Neste blog utilizo textos e imagens retiradas de diversos sites na web. Se os seus autores tiverem alguma objecção, por favor contactem-me, e retirarei o(s) texto(s) e a(s) imagem(ns) em questão.

24 maio 2013

Além do imediato

Por Pedro Ferreira in Jornal O Benfica

Nós, Benfica, perdemos o campeonato no final e a final da Liga Europa também no final. Para a história e estatística fica a frieza do registo e poucos se recordarão das circunstâncias de tais desfechos. Entre o azar, as falhas próprias e os méritos alheios ficou o testemunho de que a justiça não se compadece com o destino. Testemunhámos também que, para além da frieza dos números, há toda uma envolvência que, de forma estranha e praticamente inaudita, levou a que, mesmo no momento de dois duríssimos golpes, tivéssemos visto milhares e milhares de benfiquistas reagir à adversidade, amparando os seus atletas numa comunhão raramente vista nos momentos de ausência de vitória.

Confundir este amparo aos nossos com falta de exigência ou falta de ambição por parte dos benfiquistas é enviesar a leitura da realidade. Nenhum benfiquista se sentiu minimamente satisfeito com o desfecho da época. Todos os benfiquistas ambicionam muito mais do que o que colhemos da época que agora finda. No entanto, também foi notório que a família benfiquista soube reconhecer o empenho e o mérito do caminho percorrido pelos nossos futebolistas e por Jorge Jesus. Só assim se explica que a esmagadora maioria dos benfiquistas defenda a continuidade do treinador. Isto é muito estranho para a realidade do futebol português. É de tal forma inovador que deveria levar os opinadores que acusam os benfiquistas de falta de ambição a tentar ver para além da miopia do imediato. Se assim o fizessem, perceber-nos-iam, pois, pela primeira vez na história do nosso futebol, vemos uma massa adepta feita de milhões de pessoas a olhar para o futebol para além do óbvio. Ou seja, somos agora acusados por fazermos na prática o que esses teóricos andam a pedinchar há anos: termos cultura futebolística para perceber que o futebol não pode ignorar o resultado, mas que não se esgota nos números do mesmo.

Campeonato Miguel

Por Luís Fialho in Jornal O Benfica
 
Na antevisão à última jornada do Campeonato, tive oportunidade de dizer, na nossa Benfica TV, que para fundamentar a esperança na conquista do título, precisaria de ter a certeza de que nada de anormal se passaria no outro estádio onde se jogavam as grandes decisões. Não foi necessário esperar muito tempo para confirmar os meus piores receios.
 
Aos vinte minutos da partida da Mata Real, o mesmo indivíduo que na temporada passada, em Coimbra, transformara um claríssimo penálti sobre Aimar numa falta contra o Benfica, resolveu, desta vez, transformar um cartão amarelo por simulação de James Rodriguez fora da área, numa grande penalidade a favor do FC Porto, com expulsão do defesa pacense. Percebi, de imediato, que não valia a pena sonhar. A realidade mantinha-se, igual a si mesma, como há já muitos anos nos habituámos a ter de suportar.
 
Concluído o Campeonato, gostava, com sinceridade, de poder atribuir a perda do Título apenas ao mérito do adversário, ao cansaço dos jogadores do Benfica, ou simplesmente ao azar. Porém, ao lembrar-me de Carlos Xistra em Coimbra, de Pedro Proença na Choupana, e, sobretudo, deste Hugo Miguel em Paços de Ferreira, não sinto que o possa fazer. Este, para mim - que também tenho direito a usar alcunhas - ficará na memória como o Campeonato Miguel.
 
Depois de vermos fugir o Título deste modo, depois de perdermos a Liga Europa (essa sim, de forma limpa, honrada, mas meramente infeliz), resta-nos a Taça de Portugal. Não a encaro como um consolo, ou como um prémio menor. Pelo contrário, vejo-a como uma competição importante e bonita, que há muitos anos escapa ao Glorioso, e que quero fervorosamente vencer. Além de que, terminar a temporada com um troféu nas mãos, parece-me ser o mínimo que a justiça pode fazer ao brilhante futebol que a nossa grande equipa apresentou durante meses.
 
Esperemos que desta vez não haja Miguéis a condicionar o jogo, e que a grande festa do Jamor seja limpinha. Pois o Campeonato, depois de tanta conversa, acabou bem sujinho.

