NOS últimos dias, a questão do centralismo tem regressado à discussão pública. Há mesmo quem assinale, com veemência, que nunca, como agora, se notou tanto centralismo em Lisboa. Não me parece, porém, que se possa atacar o centralismo do País sem a coerência de admitirmos que este se tem tornado, cada vez mais, um País bicéfalo e, por isso, bicentralizado.
É verdade que Lisboa continua a ser uma capital centralizadora no País; tal como é, agora, evidente que o Porto seja, e cada vez mais, uma capital centralizadora do norte de Portugal. Esta é, aliás, uma realidade que se tornou mais concreta e mais efectiva, desde que Coimbra foi perdendo a influência universitária e até cultural que chegou a evidenciar até ao último terço do século XX.
O centralismo sempre foi uma característica de países menos desenvolvidos e, por isso, estamos de acordo, deve ser combatido, porque atrasa o desenvolvimento económico, social, cultural, e, também, desportivo das regiões.
Não foi, de resto, por acaso que Portugal se mostrou também desportivamente mais centralizador no tempo da ditadura, altura em que Benfica, Sporting e Belenenses dominavam o universo desportivo nacional e, muito especialmente, o futebol. O centralismo era, então, além de uma consequência social, uma opção obviamente política.
O 25 de Abril prometeu descentralizar mais o País e corresponder a um imperativo de desenvolvimento nacional capaz de privilegiar as regiões mais desfavorecidas, especialmente, as do interior e as ilhas, sempre em desvantagem em relação a um continente litoral mais protegido. Não se pode dizer que tenha falhado totalmente esse desígnio, e só quem não viveu o País secularmente atrasado de então poderia cometer tal erro, mas ficou longe do desejável.
Lisboa e Porto continuaram a marcar a sua centralidade ao longo dos anos e, hoje, se é verdade que Lisboa continua a ser mais do que um centro político do País, não deixa de ser verdade que o Porto se afirma como o grande centro de todo o norte, guardando e desenvolvendo um poder que, claramente, dificulta a vontade e a capacidade de afirmação das regiões a norte.
A questão interessante é a de saber se aqueles que, do Porto, reclamam a descentralização e a diminuição de poderes da capital estão, eles próprios, disponíveis para abrir mão do poder centralizador da sua cidade. Nomeadamente, o poder desportivo, o que poderia tornar mais viável que clubes como o Sp. Braga ou o V. Guimarães pudessem, enfim, ter a veleidade de lutarem para serem campeões nacionais, sem correrem, ao mesmo tempo, esse risco mortal da desproporcionalidade da dimensão, que afundou o Boavista.
NOTA FINAL: Foi importante ver que o País não esqueceu José Maria Pedroto e impressionou-me, positivamente, o facto de Pinto da Costa ter anunciado que o FC Porto se prepara para ser pentacampeão e oferecer este campeonato ao seu mestre histórico. Mesmo assim, tenho de reconhecer, esperava que Pinto da Costa tivesse sido mais arrojado e tivesse proposto o nome de Pedroto para o Estádio do Dragão. Não entendo, sequer, porque não o fez, tirando partido deste momento ideal.
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