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09 abril 2011

Estád(i)o de direito


Para quem, como eu, nada tinha a ganhar com o jogo de domingo passado entre Benfica e Porto, foi um desconsolo certificar o quanto estamos dependentes do exercício de excessos de liberdade, de vários energúmenos. Todos os pretextos justificam a vingança, numa catadupa de agressões e ofensas que acabam pintadas de sangue, que só por mera sorte não descambam em morte. Como me desabafava um amigo, o futebol português vive em clima de “intifada”. Atribuir, exclusivamente, aos autores físicos destes desacatos as responsabilidades pelos mesmos, redunda numa hipócrita análise dos mais de trinta anos de quezílias primárias, dos protagonistas habituais. Face à perda de poder dos grandes de Lisboa, em favor do cíclico campeão do Porto, o chorrilho de indignidades dirigidos em ambos os sentidos transformou cada encontro num campo de batalha, onde os generais sorriem, cinicamente, para os desvarios das tropas. Esbanja-se ironia quando se ostenta a vitória, brada-se aos céus e aos infernos sob o peso amargo da derrota.

Reparem: o automóvel de Luís Filipe Vieira é apedrejado numa autoestrada; nem um bater de asas de mosca soa dos dragões. Apaga-se abruptamente a iluminação no Estádio da Luz, aquando da festa dos azuis e brancos, nem uma fatura em dívida à EDP é mostrada para justificar tamanho apagão. É necessária uma paciência de santo para compreender como, estando a Nação a braços como uma das mais comprometedoras hecatombes de que há memória em 900 anos de história, se gaste uma fortuna, todas as épocas, do erário público, para apascentar um rebanho de desordeiros, que agride, ofende e coloca em causa a segurança de um estado de direito, porque se efetua um jogo de futebol.

Quantas famílias sustentariam as despesas básicas do seu dia-a-dia com esta verba? Reclamam as associações e a Liga, independência total face às supostas ingerências do Estado, porém em momentos de aflição reclamam a sua intervenção para a solução do que não se consegue superar na secretaria. Outro exemplo? A Federação Portuguesa de Futebol continua sem aprovar os estatutos impostos pela governação, e reconhecidos pela FIFA e UEFA, porque o domínio na arbitragem ainda está indefinido. Arbitragem, leu bem. Com que intuito?

Retenho na memória a correria de um pai, com uma criança, a tentar entrar no Estádio da Luz protegido por um polícia, correndo o risco de serem atingidos por uma pedra, bola de golfe, ou bala perdida. Esta família gozava de um dos direitos consagrados na Constituição da República, restringido por uma mole humana, que em grupo se torna selvagem e cobarde, em nome de um colorido orgulho estúpido, instigado levianamente por incorrigíveis protagonistas. Não se trata de prever qualquer desgraça. Ela está iminente, debaixo do olhar de todos os que preferem ignorar o óbvio. A mesma inevitabilidade que nos obrigou a recorrer a ajuda externa para colmatar a incúria de quem nos tem governado.

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