VAI agora fazer 15 anos que o francês Eric Cantona mostrou ao mundo toda a sua indomável rebeldia. A 25 de Janeiro de 1995, num jogo da sua equipa, então o Manchester United, no campo do Crystal Palace, para o campeonato inglês de futebol, Cantona, ídolo dos adeptos do United, para quem o francês era o mais digno sucessor de George Best, recebeu ordem de expulsão após agredir o defesa adversário Michael Shaw.
Não satisfeito com a cena de pugilato que protagonizou dentro do campo para desgosto do seu treinador, Alex Ferguson, o número 7 do United viria a perder definitivamente a cabeça fora do relvado, quando, ao passar junto dos adeptos da equipa da casa, não hesitou em desferir autêntico golpe de karaté no corpo de um fã do Crystal Palace, alegadamente em resposta a uma provocação.
Na altura, já lá vão, pois, 15 anos, a chocante agressão de Cantona ficou registada em imagens, que obviamente foram muito úteis para a decisão disciplinar tomada pela justiça desportiva inglesa.
Já em 1995 foram sobretudo as novas tecnologias que castigaram Cantona. A crueldade do seu acto correu o mundo através das arrepiantes imagens televisivas, e não era possível à justiça desportiva inglesa evitar aplicar ao francês um castigo exemplar. Caso contrário, como poderia, perante o que estava à frente dos olhos, defender o espectáculo?
Cantona foi imediatamente suspenso pelo seu próprio clube e, pouco depois, pela Liga inglesa. Ficou fora dos relvados oito meses e foi ainda condenado, em tribunal cível, a pena de prisão transformada em 120 dias de trabalho comunitário. Só voltou a jogar pelo Manchester United a 1 de Outubro desse ano.
Dois anos depois, a 26 de Março de 1997, Ricardo Sá Pinto teve o infeliz, condenável e irreflectido gesto de agredir o então seleccionador nacional de futebol, Artur Jorge, numa manhã em pleno Estádio Nacional, quando a equipa das quinas se preparava para o treino. Sá Pinto não estava convocado.
Não existem imagens televisivas da agressão de Sá Pinto e as poucas fotográficas são, obviamente, más. O processo tornou-se, também por isso, mais complexo, e, à boa maneira portuguesa, na verdade Sá Pinto só viria a conhecer o seu castigo quase quatro meses depois (tendo continuado a jogar, entretanto, pelo Sporting), apesar de ter sido imediatamente impedido pela Federação de representar a Selecção Nacional até que se concluísse a fase de qualificação para o Mundial do ano seguinte.
Só após muitos inquéritos, processos disciplinares, audição de testemunhas, recursos para trás e recursos para a frente é que foi decidido afastar Sá Pinto do jogo por 12 meses. O jogador foi entretanto transferido para os espanhóis da Real Sociedad na presunção de que poderia jogar fora de Portugal, mas, numa decisão com algo de inédito, a FIFA quis também tomar conta da ocorrência por entender como muito graves os factos, e estendeu a todo o mundo o castigo aplicado a Portugal.
Durante a época seguinte (1997/98) Sá Pinto apenas pôde, assim, treinar-se na Real Sociedad, vindo a estrear-se oficialmente com a camisola basca só a 30 de Agosto de 1998, quase ano e meio depois daquela fatídica manhã de 26 de Março de 1997.
No caso destes acontecimentos, as novas tecnologias nada puderam fazer. Não era dia de jogo, ninguém estava preparado para uma coisa daquelas, não vale a pena reclamar, o tribunal do vídeo não faz milagres.
Mas 15 anos depois do caso de Cantona, também no caso das alegadas agressões no túnel de acesso aos balneários da Luz após o último Benfica-FC Porto, as novas tecnologias deverão voltar a ser decisivas para a apreciação dos factos. As novas tecnologias, quando bem aplicadas, têm destas coisas: não deixam mentir. Seja a mostrar (como há anos se reclama) se a bola entrou ou não na baliza, seja a revelar quem perde a cabeça.
Graças às novas tecnologias, espera-se, agora, que a decisão sobre o que eventualmente tenha acontecido na Luz seja bem mais rápida do que no caso do infeliz Sá Pinto. Mas espera-se também que, após qualquer que seja a decisão, sejam tornadas públicas as imagens gravadas no túnel da Luz. Não são cada vez mais os que se manifestam a favor das novas tecnologias no futebol? E não é graças às novas tecnologias que podemos saber exactamente o que se passou no túnel da Luz? As novas tecnologias são tanto mais úteis quanto mais nos ajudarem a descobrir a verdade.
Ou será que a verdade desportiva é apenas saber se foi penalty ou se a bola entrou ou não na baliza?!
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