23 maio 2013

Uma vitória chochinha, chochinha

Por José António Saraiva in jornal Record 

É uma prova com 16 equipas e 30 jogos – e no fim o campeão é o FC Porto.” Assim se podia definir a Liga portuguesa. 

Aconteça o que acontecer, o Porto é (quase) sempre campeão. O Benfica pode jogar melhor, marcar mais golos, ter um futebol mais entusiasmante, mas não serve de nada. 

Na véspera do jogo com o Estoril, o treinador portista tinha dito que o Benfica ganharia “de qualquer maneira”. Afinal foi o Porto a ganhar de qualquer maneira em Paços de Ferreira. De um erro clamoroso do árbitro à passividade da equipa da casa, viu-se de tudo na capital do móvel. “Ou vai ou racha”, é o lema do Dragão. 

Que diferença entre o Estoril que empatou na Luz e o Paços de domingo passado! Uns pareciam ter tomado cafés duplos, corriam endiabrados, os outros pareciam encharcados em Xanax. 

De todos os modos, pode dizer-se que esta época acrescentou prestígio ao Benfica, que brilhou nacional e internacionalmente, e não trouxe quase nada ao FC Porto. A prova disso é que o Benfica quer conservar o treinador, mesmo perdendo, e o Porto quer despedi-lo, mesmo ganhando. Sente-se que o Benfica está em crescendo e o Porto em declínio. Matic e Lucho ilustram esta verdade: um evoluiu e mostra-se pujante, o outro é um talento já cansado. 

Esta vitória do Porto no campeonato faz lembrar o título de Trapattoni no Benfica: os portistas festejaram mas não gostarão de recordar esta época. Foi um êxito envergonhado. Uma vitória chochinha, chochinha. 

Agora, para a época terminar “em beleza” para o Benfica, só faltava perder a Taça de Portugal no minuto 90+2.

22 maio 2013

As vitorias e os negócios


Por Carlos Daniel in Diario de Noticias

E o vencedor é...Vítor Pereira. Ganhou por ter a equipa mais consistente e por nunca ter desistido, antes resistido até ao limite e quando tudo prenunciava fracasso. E mais ainda por ter apostado na identidade da equipa como resposta à saída de Hulk, o jogador mais determinante dos campeonatos anteriores. Com os pseudorreforços que lhe deram em janeiro não dava para muito mais na Europa, pelo que ganhou o mais importante que tinha ao alcance. E pela segunda vez, e sem derrotas. Outros - Mourinho, Villas Boas - fizeram melhor, mas ele fez bem e provou que é competente. Quantos o negaram e hoje mordem a língua?
Jorge Jesus é o maior derrotado, mesmo se a época esteve longe de ser má. Num primeiro ano no clube até seria honroso e promissor o que conseguiu: lutar pelo título até ao fim e chegar às finais da Liga Europa (mesmo desprezando a prova) e da Taça de Portugal. Ao quarto ano é curto, e a derrota no campeonato, com a meta à vista e repetindo os erros anteriores (má gestão do grupo e deficientes definição e comunicação de objetivos), é pouco menos que inaceitável. Passado este tempo, Jesus mantém todas as qualidades, e são muitas. O problema é que mantém também os defeitos todos.
Curioso é o facto de o treinador que ganhou poder partir, sem que ninguém exiba um só cartaz na bancada do Dragão a pedir "Vítor fica!", e o que perdeu surja como o redentor indispensável aos olhos de um estádio que na hora da derrota continua a gritar "Glorioso SLB", como se da orquestra do Titanic se tratasse. Em grande parte, os clubes são os seus adeptos, e é a cultura de cada um que aqui se espelha: habituados a grandes vitórias, os do FC Porto são exigentes ao máximo e não se satisfazem em reinar internamente; os do Benfica vivem os traumas de quando os campeonatos acabavam em dezembro e têm o grau de exigência ao nível da indigência. Os do FC Porto consideram que ganham com qualquer um como ganharam com Vítor Pereira. Os do Benfica consideram que só Jorge Jesus lhes permite perder com tanta honra.
Não é só um problema de adeptos, que são diferentes construções de identidade dos próprios clubes: o FC Porto quer sempre ser o melhor, acabar em primeiro, a qualquer custo; o Benfica satisfaz-se em ser o "maior", em número de sócios, nas audiências, nas receitas. Em Janeiro, o FC Porto contrata jogadores, e se não melhora a equipa pelo menos demonstra ambição; já o Benfica dispensa jogadores e não preenche as lacunas evidentes no plantel. Nos últimos anos, e sem tirar mérito à boa gestão de Luís Filipe Vieira (que tem dado ao treinador um plantel que permite lutar com o rival), há uma diferença que resume tudo e explica muito: o negócio do FC Porto são as vitórias e as vitórias do Benfica são os negócios.

