O que existe antes dos golos
Por Luís Freitas Lobo in expresso.pt
Goleadas. Como nasce um golo? O segredo não está quando os jogadores têm a bola, mas como todos a querem recuperar quando a perdem.
Existem diferentes formas de perceber o estado de espírito de uma equipa. A mais importante, em campo, é ver o comportamento dos jogadores quando a equipa fica sem a bola. É o momento em que outros valores, para além dos individuais, emergem no jogo. Nessa altura, é a luta pela sobrevivência táctica que está em causa.
É comum, nessa altura, ver jogadores a passo. Quando pouco antes corriam, de braço no ar, a pedir a bola, o passe do colega. As melhores equipas, no plano da 'solidariedade táctica' são feitas na proporção directa do maior número de jogadores que, nesses momentos, quer recuperar a bola e luta por ela. É um trabalho que não traz a glória individual da finta ou do remate. É, antes, um trabalho invisível, operário, que proporciona, depois, a outros, à Equipa (assim mesmo, com 'E' grande), entrar no jogo. E criar na direcção à baliza.
O Benfica de Jesus tornou-se na actual 'Meca' adorada da análise futebolística portuguesa. Faz sentido. As goleadas são o principal ponto de assombro. Em campo, porém, para tudo isso nascer, o princípio invisível é outro. É ver como, quando a equipa perde a bola, todos os jogadores (e não só o seu responsável directo) a querem recuperar.
Distingo duas formas de os jogadores quererem entrar no jogo. Há os que batem à sua 'porta' pedindo licença para entrar. E há os que a arrombam com um pontapé. Acredito que as grandes equipas estão no segundo ponto. Uma espécie de 'arrogância táctica' que nasce da indisponibilidade mental de ver o adversário com a bola. É esse o princípio do actual Benfica. Só depois pode surgir a bola perto da baliza. Só depois podem surgir os golos.
Mas claro que existem jogadores mais 'ruidosos' do que outros na hora de 'bater à porta'. Nesse plano de recuperação de bola, um jogador que está em campo como que lutando pela sobrevivência numa ilha deserta: Ramires. É muito difícil, nas transmissões televisivas, o ecrã acompanhar muito tempo o mesmo jogador. Em geral, segue a direcção da bola. Pois, neste caso, é igual. Seguindo a bola, segue-se também Ramires. O 'etíope' brasileiro está sempre enquadrado pelo ecrã. Primeiro para recuperar a bola, depois para a levar para a frente. Um trabalho, primeiro, 'invisível', e, depois, 'visível' quanto mais a promessa de golo cresce. Um estilo que contrasta e compensa de, no outro lado, estar o único jogador com autorização para... perder a bola, Di Maria, visto jogar sempre 'um-para-um' com o defesa que o marca.
É a correcta forma de defender que indica a melhor forma de atacar. Por isso, a dupla atacante Cardozo-Saviola começa a jogar quando a equipa... perde a bola. Mais atrás, Javi Garcia é a 'âncora' da equipa. A referência recuada (como Ramires é a avançada) para todos os outros jogadores se colocarem quando... não têm a bola. É este o 'ADN operário' das grandes equipas. Não é por acaso que os momentos em que Jesus esbraceja mais para dentro do campo são quando a equipa está sem bola e tem de se colocar correctamente para defender e recuperá-la. Ramires-Javi Garcia são, neste campo, os 'patrões' da equipa.
Tudo isto é o chamado 'mundo invisível' antes dos golos. Não aparece nos resumos. Até, no remate final, tudo parecer simples. Uma ilusão criada pelos tais subterrâneos tácticos prévios da recuperação de bola. Quase como se fosse um túnel cavado por debaixo do relvado. Como dizendo ao adversário: "Esta bola é nossa!". E, a partir daí, tudo se simplifica. Porque, mesmo nas mais complexas estratégias, só existe mesmo uma bola em campo...
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