Por Ricardo Araújo Pereira in A Bola
Sendo o Algarve praticamente solo inglês, tenho expectativas mais ou menos elevadas para a final da Taça da Liga. Todos sabemos o que acontece ao Porto quando tem de jogar em Inglaterra contra equipas que vestem de vermelho e branco. Provavelmente por isso, a Liga tomou medidas com o intuito de equilibrar o desafio: a nomeação de Jorge Sousa é um sinal claro de que se pretende um jogo bastante nivelado. Que diriam os portistas se um antigo elemento dos No Name Boys fosse nomeado para arbitrar uma final entre Benfica e Porto? Haveria certamente vigílias lacrimejantes e pungentes comunicados. Que dizem os benfiquistas quando Jorge Sousa é nomeado para arbitrar o jogo de amanhã? Encolhem os ombros. E dizem que o jogo de Marselha, com a arbitragem que teve, foi um bom treino para esta final. É assim que se chama público aos estádios: a maior parte dos Super Dragões vai assistir à partida na bancada, mas um deles terá o privilégio de ver o jogo mesmo no relvado. Ninguém pode acusar a Liga de não saber promover o espectáculo — que terá, aliás, outros motivos de interesse. Depois das escaramuças com José Lima, no intervalo do Sporting-Porto, e com Vilas Boas, no intervalo do Académica-Porto, com quem irá desentender-se o treinador-adjunto José Gomes no intervalo da final? Como é que os stewards da Luz conseguirão provocá-lo de forma infame a 300 quilómetros de distância? Quantos jogos de suspensão serão aplicados aos jogadores do Benfica que não agredirem ninguém, como aconteceu com Cardozo no Braga-Benfica (arbitrado por Jorge Sousa)? Tal como sucedeu no ano passado, irá algum portista sugerir que o Porto perca o jogo por falta de comparência, ou esta época já lhes apetece disputar este troféu? Que inquietação.
Foi uma excelente quinta-feira europeia para os portugueses: o Benfica passou aos quartos-de-final da Liga Europa e Simão Sabrosa também. Aconteceu, em todo o caso, um episódio triste: por uma daquelas coincidências inexplicáveis, dois dias depois de Salema Garção ter instigado os adeptos do Sporting a criarem um ambiente hostil ao Atlético de Madrid, vários sportinguistas apedrejaram os adeptos espanhóis. Quem diria? No entanto, tenho a certeza de que as pedras foram trazidas de Alcochete por sócios do Benfica, os mesmos que, naquele jogo decisivo do campeonato de juniores, atiraram pedras aos inocentes sportinguistas que nunca tinham visto um paralelepípedo na vida. Entretanto, Costinha parece ser o director desportivo de que o Sporting precisava: Sá Pinto tentou expulsar Liedson do clube e não foi capaz, mas Costinha mostrou mais talento e, ao que parece, conseguiu mesmo afastar definitivamente Izmailov. A generalidade dos directores desportivos tem a responsabilidade de recrutar jogadores para a equipa que dirige; no Sporting, compete ao titular do cargo expulsar os que lá estão. É, sem dúvida, um clube diferente.
Que azar teve o Marselha: no espaço de uma semana passou de equipa que, finalmente, mostrou ao Benfica o que era ter pela frente um adversário a sério, com excelentes jogadores de nível mundial, a equipa composta por coxos que, afinal, qualquer um eliminava. Quanto aos benfiquistas, apesar da liderança do campeonato, do melhor ataque, da melhor defesa, do melhor marcador e dos quartos-de-final da Liga Europa, continuam a não embandeirar em arco. Quem quiser saber o que é embandeirar em arco, leia o que se escreveu na semana em que o terceiro classificado ganhou ao Arsenal em casa com um frango e um golo à chico-esperto. Euforia ridícula é aquilo, como os factos viriam a demonstrar com alguma dureza.
3 comentários:
Dá-lhe RAP!!!
sempre excelente!
Muito bem observado...mas realmente é tudo verdade...
não há mais nada a dizer...está tudo dito!
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