01 novembro 2012

Um fiscal de linha de fora dos prémios

Crónicas de Leonor Pinhão, in A Bola

Bem faria Maicon em dividir o Dragão de Ouro com o fiscal de linha Ricardo Santos, em sinal de respeito pela justiça e pelos direitos de autor ficava cada um com metade do troféu
QUALQUER centrocampista que entrasse agora na equipa do Benfica arriscava-se a ser considerado genial. Foi isto o que tive de ouvir assim que André Gomes marcou o terceiro dos três golos com que o Benfica venceu tranquilamente o Gil Vicente e o seu segundo golo nos dois jogos consecutivos em que alinhou pela equipa principal: em Freamunde, para a Taça de Portugal, e em Barcelos, para o campeonato.
Entende-se o remoque. O Benfica andou a jogar com falta de material no meio do campo desde que Javi Garcia e Axel Witsel se foram embora e desde que Carlos Martins e Pablo Aimar encostaram no estaleiro. Foram muitos jogos assim. Com Matic a desdobrar-se em vários papéis e com Enzo Pérez às aranhas tentando segurar toda uma zona vastíssima que não é genuinamente a sua.
Talvez um dia, mais tarde - e era bom que assim acontecesse - venha André Gomes, já feito uma vedeta do panorama internacional, recordar que teve as suas primeiras oportunidades no Benfica beneficiando de um momento raro de sorte na carreira de um jovem talento nacional sem espaço para se afirmar.
-Tive a sorte de estar no Benfica quando a equipa perdeu todos os seus centrocampistas de uma penada! - poderá dizer um dia, quem sabe?
A verdade é que André Gomes beneficiou do agravamento dessas circunstâncias e agarrou muitíssimo bem as duas oportunidades que lhe foram concedidas por Jorge Jesus. Os factos do presente provam até que o jovem Gomes, que tem 19 anos, nem sequer precisou de «tempo de adaptação». Entrou e fez logo dois golos, um em cada jogo. O que se pode pedir mais a um miúdo?
LUÍS FILIPE VIEIRA vai ser o presidente do Benfica nos próximos quatro anos e estabeleceu para si próprio uma agenda ambiciosa no plano desportivo e no plano político.
Pode-se dizer que a agenda desportiva do presidente do Benfica - 3 campeonatos, 1 final europeia e 50 títulos nas modalidades - não causou qualquer tipo de apreensão ao rival FC Porto. O dragão não vê motivos para descrer da longevidade dos princípios que lhe têm garantido o domínio no campo dos resultados.
Sem a ironia do costume (não sei se repararam...), o presidente do FC Porto limitou-se a dizer que não queria comentar as promessas do presidente do Benfica porque não era pessoa de fazer promessas. O que não é bem verdade. Ainda há coisa de três anos ouvimos Pinto da Costa prometer um título a José Maria Pedroto e, mais recentemente, ouvimo-lo garantir que Hulk não sairia do clube por valores abaixo da cláusula de rescisão de 100 milhões de euros.
Também para Maicon as promessas de sucesso desportivo do presidente do Benfica pouco ou nenhum significado têm. O jogador brasileiro foi agraciado na noite de segunda-feira com um Dragão de Ouro por ter sido considerado o «futebolista do ano», distinção que só se justifica, num ano em que Hulk foi rei e senhor, pelo facto de Maicon ter marcado ao Benfica aquele golo que lançou o FC Porto para a revalidação do título. E se a razão foi essa, como parece, bem faria Maicon em dividir o Dragão de Ouro com o fiscal-de-linha Ricardo Santos, em sinal de respeito pela justiça e pelos direitos de autor ficava cada um com metade do troféu.
Maicon também se pronunciou sobre a tal promessa de Vieira dos 3 campeonatos em 4 anos sem se mostrar impressionado. Disse o jogador que, pela parte dele, iria fazer tudo para ajudar o FC Porto a ganhar 4 campeonatos em 4 anos, o que faz todo o sentido.
