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21 setembro 2010

A análise de JVP

Benfica-Sporting


1 Dificuldade leonina em juntar linhas
Este Benfica-Sporting foi claramente um jogo intenso na primeira parte. Nos primeiros cinco minutos ficou a sensação de que o Sporting estava interessado em defender longe da sua área, mas denotava um problema que se arrastou no tempo - os sectores deixaram distâncias entre si, não se apresentaram juntos. Ora, esse posicionamento envolvia perigos, era gerador de desequilíbrios aproveitados pelo Benfica em transições e contra-ataques rápidos. Bastaram esses cinco minutos - com Cardozo a enviar uma bola ao poste logo aos 4' - para se perceber precisamente a existência de um controlo do jogo pelo Benfica, não obstante dispor o Sporting de maior tempo de posse de bola, mas com uma nuance: a mesma era permitida.

O Benfica apresentou-se mais compacto, mais veloz na recuperação da posse de bola, e essa atitude teve como consequência que ganhasse ascendente. O Benfica, ao fim e ao cabo, controlava o jogo como queria - tanto mais quanto o Sporting era vítima das suas próprias dificuldades no último terço do campo, situação bem patente no facto de ao longo de toda a primeira parte não ter rematado uma única vez à baliza de Roberto.


2 Benfica deixou que Sporting subisse
Se o Sporting se apresentou na sua habitual forma de jogar, com André Santos na posição 6, as entradas no onze do Benfica de Maxi Pereira e César Peixoto como defesas-laterais direito e esquerdo, respectivamente, também não me surpreenderam. Maxi retomou o lugar, e César Peixoto mostrou pulmão. Mais do que a constituição das equipas, notório foi o facto de o Benfica se ter mostrado inteligente na forma como preparou o dérbi, deixando que o Sporting subisse as suas linhas para daí retirar dividendos. O Benfica teve o mérito de ser organizado e forte, inclusive nos duelos individuais, sendo, pois, bem mais perigoso do que o Sporting. E a verdade é que com o primeiro golo obtido cedo, aos 13', ainda aproveitou melhor essa vantagem. Deixou de estar sujeito a pressão suplementar e, mesmo quando recuava, fazia-o com a junção dos seus sectores e retirando dividendos quer das recuperações quer do seu maior poder físico e das transições rápidas.


3 Domínio claro
A segunda parte poderia ter corrido menos de feição ao Benfica? Era um cenário possível, só que o segundo golo, de novo apontado por Cardozo, só quatro minutos após o regresso dos balneários, tornou ainda mais difícil a tarefa do Sporting. A vantagem era reconfortante para as hostes encarnadas e reforçou ainda mais os níveis de confiança já patenteados até então, ao ponto de três minutos depois ter estado nos pés de Coentrão a hipótese de matar o jogo. Não foi assim… e aos 58 minutos teve Liedson a primeira e mais flagrante oportunidade de o Sporting encurtar distâncias, com a qual, admito, se poderia ter relançado o jogo…

Desperdiçado esse lance, e sem que as alterações introduzidas em ambas as equipas tenham mudado o cariz do desafio, o que é facto é que o Benfica continuou a controlar os acontecimentos e as mais flagrantes ocasiões para mexer de novo no marcador pertenceram-lhe, ambas por Cardozo, aos 74 e aos 75 minutos. Ou seja: o Benfica sentiu que o domínio lhe pertencia, uma situação ainda mais evidente quando o Sporting acentuou a tentativa de fazer circulação de bola, mas sem objectividade - fez alguns remates, é certo, mas em desespero de causa. A toada do jogo não teve, pois, evidentes modificações até final.


4 Consistência
Uma ideia-base genérica: a vitória do Benfica é justa num jogo em que não se justificavam tantas faltas (46 no total). Por norma, não me pronuncio sobre o trabalho das arbitragens, mas por me parecer evidente que as equipas não enveredaram pela dureza excessiva, dever-se-ia ter deixado correr mais o jogo… O Benfica mostrou-se mais consistente ao longo dos 90 minutos; já o Sporting denotou alguma intranquilidade em muitos períodos, como consequência de um problema que não foi capaz de sanar: ao querer defender longe da sua baliza, não foi capaz de o fazer e descompensou-se.


5 Reconciliação de Cardozo com os adeptos
O dérbi foi feito também de protagonistas. Cardozo foi a grande figura, e não apenas pelos dois golos apontados. Depois das peripécias das assobiadelas recebidas no jogo com o Hapoel de Telavive, num sintoma de que os adeptos se estavam a voltar contra si, Cardozo teve uma noite importante para a reconciliação com as bancadas e, com ela, a retoma da estabilidade emocional, eventualmente afectada no jogo da Liga dos Campeões.

Por ser de toda a justiça, entendo também ressaltar outras duas boas exibições no relvado da Luz: as de Fábio Coentrão e Rui Patrício.


6 Três pontos que dão moral
O resultado do dérbi tem necessariamente um outro ângulo de análise: o das suas consequências para ambas as equipas no campeonato. O triunfo dá naturalmente maior confiança ao Benfica, é motivador, permite que o seu jogo possa crescer sem pressões adicionais. Os três pontos dão-lhe moral - e é claro que, pela posição que tinha em termos classificativos, era o Benfica a equipa mais pressionada. Quanto ao Sporting, os estragos provocados pela derrota são, apesar de tudo, menores do que os que se reflectiriam no rival. O Sporting continua um ponto à frente do Benfica e, em linhas genéricas, é sempre possível considerar-se que é ainda cedo para se definirem de vez os candidatos ao título.

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