar que há mais como ele. Não há.

21 dezembro 2010

O silêncio


Esta semana, Sousa Tavares escreveu na sua crónica que Jorge Araújo foi um “treinador de basquetebol, que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao FC Porto”. Como é evidente, Jorge Araújo nunca treinou o Benfica, não cumprindo assim um dos requisitos necessários para se vencer vários títulos por esse clube. Sousa Tavares escreveu isto, mas - salvo uma única exceção (cuidadinho, Leonor!) - ninguém o desmentiu.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu também: “Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador.” No entanto, a 9 de março não era “preciso ser nenhuma luminária para perceber que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de uma avestruz”, e até que o jogador é “uma fonte de despesas e frustrações sem fim”; e, a 30 de novembro, já era um dos “bons jogadores” do plantel portista, e o único “médio de ataque à altura das necessidades”. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o confrontou.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu ainda, referindo-se ao jogo contra o Setúbal, que “o FC Porto ganhou, de facto, com um penálti que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não”. Posta a questão nestes termos, há quase, no desfecho da partida, um sabor a justiça, e quase nos esquecemos que justo, mas mesmo justo, seria que nenhum dos penáltis tivesse sido assinalado e o jogo acabasse 0-0. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o desmascarou. Assim é que é bonito.

13 dezembro 2010

Em defesa de Jesus


Posso estar em negação (isso explicaria por que razão estou convencido que o mau futebol do Benfica não passa de um plano diabólico para desencorajar os adeptos a irem assistir aos jogos fora). Mas a verdade é que me recuso a pensar na hipótese de Jorge Jesus ser despedido. Em termos racionais – e eu peço, desde já, desculpa por estar a amalgamar neste texto assuntos tão díspares quanto “racionalidade” e “futebol” – não faz sentido termos por fim encontrado um treinador capaz e competente, depois de décadas a tolerar treinadores razoáveis e medíocres, e agora demiti-lo por não estar a ter sucesso nos últimos meses. Sejamos razoáveis: se, até 2037, Jorge Jesus não puser a equipa a jogar como na época passada, apontemos-lhe então a porta de saída com maus modos.
Jesus perdeu o balneário? É simples: compre-se-lhe um novo balneário. Quem está com o nosso treinador, fica. Quem não está, é excomungado. Custa-me dizer isto, mas o Benfica tem muito a aprender com a forma como a Igreja Católica lidou, no passado, com a dissensão: quem não acreditar em Jesus, deve ser castigado. Mas sem aquela parte das acendalhas.
Uma referência final à forma energúmena como alguns adeptos do Benfica têm tratado o campeão nacional César Peixoto. Eu não me esqueço quem é que, no ano passado, marcou Hulk na Luz, de forma exemplar. E também não me esqueço quem é que, na época passada, foi o melhor jogador em campo no Sporting 1 - Benfica 4, referente às meias-finais da Taça da Liga. Mas isso sou eu, que não gosto de dar tiros no pé.

06 dezembro 2010

O Penitente


“Saber jogar (...) em campos inclinados é uma velha tradição do FC Porto”. Ainda que não tenha sido essa a intenção, Rui Moreira pode ter aqui encontrado a única frase que todos os benfiquistas e, ao mesmo tempo, todos os portistas subscrevem. Trata-se, portanto, de um notável esforço no sentido da pacificação no futebol português. Tragicamente, Rui Moreira pode ter feito um mau serviço a si próprio, porque – logo ele, que tem um apego tão grande a discussões livres e abertas, sem qualquer tipo de condicionamento – pode ter delineado o fim dos programas de debate desportivo:
Portista – Fique sabendo que saber jogar em campos inclinados é uma velha tradição do FC Porto.
Benfiquista – Então, eu não sei disso... Não podia estar mais de acordo.
(E é nesta altura que o comentador afeto ao Sporting fica sem saber o que dizer, porque se, por um lado, quer concordar com o portista, faz-lhe confusão não discordar do benfiquista).
Seja como for, o encanto da frase está no seu caráter dúbio: escrita por um comentador afeto ao FC Porto, a frase pode revelar ou uma honestidade desarmante, ou uma torpeza inaudita. E para aqueles leitores que defendem que, por se tratar de Rui Moreira, nos devemos inclinar sem demoras para a hipótese “torpeza”, devo dizer que não me revejo nesse julgamento precipitado, e até difamatório, com o qual me recuso a pactuar. Na minha opinião, depende de que Rui Moreira estamos a falar. Por exemplo, o Rui Moreira de outrora, crítico em relação aos métodos de Pinto da Costa, poderia perfeitamente revelar uma honestidade desarmante. Em contrapartida, o Rui Moreira atual já teria alguma dificuldade nessa matéria, uma vez que se encontra em pleno processo de penitência. E, como sabem os crentes, a penitência implica atos como jejuns, peregrinações e vigílias. Isso mesmo: vigílias. Começa tudo a fazer sentido...

