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08 janeiro 2010

Império do duplo-'pivot'



Por Luís Freitas Lobo in A Bola

Aposição adquiriu no futebol moderno uma importância táctica cada vez maior. A importância nasce da relevância do seu espaço para, primeiro, equilibrar a equipa a defender (uma âncora táctica) e, depois, em posse, ordenar a sua saída de bola (um farol táctico). É a clássica posição do n.º 6. Ou melhor, o seu espaço. No passado, um mero trinco. A visão defensiva da posição. Hoje, o chamado pivot-defensivo. Porque a ideia de construção adquire prioridade de pensamento no seu jogar. O futebol brasileiro chama-lhes volantes. O espanhol adoptou, desde há vários anos, o termo pivot. Sem rótulos defensivos.
A nota táctica mais interessante do jogar das equipas espanholas é, porém, que, ao contrário de muitos outros países (como Portugal) a maioria esmagadora das equipas joga com o chamado duplo-pivot. Isto é, com dois jogadores nesse espaço à frente da defesa. Vendo, por exemplo, a última jornada da Liga espanhola, 17 das suas 20 equipas jogaram (quer em 4x4x2 como em 4x2x3x1) com o chamado duplo-pivot.

Excepções apenas o Barça de Guardiola (4x3x3) o ainda estruturalmente dúbio Real de Pellegrini (jogou em losango, mas que já o vimos num híbrido 4x2x2x2) e o novo Almería de Lillo (4x3x3) que substituiu Hugo Sánchez (que jogava em 4x2x3x1). Todos os outros jogam com duplo-pivot. É uma questão cultural de estilo de jogo. Viu-se quando Camacho e Quique estiveram no Benfica e tornaram essa opção num dogma.

Neste debate, recordo sempre o que dizia Redondo, velho catedrático n.º 6: «Quando nessa posição me colocam outro jogador ao lado é como se me tapassem um olho!». Com isso, queria apenas chamar a atenção para a, digamos, especial sensibilidade táctica desse lugar. Ou seja, para o duplo-pivot funcionar são indispensáveis dois factores tácticos-colectivos.

O primeiro, relaciona-se com o espaço, exige uma quase perfeita complementaridade das características dos seus ocupantes, para assegurar um equilíbrio de jogo posicional e dinâmica de saída de bola. Por princípio, um deles fica mais preso e outro sai mais para o jogo. É um bom exemplo das tais «pequenas sociedades» que devem existir dentro de um onze.

O segundo, relaciona-se com os movimentos dos alas, sobretudo na opção pelo 4x4x2. É indispensável que, pelo menos um deles, seja muito forte a flectir no terreno, para pegar na bola no espaço central da segunda linha do meio-campo e jogar bem por dentro. Outra opção para ocupar esse espaço central reside no recuo de um dos avançados, o mais móvel, mas nesse caso já entramos no 4x2x3x1. Várias equipas explicam bem como se faz isso em campo. Outras, nem tanto. Vejamos, noutro ponto desta página, algumas dessas construções.

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