A agenda política de Vieira não viria, no entanto, a suscitar qualquer tipo de reacção por parte dos rivais. O presidente do Benfica anunciou a 48 horas da sua reeleição que o contracto de concessão de direitos televisivos com a Olivedesportos não iria ser renovado. Esta vai ser uma questão fulcral do mandato de Vieira. Os benfiquistas e os outros todos que não são benfiquistas aguardam com muito interesse pela evolução deste extraordinário acontecimento. E sobre o assunto o silêncio já pesa. Aguardemos.
O ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas foi um dos convidados da gala dos Dragões de Ouro. Lá esteve sentado na primeira fila da plateia, em lugar de destaque entre a nomenclatura, aparentado boa disposição. Pode pôr mais esta no seu currículo.
Falta só saber quantas equivalências para licenciatura, no curso superior, ganhou Miguel Relvas com a sua presença atenta no Coliseu do Porto. E já agora, falta saber o nome do curso.
RESPEITEM-SE sempre os critérios dos árbitros, mas a expulsão de Enzo Pérez em Barcelos não cabe na cabeça de ninguém. Nem meio-cartão amarelo fizeram por merecer as duas faltas que somadas haveriam de ditar a expulsão do extremo argentino. Ou do médio argentino, como preferirem.
O Benfica já ganhava por 3-0 e da decisão do árbitro não veio mal ao mundo, ainda bem. Menos um mau assunto para as discussões. E mais mais uma vez ressaltou a grande evidência: se o Benfica resolver em campo, em bom tempo e com golos os problemas com os adversários, difícil será que venha um árbitro com critérios ou sem critérios estragar-lhe o jogo e o resultado.
No fundo, trata-se de jogar à bola.
NA época passada, o Benfica foi eliminado de maneira muito parva e displicente da Taça de Portugal perdendo com o Marítimo, um jogo em que ganhava ao intervalo, logo nas primeiras andadas da prova. Que não se repita a brincadeira agora no jogo com o Moreirense, é o que todos os benfiquistas desejam.
A Taça de Portugal é uma competição muito bonita e antiga, obrigatória de respeitar. Foi difícil não detectar, na segunda-feira, a onda absurda de optimismo que varreu os espíritos dos nossos adeptos assim que se soube ser o Moreirense o próximo adversário do Benfica na corrente edição da Taça de Portugal.
Estou contra. A ideia peregrina de que o Moreirense que eliminou o Sporting será uma presa fácil para o Benfica «porque sim» está instalada entre os das nossas cores. Desenganem-se. Ao contrário do que se possa pensar, em prol do prazer puro e mesquinho da rivalidade, o Benfica não vai entrar em Moreira de Cónegos já a ganhar o jogo só porque o Sporting lá se perdeu na mesma prova.
Este ano gostava de ir ao Jamor.
LÊ-SE nos jornais que o presidente do Sporting, no âmbito das medidas de reestruturação que está a tomar, convidou Luís Figo (esse mesmo!) para ingressar no clube de modo a poder atrair com o seu nome os capitais dos investidores que fazem tanta falta em Alvalade e um pouco por toda a parte. Noutros jornais lê-se que o convite feito a Luís Figo vai no sentido da colaboração do ex-jogador com o projecto de expansão internacional da Academia do Sporting.
Nada leva a crer que Figo não fosse de grande utilidade para o Sporting quer numa área quer na outra. De todo o universo do Sporting, Luís Figo, hoje um reputado dirigente do poderoso Inter Milão, é, sem qualquer espécie de dúvida, o único rosto carismático leonino em acção que garante o respeito devido a uma enorme figura nacional e internacional.
Melhor ideia do que esta ideia que o presidente Godinho Lopes teve ao convidar Figo para atrair capital ou para formar jovens talvez fosse convidá-lo para presidente. Ou não?