21 novembro 2010

Mais mentiras


É de uma assinalável humildade a teoria expressa por André Villas-Boas segundo a qual o FC Porto podia ter sido campeão na época passada, se o Hulk não tivesse sido castigado. Está-lhe subjacente a ideia de que, como treinador, ele não veio acrescentar nada ao FC Porto do ano passado, e ao rendimento do Hulk em particular, que não estivesse já lá, na era Jesualdo. Tem andado, portanto, a folgar, o André. Só não se percebe, então, tanto elogio ao seu trabalho. Mas não me interpretem mal: pessoalmente, também tinha curiosidade em ver o Hulk de 2010/11 a jogar na época 2009/10. Trazia um toque de ficção científica ao campeonato português.

Mas há sobretudo uma nota de fantasia e sonho nesta teoria do jovem treinador. É possível até que Villas-Boas tenha tanta perspicácia na análise de tabelas classificativas como na observação de lances polémicos dentro da grande área adversária. Analisemos os factos, esses desmancha-prazeres: fazendo as contas – e tendo em mente que, antes de Hulk ser castigado, o Benfica levava uma vantagem de quatro pontos em relação ao FC Porto e que, a partir daí até ao final, só perdeu cinco pontos (empate em Setúbal e derrota nas Antas) –, seria necessário que o FC Porto vencesse todas as partidas – repito, todas as partidas – da segunda volta do campeonato para que se pudesse sagrar campeão nacional.

Ora, hoje em dia, toda a gente concorda que o FC Porto está a fazer uma época excecional e nem assim conseguiu esse feito: em 11 jornadas já têm um empate. Ou seja, a modéstia de Villas-Boas é ainda maior do que supunha: na verdade, o treinador assume, sem assombros, que o FC Porto de Jesualdo, não fosse o castigo de Hulk, poderia ter sido bem superior ao seu. Quem diz que não há fair play no FC Porto?

15 novembro 2010

Grito de serenidade


Não nego que os primeiros três golos me custaram horrores. A partir daí, assisti ao avolumar da goleada com outra dignidade e valentia: é incrível como se torna suportável ver a nossa equipa ser humilhada, quando o fazemos ao colo da nossa mãe.

É, por sinal, muito mais difícil confrontarmo-nos com o facto de este ter sido o terceiro banho de bola consecutivo que o Benfica levou do FC Porto (Dragão, Aveiro, Dragão), sem que se vislumbre uma superioridade técnico-tática que o justifique.

Não é que, pessoalmente, não tenha também muito receio dos remates do Hulk. Mas isso sou eu, que, quando vou ver os jogos ao estádio, fico sentado na bancada. Ali, mesmo a pedi-las.

É possível que a chave da superioridade do FC Porto nos embates com o Benfica esteja no tão propalado “grito de revolta” – e o campeonato da revolta é um que o clube da Luz nunca ganhará. A revolta é a marca dos pequeninos. São sempre os pequenos que se revoltam contra os grandes, e não o contrário. O Benfica é o que os outros querem ser, quando crescerem: vai-se revoltar contra quem, se não tem ninguém em cima? Contra o Norte? O Norte nunca nos fez mal nenhum, para além de estar pejado de bons benfiquistas. É certo que a Beira Alta sempre me enervou um bocadinho, mas é uma coisa mais minha…

Dito isto, esta semana, só encontrei consolo no Almanaque do Benfica – Edição Centenário, especificamente no testemunho de Rui Águas sobre a época de 1986/87: “É curioso dizer que essas duas derrotas [contra FC Porto e Sporting], com incidência para a do Sporting [por 7-1] acabaram por nos lançar para a vitória no campeonato e para a Taça. Ainda por cima, na Taça, voltámos a encontrar o Sporting. Aí, com a humilhação bem fresca na nossa memória, ganhámos” (pág. 409). Pelo sim, pelo não, é melhor os benfiquistas encherem o Estádio da Luz amanhã.

