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05 março 2010

O capítulo do dinheirinho


Por Leonor Pinhão in A Bola

TAL como os sportinguistas viveram um grande dilema na semana passada — a hipótese de uma vitória sobre o FC Porto afastava, teoricamente, da discussão pelo título um rival do Benfica —, também os benfiquistas vão viver por este mês de Março um dilema, ainda que bastante mais pequeno.
Sabendo-se que o campeonato é a prova que Jorge Jesus quer mesmo e muito ganhar, e está no seu direito, trata-se de saber qual é a mais importante das outras duas competições em que o Benfica está ainda envolvido. A Liga Europa ou a Taça da Liga? Na Liga Europa, o Benfica tem por adversário na próxima eliminatória o Olympique de Marselha, contra quem joga a 11 e a 18 de Março, quanto à Taça da Liga, o Benfica jogará a final desta competição interna a 21 de Março, no Algarve, apenas três dias depois do encontro da segunda-mão, em França.

É exigir demais ao Benfica e a Jorge Jesus uma abordagem altamente qualificada para estes dois compromissos de diferentes dimensões. Eis o dilema. Os dilemas, enfim, nem são coisas más.

Os responsáveis da Liga que elaboraram o calendário da prova também tiveram certamente um dilema. Tendo à vista, como não podiam deixar de ter, o calendário das competições da UEFA, tiveram de escolher entre marcar a final da Taça da Liga em cima de uma eliminatória da Liga Europa, prejudicando o Benfica ou o Sporting, se tivesse eliminado o Benfica na meia-final da Taça da Liga, ou marcar a final da Taça da Liga em cima de uma eliminatória da Liga dos Campeões, prejudicando o FC Porto.

Optaram por beneficiar o FC Porto por motivos puramente patrióticos. É que a Liga dos Campeões rende mais do que a Liga Europa e o importante é fazer entrar divisas no país para dinamizar a economia nacional. O capítulo do dinheirinho é muito importante.

Também os adeptos portistas, segundo consta, vivem actualmente num dilema. Depois de Alvalade, resolveram todos, por unanimidade, desistir da luta pelo título, o que não deixa de ser estranho. E dividem-se agora entre os que preferem ver o Sporting de Braga campeão e o Benfica em segundo lugar, significando isso que o FC Porto perderia o acesso à próxima Liga dos Campeões, do que se dar ao amargo incómodo de apanhar o Braga e roubar-lhe o segundo lugar, significando isso que o campeão seria o Benfica.

São momentos dramáticos na vida dos adeptos e todos, em circunstâncias diferentes, já passámos por menoridades destas.

No entanto, não são os adeptos do FC Porto que gerem o emblema. São os administradores e executivos da SAD. E, neste capítulo, o dinheirinho é o mais importante, pelo que o dilema portista, actualmente, apresenta contornos bem definidos. Do lado dos que querem ver o Braga campeão, não se importando com a ausência na Liga dos Campeões de 2010/2011 estão, exclusivamente, os adeptos do FC Porto. Do lado dos que querem ver o Benfica campeão e que desejam muito ver o Braga perder pontos, de modo a assegurar a entrada na milionária competição de clubes, está a SAD do FC Porto.

Que não brinca em serviço, naturalmente.

DEPOIS de seis anos e meio no Egipto e de uma mais rápida comissão de serviço em Angola, Manuel José regressou a Portugal carregado de títulos e honrarias e prepara-se, segundo ele, para viver os últimos anos da sua carreira abraçando um projecto ainda sem nome mas que lhe permita «continuar a vencer». Na noite de segunda-feira, Manuel José foi o convidado do programa O Dia Seguinte, na SIC Notícias, e foi aquilo que se pode chamar um excelente entrevistado, falando sempre abertamente, sem medo de penalizações, sobre os altos e baixos da sua carreira, sobre as particularidades imortais e o momento presente do futebol português e sobre o seu futuro incerto como treinador.

Falou também sobre os seus colegas de profissão, traçando a divisória entre os que vêm das universidades e os que, como ele, vêm «do terreno» e elogiou dois companheiros «do terreno», Paulo Bento, por ter feito «um trabalho fantástico sem meios no Sporting», e Jorge Jesus, por um conjunto mais amplo de méritos que lhe atribuiu.

Um desses méritos foi o de ter transformado Angel Di María, que no ano passado «mais parecia um maluquinho a jogar à bola», num grande jogador de futebol com mercado entre os poderosos emblemas da Europa.

Di María, por obra da sua exibição em Matosinhos na última jornada do campeonato, foi, naturalmente, a figura do fim-de-semana futebolístico e, de certo modo, o exemplo prático de como o Benfica começa a saber ultrapassar os escolhos dos adversários ultra-motivados e das más arbitragens, respondendo da única maneira desejável e possível às mais flagrantes injustiças. Ou seja, marcando golos e ganhando jogos e deixando-se de lamechices.

Este espírito competitivo e anti-lamecha demora tempo a construir e com este espírito instalado é de crer que o Benfica teria sabido, na primeira volta do campeonato, não soçobrar mentalmente ao golo limpo e invalidado de Luisão, com que atingiria o empate no jogo com o Sporting de Braga, teria sabido esperar um bocadinho no relvado, ainda em Braga, antes de regressar à cabina ao intervalo, evitando a expulsão de Cardozo e teria sabido, em Olhão, não se espantar com o vendaval dos rivais.

Em Matosinhos, o golo incrivelmente anulado a Di María teve o condão de não abrir o marcador, como seria legítimo, mas teve também o condão de lançar o jovem argentino e a equipa para um repor da verdade desportiva que só pecou por exagero. E, este ano, sempre que o Benfica se deixa de lamentações e resolver embalar, não há árbitros, nem fiscais-de-linhas, nem adversários que o parem.

De tal modo que, terminado o jogo, nem Jorge Jesus, nem os jogadores perderam tempo a falar do árbitro que, por acaso, era esse grande benfiquista chamado Lucílio Baptista. E falar para quê? O Benfica ganhou bem e limpo, soube resistir à imediatamente anterior pressão causada pela vitória do Braga sobre o Olhanense, soube resistir à tempestade e a um erro fulcral da arbitragem…

Compreenda-se o silêncio benfiquista. No entanto, Lucílio Baptista, cujo erro não prejudicou a vitória do Benfica sobre o Leixões, acabou por prejudicar seriamente o Benfica noutro capítulo menos importante: o capítulo do dinheirinho.

Muito zangado com o árbitro e com o fiscal-de-linha deve estar o empresário de Di María. É que, em termos de projecção internacional, há toda uma diferença de mercado entre marcar três golos num jogo ou marcar quatro golos num jogo, como realmente sucedeu.

Com arbitragens destas nunca mais atingimos a cláusula dos 40 milhões!

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