17 agosto 2012

Ao Benfica faz muita falta o Benfica

Crónicas de Leonor Pinhão, in A Bola

Quando vi o árbitro Fischer esvanecido sobre a relva fresca, com os braços deitados para trás, o que sem dúvida o fazia parecer mais alto, e com as pernas ainda no ar, como se o resto do corpo as tivesse displicentemente abandonado, lembrei-me de uma ópera italiana antiga de que gosto muito.
Conta-se em poucas palavras o final do III e último acto:
A heroína, iludida pelo vilão aldrabão, assiste ao fuzilamento do amante julgando que se trata de um simulacro que jogará em favor das suas pretensões românticas. Vendo-o tombar, nem pestaneja na ilusão de que o amante está vivo e a fingir. “Ecco un’artista!”, - eis um artista! - diz, cem por cento confiante na sua sorte e muitíssimo orgulhosa do jeito para a representação exibido pelo amante.
Bem enganada estava no entanto. O homem jazia morto e não havia volta a dar-lhe. È por causa destas reviravoltas inesperadas no enredo que a ópera antiga italiana ainda hoje arrasta multidões tal como sucede com o futebol moderno e pelas mesmíssimas razões.
Como árbitro Christian Fischer é muito mau. Foi-se ao Maxi Pereira à cotovelada, depois acobardou-se e não expulsou, como devia, Javi Garcia e Luisão. Abdicou da sua autoridade. Como artista, o árbitro é péssimo. Com aquela queda para o exagero não conseguiu convencer ninguém de que estava morto. Depois fez o que lhe competia no final da cena atribulada que lhe correu tão desconchavadamente: uma saída de fininho, pelo seu pé, obviamente, com juras de nunca mais voltar a pisar o palco.
O árbitro Fischer caiu mal, rezou a crítica sem deixar de apontar a Luisão a culpa pelo sucedido. E cair mal pode estragar uma cena inteira. Por exemplo, na tal ópera italiana antiga, lá para meio do III acto, a heroína dá-se ao trabalho de ensaiar com o amante o modo como este deve tombar fingindo-se de morto assim que a primeira descarga de pólvora seca se fizer ouvir. “E cai bem!”, diz-lhe. É uma indicação cénica preciosa.
E eis como o imprevisto final da “Tosca” tanto me fez lembrar o surpreendente final do Fortuna de Dusseldorf-Benfica.
*
O presidente do Fortuna de Dusseldorf exige que o Benfica devolva o dinheiro do “cachet” cobrado por 39 minutos de jogo tendo em conta que os jogos têm 90 minutos e foi para isso mesmo que o público pagou bilhete.
O árbitro diz que não voltou ao jogo porque ninguém do Benfica lhe pediu desculpa, nem nos balneários, depois do incidente com Luisão que descreve desta maneira: “foi como se tivesse batido contra uma parede.”
Se tivesse dito o contrário: que tinha sido como se uma parede tivesse batido nele, seria bem pior para a imagem de Luisão e do Benfica.
Luisão (ou “a parede”, como preferirem) já não é uma criança, é um jogador experimentado, internacional brasileiro, deve saber, com certeza, que os jogadores não podem tocar no árbitro nem como uma flor. Foi imprevidente e singularmente apatetada a maneira como correu para abordar o árbitro depois do lance que ditaria a expulsão inevitável de Javi Garcia.
Se o quebranto dramático do árbitro Fischer foi ridículo, não foi, no entanto, suficientemente patético para absolver a “parede” nem, muito menos, para atenuar a mediocridade, essa sim, flagrante, da reacção oficial do Benfica ao caso tratado como simples brincadeira logo ali no relvado, no meio de uma risota que revela, de forma espampanante, uma total inconsciência geral e, pior ainda, o menosprezo por uma situação que vai ser cobrada ao Benfica por muito tempo e à má fila.