31 outubro 2010

A greve


Uma ação de protesto levada a cabo pelos árbitros portugueses pode colocar em risco a deslocação do Benfica à Faixa da Gaza, no próximo fim-de-semana. De acordo com os seus representantes, os árbitros colocam a hipótese de não apitar o FC Porto-Benfica da próxima jornada, o que não se pode dizer que constitua uma grande ameaça. Se atentarmos nos lances que esta época se têm passado dentro da grande área do FC Porto, já é isso que os árbitros fazem: não apitam. Ou seja, a verdadeira ameaça dos árbitros é não apitarem os lances do FC Porto-Benfica que acontecerem nos restantes dois terços do terreno de jogo. Trata-se, portanto, de uma greve relativa.

Entretanto, o “Correio da Manhã” noticiou que uma das alternativas que estariam em cima da mesa seria a contratação de um árbitro espanhol para apitar o clássico do golfe português. Devo dizer que se trata de uma opção que não me tranquiliza minimamente. Temo que isso fornecesse um pretexto para que houvesse ainda mais portugueses a queixarem-se da fruta espanhola.

Ainda assim, esta ameaça de greve serviu para nos inteirarmos um pouco mais sobre os regimes fiscais e de segurança social que abrangem os árbitros. É curioso que estejamos, desde os anos 80, a falar publicamente sobre o que recebem os árbitros, e esta seja a primeira vez que estamos a falar especificamente dos seus ordenados. Posso dizer que outra surpresa foi a categoria fiscal em que estão inseridos: julgo que só quem não tem assistido às arbitragens dos últimos jogos do Benfica e do FC Porto é que pode dizer que os árbitros portugueses são trabalhadores independentes. Confesso que, não sei bem porquê, sempre deduzi que fossem trabalhadores por conta de outrem.

24 outubro 2010

Estrias de Jesus


Não tem sido um começo de época fácil para Jorge Jesus. Por exemplo, desde Agosto até à presente data, o técnico do Benfica tem sido severamente criticado por ter contratado o Roberto, e largamente elogiado por ter contratado o Roberto.
Ao mesmo tempo, alguns analistas acusam-no de não estar a conseguir encontrar um discurso adequado às actuais circunstâncias da equipa – esta época, Jorge Jesus continua a falar como o Jorge Jesus, mas obtém resultados como o Quique Flores. Na verdade, é perfeitamente compreensível. É possível que, depois da época que o Benfica fez no ano passado, Jorge Jesus se tenha esquecido por completo do que se diz quando não se ganha um jogo. Porventura, ser-lhe-á mais fácil levar a cabo uma profunda revolução técnico-táctica na equipa, de forma a começar a golear de novo sem dó nem piedade os adversários, do que passar a aparecer mais submisso nas conferências de imprensa.
Pessoalmente, sinto-me muito desconfortável a avaliar as decisões de Jorge Jesus. Sei, teoricamente, que é impossível ele tomar sempre a melhor opção. Mas tenho quase tanta confiança em Jorge Jesus como ele tem em si próprio (ou seja, o máximo que se pode ter).
Dito isto, dizer que Jorge Jesus de vez em quando toma uma má decisão é como dizer que a Giselle Bündchen tem estrias. É possível que sim. Mas são estrias com mais sex appeal que certos seios e nádegas; são estrias que mulheres sem estrias invejam; são estrias tão sensuais, que têm a forma de um cinto de ligas.

18 outubro 2010

Pai e filho


– Desliga o computador. Temos de ter uma conversa muito séria...

– Para quê tanto suspense? A stôra de Português avisou-me que ia falar contigo hoje.

– E então? O que é que tens a dizer em tua defesa?

– Nada.

