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04 março 2011

Coluna e o bom espírito


Este sábado, Coluna, esse nome maiúsculo do futebol português, do futebol mundial - e reza a lenda que, já nos dias gloriosos do amor à camisola, Eusébio o tratava com um respeitinho à parte, “Senhor Coluna, posso marcar o penálti?” -, recebeu a águia de ouro. De corações levantados, a nação benfiquista aplaudiu com a alma toda; um aplauso espontâneo, genuíno, fortíssimo.
No domingo, esse espírito deu-nos a vitória contra o Marítimo. Uma vitória épica e lírica, dramática e mais que merecida, um conseguimento histórico todo apontado ao futuro.
É essa a grande notícia, caros amigos. Podemos não ganhar o campeonato este ano, mas já ganhámos este espírito de nunca-descrer, de vamos-vencer-e-vamos - e isso vale os mil e um campeonatos de amanhã. O treinador até pode errar (como errou o treinador do Benfica ao tirar Aimar, partindo a equipa, retirando-lhe inteligência e visão; como errou Jorge Jesus ao perder a cabeça nos protestos do fim do jogo...), mas o espírito pode mais. A má sorte pode enervar (como enervou no domingo: bolas ao poste, bolas por um triz, um golo que afinal não valeu...), mas este espírito vale muito mais.
Um estoiro de adrenalina, aquele golo de Coentrão com o pé menos famoso. No último dos últimos segundinhos dos descontos. Para aquilo nem há palavras de dicionário: douraltidência, imensartismo, inesquecidade. Que tiraço - a matéria de que se fazem os sonhos e as histórias mais verdadeiras.
Antes, caíra um frio de proporções nórdicas na Catedral: Djalma (que nome maravilhoso) salta na nossa área e, com um simples virar de cabeça, muda em golo um pontapé de canto. Cinquenta e cinco mil pessoas em silêncio na Luz, um suspiro de milhões por esse Mundo. O relógio apertava, agigantava-se o problema. Mas baixámos os braços, entristecemos, desanimámos? Nem sombra de nada disso, caros amigos. Fomos logo lá para a frente fazer pela vida - de novo, sempre.
De costas para a baliza, Cardozo, o nosso paraguaio melancólico, junta quatro ou cinco madeirenses à sua volta e solta a bola para a esquerda; Fábio “Super-craque” Coentrão lança o mais venenoso dos esféricos, um passe diagonal, rasteiro, a cruzar a área, baralhando defesas e guarda-redes; e, do outro lado, como que aterrando de uma viagem transatlântica, aparece Salvio, a tocar para dentro. Com este espírito, é para a glória, não é, senhor Coluna, só pode ser para a glória, não é?

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