Quando o árbitro recolheu ao camarim, as câmaras demoraram-se a focar o banco do Benfica e alguns jogadores avulso e pode-se dizer, com toda a justiça, que mais pareciam um grupo juvenil de estudantes em férias da Páscoa a gozar o pratinho de uma pequena delinquência cometida numa excursão ao estrangeiro.
E é precisamente isto que é inacreditável no caso Luisão, A Parede: a deprimente ausência de um dirigente do Benfica e à Benfica que fosse mais rápido a compreender o alcance da situação do que o árbitro Fischer a atirar-se para o chão.
Um dirigente do Benfica e à Benfica teria sabido assumir o erro do seu jogador mas não teria deixado passar em claro o não menos inusitado e despropositado encosto do árbitro Fischer a Maxi Pereira, segundos antes do peito-a-peito Luisão-Fischer.
Não vejam nisto um remoque a António Carraça porque não é.
Carraça lá terá as suas funções, certamente importantes junto da equipa de futebol, o que se respeita. É um simples funcionário do clube onde não nasceu.
Mas não tem a dimensão de grandes dirigentes e de grandes benfiquistas que se sentaram no banco com a equipa de futebol, não sabe, não faz a mínima ideia de como é que se resolve um problema deste no minuto em que acontece de modo a prevenir futuros aborrecimentos ao Benfica que é quem está em causa, muito mais do que o Luisão ou o árbitro apalhaçado.
Comecemos pela questão financeira, que devia ter saltado logo aos olhos: se o clube se acha no direito de não devolver o “cachet” então a equipa do Benfica não podia ter abandonado o campo de jogo tão alegremente.
Poderia sair o árbitro, poderia recolher ao balneário a equipa adversária, mas a equipa do Benfica deveria ter ficado em campo à espera do reatamento do jogo particular para que foi contratada.
E ficando, na pior das hipóteses, sozinha a equipa em campo, sem árbitro e sem adversário, dificilmente poderiam vir os alemães exigir ao Benfica compensações financeiras pelo fim prematuro do jogo que foi abandonado pelas duas outras partes. Feito o mal, que bem ficaria o Benfica em campo, sujeitando-se a disputar o resto do jogo só com 9 jogadores, assumindo de caras os comportamentos irregulares de Javi Garcia e de Luisão, afastados do jogo pela justiça interna do clube que é um dos maiores do mundo e não recebe lições de moral nem de delinquentes nacionais nem de estrangeiros.
O pedido de desculpa ao árbitro seria também fundamental. Era só esperar que ele abrisse um olho, o que nem tardou muito.
A gestão do episódio nos balneários é desconhecida do grande público e, provavelmente, nem existiu. E em que língua terá ocorrido, se ocorreu, constitui também grande dúvida.
O silêncio oficial e oficioso sobre tudo isto nas primeiras 24 horas consentiu, por desleixo, no crescimento de um monstrozinho.
Há quem lamente, neste arranque de época, a falta que faz ao Benfica um defesa-esquerdo ou um jogador de vai-vem à semelhança do fabuloso Ramires ou mesmo a falta de um goleador menos monocórdico do que Cardozo. Mas o que ficou à vista de todos na jornada triste de Dusseldorf foi outro género em falta: Benfica e senso político.
O Benfica sofre de défice de… Benfica. Que pena.
* Mais um caso flagrante de falta de Benfica e de senso político no Benfica. Bem mais triste do que o episódio de Dusseldorf é o episódio de Maputo, menos ventilado nos jornais e ainda bem porque é coisa que envergonha os benfiquistas.
O FC Porto anunciou uma parceria com a Academia Mário Coluna e, de acordo com a notícia de “A Bola”, passará a ter “preferência sobre os jogadores formados naquele projecto liderado pelo antigo capitão do Benfica”.
É caso para perguntar: onde é que anda o Benfica?
Será que acabou?