– Nada? Portanto, o teu teste de Português está igualzinho ao teste do Vasco, que por sinal é o melhor aluno da turma, e tu não tens nenhuma explicação para isso.

– A stôra só veio com essa, porque estava à espera que eu tivesse outra nega para me chumbar.

– Eu vi os testes, meu menino. As respostas são textualmente as mesmas, palavra por palavra. É impossível não teres copiado. Sabes o que isto quer dizer? Dois meses sem semanada. DOIS MESES!

– Sim, mas como é que se prova?

– Desculpa?

– Como é que se prova que fui eu que copiei, e não o Vasco? Estás a entender a questão?

– Não estou a acreditar no que estou a ouvir. Quer dizer que não serviu para nada ter andado estes anos todos a gastar a minha saliva contigo sobre a importância de sermos honestos, sobre o valor da integridade e da...

– ... retidão moral. Eu lembro-me. Mas, ó pai, quando o Porto ganha o campeonato, não vamos para os Aliados festejar?

– O que é que isso tem a ver?

– Pai, eu tenho 11 anos: como todos os rapazes da minha idade, estou todos os dias no YouTube.

– No YouTube.

– No YouTube. Eu já não sou uma criança, pai. Sei como é que as coisas funcionam. E tu também sabes, há mais tempo do que eu. Desde que não sejamos apanhados, às vezes temos de dizer “toca a andar!”, temos de recorrer à “fruta de dormir” e ao “nosso juiz”, se queremos atingir os nossos objetivos. Queres que eu chumbe o ano? Queres ir outra vez à Liga Europa? Vá, que cara é essa? Anima-te, pai. Não me dás os parabéns pela nota a Português?

– Os parabéns? Bom, foi efetivamente uma boa surpresa.

– Obrigado, pai. Só mais uma coisa.

– O que é?

– Dava-me jeito que me desses a semanada agora...

– Vou buscar a carteira.

10 outubro 2010

Rui e André


Recentemente, até os mais renitentes adeptos do FC Porto começaram a ter razões para acreditar que o futebol português é um caso de polícia. Na segunda à noite, foi uma grande penalidade que não apareceu. Na terça à noite, foi um comentador que desapareceu. Do ponto de vista dos protagonistas, o descontrolo emocional adquiriu diferentes contornos: enquanto André Villas-Boas queria falar de uma coisa que não aconteceu (costuma-se dizer, e agora confirma-se, que os mais novos têm muita imaginação), Rui Moreira recusava-se a falar de uma coisa que aconteceu.

Em termos comparativos, o pungente pedido do técnico do FC Porto à TVI é mais maquiavélico. Procurar um penálti não assinalado contra o FC Porto é uma tarefa para a qual basta um estagiário. Já mandar um estagiário procurar um penálti não assinalado a favor do FC Porto não é uma tarefa, é uma praxe: é a caça ao gambozino dos tempos modernos.

Seja como for, Rui Moreira venceu André Villas-Boas no capítulo da ambivalência. Por um lado, é contra a prática pidesca das escutas; por outro, é a favor da prática pidesca de tentar condicionar os assuntos sobre os quais os outros querem falar. Mas desdramatizemos: sem Rui Moreira, “Trio D’Ataque” melhorou substancialmente. Se Rui Oliveira e Costa também tivesse abandonado o estúdio, aí então teria sido um programa genial. Mas compreendo que tenha que ficar alguém para defender o ponto de vista do FC Porto. E não só: Rui Oliveira e Costa representa também no programa um terceiro grupo, o dos portugueses sem qualquer tipo de escolaridade: quando, por exemplo, se dirige ao moderador para lhe dizer “explicitastes claramente” e “fostes exemplar”. Enfim, as coisas são o que são. Uma laranjeira não dá nêsperas.

02 outubro 2010

Presidente inseguro


Foi azar. Na semana em que Pinto da Costa, aludindo à conferência de imprensa de Vítor Pereira, veio dizer que nunca viu um responsável, seja do que for, censurar publicamente aqueles que dirige, José Mourinho – uma das mais reconhecidas autoridades do Mundo em matéria de liderança – criticou em público um dos seus jogadores. E para isso nem foi preciso que o jogador do Real Madrid em questão tivesse errado em quatro lances de golo iminente. Na realidade, Pedro León limitou-se a não seguir as instruções que lhe deram antes de um jogo. Um erro que, a bem da verdade, Olegário Benquerença nunca comete.

