Pinto da Costa vai ficar na história do futebol português. Pelos melhores e piores motivos. A hegemonia do FC Porto foi construída sobre os abusos de um país fascista e centralizado. Os clubes de Lisboa (Benfica e Sporting), primeiros beneficiários do regime, não souberam organizar-se no sentido de contrariar o “grito de revolta” do FC Porto, amplificado por José Maria Pedroto e, principalmente, por Pinto da Costa. O FC Porto, no pós-Américo de Sá, sempre soube capitalizar em redor da proclamada e decantada (auto)vitimização, mesmo quando passou a protagonizar o papel de manipulador das massas.
Pinto da Costa desenhou uma estratégia, considerando o perfil do país e dos seus principais adversários e, ironicamente, soube utilizar a política e a democracia para conseguir resultados através de uma ideia de totalitarismo. Começou por juntar sequazes contra o Portugal centralizado e com a sede do poder em Lisboa e foi passando a mensagem -- ano após ano, década após década -- do imperativo da descentralização. O exército foi aumentando: em 1982, quando PC chegou à presidência, o FC Porto só havia ganho 7 campeonatos, uma gota no imenso oceano vermelho e verde.
Pinto da Costa entendeu o “elitismo de pechisbeque” e sentiu que se achavam reunidas as condições para diabolizar a capital, aumentando o tom das críticas relativamente aos poderes gerados em Lisboa – o centro das decisões. Em 1987, com a conquista da Taça dos Campeões e da Taça Intercontinental, coincidindo com o final do consulado de Fernando Martins (no Benfica), Pinto da Costa percebeu que não tinha outro caminho. A partir do meio da década de noventa, já o presidente do FC Porto estava em plena magistratura ativa no sentido de fazer do clube um exército ainda mais equipado. A equipa de futebol fazia parte desse exército e o Estádio das Antas era uma espécie de quartel-general onde só os alinhados eram bem recebidos. Os mais jovens não terão memória disso, mas nos anos noventa os árbitros e os jornalistas foram sistematicamente coagidos. O ambiente nos jogos, muito difícil. A ideia era essa: criar pressão e medo. Ao mesmo tempo, atrair personalidades ligadas ao poder político, económico e futebolístico, cujas relações foram sempre geridas com muita astúcia por Pinto da Costa. Uma urdidura.
Quando o Apito Dourado surgiu havia a convicção de que Pinto da Costa se movimentava como ninguém nos bastidores do futebol – e o seu epílogo, nos tribunais, pelas expectativas criadas, deixaram nos adversários um rasto de revolta e frustração. Aí, já o Benfica havia claudicado (com Manuel Damásio, o começo do desastre), no meio de um sem-número de “aquisições” sem sentido.
Pinto da Costa conheceu 7 presidentes (Fernando Martins, João Santos, Jorge de Brito, Manuel Damásio, Vale e Azevedo, Manuel Vilarinho e, desde 2003, Luís Filipe Vieira) e nenhum deles achou a melhor forma de lidar com as “duas caras” do líder azul e branco. A visão do resultado (a obra-prima criada pelo “monstro”) fez o Benfica hesitar entre copiar o criador ou enveredar por outro caminho. O erro volta a estar à vista: na “técnica do conflito” e num país vulnerável, Pinto da Costa é imbatível. A técnica teria de ser outra. A do contraste.
4 comentários:
"Os mais jovens não terão memória disso, mas nos anos noventa os árbitros e os jornalistas foram sistematicamente coagidos. O ambiente nos jogos, muito difícil."!!!!
nenhuma diferença do que se passa hoje!!
"A técnica teria de ser outra."!!!!!!!!
pois é... e que tal o porto ter descido de divisão?? em itália, por muito menos, aconteceu isso!!!
este rui santos é um brincalhão!!!!
Dá uma no cravo e outra na ferradura. Mas não vai ao cerne da questão e não chama os bois pelos seus verdadeiros nomes.
O que ele diz de PC também se pode dizer de qualquer Padrinho da Máfia. Simplesmente, com a Máfia, as pessoas sabem o que se passa e dizem que o caminho foi feito através da compra, da ameaça, do medo, da coacção, num nome, do crime, da corrupção e do tráfico de influências. A única diferença é que PC nunca utilizou as metralhadoras para matar. Essa é a única diferença.
Para além disso, nos países onde há Máfia, os poderes judiciais, políticos e policiais estão abertamente em guerra à Mafia. Ao contrário de algumas dezenas de anos. Nessa altura, os poderes democráticos também estavam nas mãos da Máfia. Que é onde se encontra o futebol em Portugal, nos anos 30 do século passado.
alem de brincalhão é ignorante também.
os clubes do regime eram dois o SCP e o FCP.
Basta ir ver os dirigentes que esses dois clubes tiveram durante a ditadura,mas se calhar estou a pedir demais a este senhor .
por falar em clube do regime:
(...) "Nos tempos da outra senhora, o Sport Lisboa e Benfica chegou a ser considerado como uma referência democrática, um oásis onde coexistiam vozes de todas as origens políticas e em que algumas figuras notórias da oposição ao Estado Novo chegaram a ser membros dos órgãos sociais do clube. Digo isto com tanto mais admiração e à vontade, quanto é certo que sempre fui adepto do Sporting Clube de Portugal, o qual, pelo contrário, era conhecido pelas suas notórias ligações ao Estado Novo e foi quase sempre dirigido por figuras mais ou menos proeminentes da extrema-direita do regime salazarista. Para grande desespero de alguns adeptos como eu que, por carolice ou amor à camisola, nunca viraram a casaca, apesar dos dichotes e bicadas (mais que justas) de muitos adeptos do Benfica."
Alfredo Barroso-in Record 2000
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