28 maio 2012

O 'fair-play'

Crónicas de João Bonzinho, in A Bola, 

Mal por mal não teria sido melhor apagar a luz e deixar que toda a gente fosse em paz para casa?...
O dedo em riste, o olhar furioso, a pose descontrolada, a agressividade da cabeça perdida, a voz trémula, o tom irritado, o confronto com as forças policiais, enfim, um quadro negativo e surpreendente - há muito que não se via a imagem dada esta quarta-feira pelo presidente do FC Porto em pleno recinto do pavilhão do clube, depois da equipa portista perder para o rival Benfica o título nacional de basquetebol e após os jogadores adversários serem corridos para o balneário.
No final da década de 80, mas sobretudo na primeira metade da década de 90, eram relativamente vulgares as reacções do presidente do FC Porto que voltaram a ver-se, agora, no final de um jogo de basquetebol. Essas reacções do líder portista foram desaparecendo à medida que as equipas do FC Porto - de futebol e não só - foram tornando mais normais os ciclos de vitórias. Claro: quanto maior o sucesso menor a irritação.
Para conseguir vencer, o presidente do FC Porto e os seus principais seguidores foram sempre capazes de quase tudo. De ameaças, pressões, insultos, agressões, de trinta por uma linha; depois, com as vitórias e os títulos, os nervos foram dando lugar a uma euforia cada vez mais tranquila e o presidente portista quase chegou a parecer uma estrela da diplomacia.
Para trás, ficavam anos de agitação quase permanente, instabilidade sucessiva, pressão constante, agressividade latente. Impossível não recordar jogos como o FC Porto-Benfica que ditou o título de 1991 para os encarnados, ou como se tornaram relativamente célebres partidas dos portistas em campos como os do Estrela da Amadora, do Tirsense, do Farense ou do Belenenses, para citar apenas casos em que o ambiente (em especial nalguns daqueles jogos) chegou a tornar-se verdadeiramente explosivo.
Bem me recordo deles.
Os anos passaram e a coisa acalmou. O FC Porto passou a ganhar mais do que os outros. Muito mais. E aparentemente deixou de ser necessária aquela atmosfera doentia que parecia rodear as comitivas do FC Porto sempre que se aproximava os momentos decisivos da competição.
Fosse ela qual fosse.
O lamentável espectáculo visto no pavilhão portista esta quarta-feira levou-nos assim a um deplorável baú de recordações. Não, evidentemente, pela atitude dos adeptos, porque negativas atitudes de adeptos há em todo o lado, em todos os clubes e em todos os países, mas pelo comportamento dos mais altos responsáveis do FC Porto, do mais impulsivo, alterado e agressivo presidente, até ao  mais fleumático, sereno e calmo administrador, como é o caso de Angelino Ferreira, invulgarmente atirado para aquela arena de gladiadores em que parece ter-se transformado, subitamente, o recinto do magnifico pavilhão do clube azul e branco, curiosamente incapaz nos últimos largos anos de celebrar no basquetebol o que tem festejado, por exemplo, no futebol, andebol ou hóquei em patins.
Neste tipo de modalidades colectivas de pavilhão, sobretudo quando estão frente a frente equipas de clubes tão triviais como são hoje o FC Porto e Benfica, é mais ou menos previsível a tensão entre adeptos, os maus comportamentos, até as inqualificáveis e lamentáveis agressões, que muitas vezes chegam a vitimar atletas, como também já aconteceu na Luz, especialmente quando o jogo, por qualquer razão, é decisivo, como era o caso esta quarta-feira.
O caso, porém, voltou desta vez a ganhar uma inacreditável dimensão e a revelar o pior lado de dirigentes cujo verniz nunca deixou verdadeiramente de estalar e cuja história no futebol português está longe, muito longe mesmo, de ser feita apenas de sucessos, bons exemplos e fair-play.
A mim, confesso que nada do que se viu quarta-feira me surpreendeu. Lamentável e vergonhoso.
Não me surpreendeu porque, entre outras coisas, tenho memória.
Mal por mal, não teria sido melhor apagar a luz e deixar que toda a gente fosse em paz para casa?
Teria.
Muito melhor!
PS:A morte do antigo dirigente do Sporting, Manolo Vidal, leva-nos mais um pedaço da história boa do futebol em Portugal, da história boa dos dirigentes com categoria, da história boa das pessoas boas. Felizmente, histórias como as da festa da Académica no Jamor ajudam, pelo menos, a manter viva a memória das boas histórias de gente boa como o Manolo Vidal.

27 maio 2012

Saudades de Abel

Crónicas de Daniel Oliveira, in Record, 

A final entre o Sporting e a Académica acabou em festa. Festa em Coimbra, claro está. Como muitos sportinguistas, senti-me frustrado. Haveria, na minha expectativa, alguma soberba. Talvez a mesma que levou o Sporting à derrota. Ainda assim, ninguém roubou aquele dia à Académica. Porque tem sido essa, com raríssimas exceções que critiquei, a cultura do Sporting.

Na mesma semana, o FC Porto perdeu o título de basquetebol. E bastou essa derrota e umas palavras menos agradáveis do treinador benfiquista para que o pavilhão Dragão Caixa se transformasse em cenário de guerra campal. Perante isto, o que fez Pinto da Costa? Pôs-se, como faz sempre, do lado da violência. Indignado por a polícia ter impedindo que os jogadores do Benfica fossem atacados pela multidão em fúria, dirigiu às forças da ordem a sua ira de mau perdedor. Compreendo que tenha saudades do guarda Abel e da conivência das forças de segurança com a sua falta de escrúpulos. Compreendo que ameaças sobre jornalistas seja a ideia que tem do que deve ser a segurança pública. Entendo, por isso, a sua estupefação por a polícia ter defendido os jogadores em risco.

Já aqui deixei várias vezes nota de qual é o meu problema com o FCP. Não é com o clube, o melhor, há alguns anos, no futebol nacional. Não é com a cidade, de que gosto muito. Não é seguramente qualquer simpatia pelo Benfica (que também já fez gracinhas destas). É o facto de este senhor, ao mesmo tempo que, com toda a legitimidade, levava o Porto para o topo do futebol nacional, ter transformado o ambiente no desporto profissional numa coisa irrespirável. O papel de Pinto da Costa no episódio de quarta-feira, que obrigou os novos campeões a receberem a taça no balneário, é apenas mais um triste exemplo da falta de classe deste dirigente.