Mas voltando atrás, a infelicidade das declarações do presidente do FC Porto não me surpreendeu. Pessoalmente, nunca julguei que Pinto da Costa possuísse competências de liderança. Um líder deve confiar plenamente nas suas capacidades. Pinto da Costa, pelo contrário, é demasiado inseguro: contrata jogadores e treinadores que lhe parecem mais competentes, mas, à última da hora, não acredita nas escolhas que fez, e tenta resolver a coisa de outra forma. Um internauta que vá ao youtube, por exemplo, não encontra uma única conversa telefónica de ou para Pinto da Costa sobre atletas promissores ou treinadores talentosos. Talvez por isso muitos dos jogadores do FC Porto digam que assinaram em quatro ou cinco minutos – o presidente do clube deve, em seguida, ser libertado para tarefas mais decisivas.

De resto, fala-se muito nos valores de Pinto da Costa, mas o certo é que as escutas revelam um homem preocupado com o nosso planeta. Vê-se que está assustado com a pegada ecológica deixada pelos árbitros nas suas deslocações até aos estádios, quando repete várias vezes frases como “esse é de muito longe!”, ou “porque é que não pões um do Porto?”

27 setembro 2010

Eu acredito!


Pessoalmente, sempre gostei muito de ficção científica. Talvez por isso tenha apreciado de forma particular a seguinte pergunta que um jornalista fez, esta semana, a André Villas-Boas: “Coloque-se perante este cenário: no jogo com o Olhanense, o FC Porto é prejudicado pelo árbitro…”

Assim, de repente, lembro-me de vários episódios do “Star trek” com pontos de partida mais verosímeis. Por outro lado, na ressaca da falência do comunismo, podemos estar perante o dealbar de uma nova utopia vermelha – milhões de seres humanos, espalhados pelo Mundo inteiro, que acreditam ser possível construir uma sociedade onde um árbitro marque um penálti contra o FC Porto! Eu acredito! Junte-se o leitor também a este movimento! André Villas-Boas já o fez, nomeadamente quando, em resposta à pergunta acima citada, afirmou: “Há de chegar o dia em que nós nos sentiremos injustiçados (…).” Ele também acredita!

Mas o treinador do FC Porto ainda teve tempo para comentar a reação do Benfica à arbitragem de Olegário Benquerença: “O refúgio para as derrotas vai sempre ser o mesmo”. Isto vindo de um homem que nunca se refugiou na arbitragem para justificar as derrotas tem outra credibilidade. Infelizmente, André Villas-Boas não é esse homem. Basta recordar as suas palavras na última partida que o FC Porto perdeu, em agosto, no Torneio de Paris: “É um árbitro que ajudou à festa dos clubes franceses do torneio (…) Sinto um sentimento de injustiça perante o que se passou no golo”. Só quem já foi prejudicado num lance – e não em quatro – de um jogo particular – e não de uma partida a contar para o campeonato – é que consegue compreender este sentimento de revolta.

18 setembro 2010

Murro na mesa (e não no steward)


Para um observador desatento, alguém que tenha vivido muito tempo no estrangeiro ou possua apenas algumas noções elementares sobre futebol - e apercebo-me, neste momento, que o prof. Carlos Queiroz encaixa em ambas as categorias - não deixa de ser bizarro que o maior clube de Portugal detenha tão pouca influência nos centros de decisão. Se não vejamos: um outro clube é condenado por corrupção e não desce de divisão; o presidente de um outro clube é apanhado a produzir declarações comprometedoras em escutas telefónicas e é absolvido pelos tribunais comuns; um jogador de um outro clube que agrediu comprovadamente um steward vê o castigo ser reduzido para três jogos; e, em termos de arbitragens, o Benfica é prejudicado de forma sistemática. Como eu costumo dizer, errar é humano; mas errar sempre para o mesmo lado é fruta.

Face a isto, o que fazer? Como vencer adversários que recorrem a métodos tenebrosos, sem recorrer também a esse tipo de métodos? A resposta deu-a, esta semana, o presidente da Assembleia Geral do Benfica, através do anúncio de medidas legítimas e legais, nomeadamente o pedido para que os adeptos não compareçam nos jogos da equipa fora do Estádio da Luz. Trata-se de uma medida que, a meu ver, só peca por tardia, uma vez que os adeptos do FC Porto e Sporting há décadas que a andam a pôr em prática.

Entretanto, apesar de não ter rigorosamente nada que ver com o que está a acontecer por estes dias no futebol português, houve esta semana no prédio onde vivo uma onda de assaltos, pelo que eu e os meus vizinhos fizemos queixa na polícia. Numa reviravolta inesperada, os condóminos do prédio do lado alegaram que os larápios estavam a sofrer uma pressão insustentável para não roubarem, coitados.

13 setembro 2010

Digno adversário


A euforia da vitória toldou-nos o pensamento. No final da época passada, devíamos ter percebido o que aí vinha. O facto de o Benfica, num ano em que praticou um futebol esmagador, apenas se ter sagrado campeão na última jornada deixava adivinhar o que poderia acontecer se a equipa iniciasse a época só a jogar um futebol muito agradável. Na época passada, o Benfica também atravessou crises gravíssimas, é certo. Lembro-me, por exemplo, de uma jornada em que, já não me lembro porquê, só conseguimos ganhar 3-0. E não foi só dessa vez. A certa altura, comecei a ficar deprimido cada vez que o Benfica goleava pela margem mínima – uma expressão que, por si só, diz tudo sobre o patamar de exigência que se instalou entre os adeptos.

Mas, ontem, enquanto assistia à arbitragem de Olegário, dei por mim a ter saudades de arbitragens habilidosas. Se não, vejamos: como benfiquista, estou psicologicamente preparado para ver a minha equipa ser roubada. Às vezes, penso até que a culpa é nossa. Quem é que manda os atletas do Benfica andarem, sozinhos, num campo de futebol português, à noite? É, no mínimo, imprudente.

Ainda assim, há coisas para as quais, ontem, não estava preparado. Por exemplo, quando um central do Guimarães derruba Pablo Aimar em plena grande área, Olegário dirige-se ao jogador do Benfica e faz o gesto universal de “foi na bola”. E quando Carlos Martins sofre outro penálti, Olegário faz o gesto universal de “levanta-te mas é”. Refiro isto, porque trata-se de mímica vulgarmente praticada por adversários. Mas, vendo bem, foi esse o papel de Olegário ontem: um digno adversário. Resta-nos agora esperar que a equipa reaja nas próximas jornadas, porque até ao fim do campeonato ainda há um complicadíssimo Benfica-Jorge Sousa, e um Pedro Proença-Benfica, que é sempre um jogo de tripla.

04 setembro 2010

O polvo

Decididamente, algo não vai bem na organização do futebol português. Ontem, em pleno jogo contra o Chipre, em que – aí, sim – fazia mesmo falta alguém para acordar os jogadores da nossa Seleção, onde estavam os médicos do controlo antidoping? Seja qual for a explicação, notou-se que a Seleção estava em piloto automático. À semelhança do que já tinha acontecido contra a Espanha, depois de se substituir Hugo Almeida, sofre-se um golo – é automático.

Admito que uma das explicações para o desaire de ontem seja os abandonos de Deco, Simão e Paulo Ferreira. Se bem que, pelo aspeto das bancadas, desconfio que a população portuguesa também está prestes a renunciar à Seleção. No meu entender, seria uma injustiça uma vez que não há país no Mundo que se esforce mais por encontrar novos caminhos para o futebol. Por exemplo, em 86, Portugal tinha quatro selecionadores no banco. Ontem, não tínhamos nenhum. Como estava a cumprir castigo, Carlos Queiroz estava só a assistir, sem qualquer capacidade de decisão nos vários momentos da partida. Nessa medida, não houve muitas diferenças em relação aos jogos do Mundial.