26 maio 2012

Campeões olé! Campeões ali!

Crónicas de Sílvio Cervan, in A Bola, 

Em primeiro lugar, e para registo de interesses, eu sou contra a escolha de Carlos Lisboa para treinador de basquetebol do Benfica. Carlos Lisboa está na categoria de ídolo nas hostes benfiquistas, não pode estar sujeito ao escrutínio dos mundanos.
Carlos Lisboa é, com José Maria Nicolau, o maior ídolo do universo benfiquista extra futebol, e por isso devia ser poupado às críticas do quotidiano.
Os seus triplos e exibições contra o Macabi de Telavive ou o Real Madrid, a vitória fora contra o Juventude de Badalona fazem parte do museu de memórias da minha geração. Títulos e taças em catadupa, fazem parte do imaginário colectivo vermelho e branco: dez em 11 anos (1984-1995).
Por essa razão, porque os deuses se querem no Olimpo, eu poupava os nossos à convivência mundana de adeptos como eu.
Mas atento a que a sua opção, foi viver connosco neste mundo, então que seja assim. Assim como, perguntam os leitores? Em provocação dirão os adversários, com razão. Podendo ser campeão em casa, no seu pavilhão, no recato dos seus, porque optou Carlos Lisboa por ir ganhar, sem espinhas, ao terreno do adversário?
O pavilhão que bateu recorde de assistência para ver... Carlos Lisboa ser campeão. 2237 espectadores, todos unidos numa vontade, foram provocatoriamente desrespeitados por um cinco de basquete vermelho e branco, e um Carlos Lisboa.
Se tal fosse por si só de pouca monta, já vinha o staff com as t-shirts preparadas para festejar o 23.º título. Como sabiam que iam ser campeões? Coisa de deuses, dirão os mais conhecedores.
O título de basquetebol de quarta-feira foi mais que um campeonato, para uns e outros, foi o sabor de uma época e o estado de espírito dos próximos tempos.
Parece, que de premeio é suposto dizermos Olá John, mas a mim só me apetece dizer: Obrigado Carlos!

O inimigo e o rival

António Pedro Vasconcelos, in Record

1. Pinto da Costa anda tão aliviado com a vitória num campeonato em que o seu clube foi despudoradamente ajudado dentro e fora das quatro linhas (o árbitro principal está dentro do campo, mas os auxiliares estão fora), e tão abatido com a falta de entusiasmo que a equipa e o treinador suscitam nos adeptos, que se sente obrigado a inventar todas as semanas uma nova facécia, um insulto soez dirigido ao clube da capital que, de há três anos para cá, já não o deixa dormir descansado.
Com a aura de impunidade de que se rodeou, PC voltou à carga, desta vez para fazer um trocadilho com o famoso adágio popular que diz que “vozes de burro não chegam ao céu”, assegurando que “vozes de burro não chegam à UEFA”. O chefe do FCP referia-se ao facto de Pedro Proença, árbitro que ele venera e protege (se há uma qualidade que não se pode negar-lhe é ser reconhecido com os amigos), ter sido nomeado para arbitrar a final da Champions, o que provaria o infundado das acusações de parcialidade sempre que este árbitro internacional apita jogos do Benfica.
Este dichote merece reflexão. Que “vozes de burro não chegam ao céu” sabemos há muito, desde que PC prometeu o campeonato de 2009/10 ao seu amigo Pedroto e Deus não lhe deu ouvidos. Também sabemos as vozes que o país inteiro ouviu nas escutas do Apito Dourado não chegaram onde deviam. Mas a afirmação de PC deve-lhe ser devolvida: o que leva um árbitro internacional a fazer arbitragens tão descaradamente tendenciosas sempre que apita jogos do Benfica?
2. O que mais pode acontecer ao Sporting? Depois do caso Pereira Cristóvão, que ainda ensombra a direção, depois da desastrosa contratação de Domingos (o roupeiro Paulinho vem agora declarar que nunca mais lhe apertaria a mão), Sá Pinto acabou por revelar as suas limitações como treinador: na tática, na motivação, na histeria com que viveu o jogo, na forma como descartou responsabilidades no final. A perda da Taça foi um golpe fatal num clube histórico que vive tempos difíceis. A venda do lateral-direito da Seleção Nacional a preço de saldo não será um triste sinal do descalabro?