Mas nem tudo é negativo no futebol português. Depois do polvo alemão que adivinhava o resultado das partidas do mundial, podemos estar perante um polvo português que, adivinhando os fracos resultados que Carlos Queiroz iria obter nesta qualificação, decidiu encetar o afastamento do selecionador. É possível que o polvo Amândio não fique atrás do polvo Paul no que diz respeito a perspicácia futebolística.

Apesar do empate, não se pode dizer que ontem tenha sido um dia completamente negativo para o selecionador nacional. Ao pé do juiz que ontem leu o acórdão da Casa Pia, o Carlos Queiroz parece um menino de coro.

31 agosto 2010

SL Bipolar - Por Miguel Góis

Por Miguel Góis in Record

Há umas semanas, fez-me alguma confusão ouvir Rui Oliveira e Costa no “Trio de Ataque” responder à pergunta sobre como tinha assistido à estreia de João Moutinho com a camisola do FC Porto da seguinte maneira: “Eu, nessa matéria, não tenho estados de alma”. É uma resposta política, bem sei. Mas quando os adeptos – e é nessa condição que Rui Oliveira e Costa se encontra no programa – começam a falar como os presidentes dos conselhos fiscais, sinto que se está a deixar de falar de futebol (não deixa de ser curioso, em todo o caso, que o Sporting tenha nesse programa um adepto que fala como um dirigente, e tenha na presidência um dirigente que fala como um adepto).

Eu admito que, no que diz respeito ao futebol, a única coisa que tenho são estados de alma. Quando o meu clube ganha, tenho um estado de alma. Quando perde, tenho, feito parvo, outro estado de alma. Se o Nuno Gomes se transferisse para o FC Porto, era capaz de ter uns quinze ou vinte estados de alma ao mesmo tempo. Numa duvidosa opção, guardo a frieza emocional para matérias como o preenchimento do modelo B do IRS. Se bem que até isso consegue ser, para o meu contabilista, uma montanha-russa de emoções.

Se há coisa com que nós, benfiquistas, não pactuamos no futebol é a temperança. No seguimento das últimas quatro derrotas seguidas do Benfica, comecei outra vez a dormir à noite agarrado a um urso de peluche, e sempre com uma luz de presença. A facilidade com que no Benfica um estado de profundíssima euforia dá lugar a um estado de profundíssima depressão é um dos grandes patrimónios do clube, que deve ser preservado. Por outro lado, é mais fácil manter-se a serenidade em Alvalade e nas Antas, cujos estádios costumam estar às moscas, do que na Luz. Toda a gente sabe que é mais comum instalar-se o pânico onde há multidões.

15 agosto 2010

Previsões - Por Miguel Góis


Por Miguel Góis in Record

É difícil de acreditar, eu sei. Mas ainda não é este ano que prevejo a vitória do FC Porto ou do Sporting no campeonato, por diferentes motivos. Começando pelo FC Porto, não me parece racional defender que só não se venceu o último campeonato devido a interferências exteriores, e logo a seguir despedir o treinador que idealizou performances que por si só chegariam para atingir a glória. Por isso é que André Villas- Boas – só mais um dos vários desmourinhados que inundaram o mercado de treinadores portugueses nos últimos tempos – não devia ter feito referências à época passada na conferência de imprensa que se seguiu ao jogo da Supertaça. Das duas, uma: ou o FC Porto ganhou ao Benfica no último fim-de-semana porque já na época passada era superior, ou foi porque o novo treinador para esta temporada implementou métodos de trabalho tão sofisticados que em poucas semanas de treino superou a qualidade dos adversários. Em princípio, não se pode ter tudo. Que o diga Pinto da Costa, que antes de se contentar com a contratação de Villas-Boas convidou Jorge Jesus e Rui Faria.

Em relação ao Sporting, depois do caso Moutinho, pode finalmente dizer-se que o clube conseguiu implementar a tão desejada “gestão à FC Porto”, no sentido em que a atual política de gestão de José Eduardo Bettencourt também tem como objetivo fortalecer o plantel portista. Mas o que me choca mais não é o FC Porto ir a Alvalade roubar o treinador com quem tinham um pré-contrato, ou o capitão de equipa. O que choca mais é que os sportinguistas dão a outra face. Uma atitude que curiosamente os seus sócios mais distintos não tomam quando alguém lhes dá um beijo num dos lados da cara.