Deixemos isso do petróleo...

Por Santos Neves in A Bola

SIM, deixemos as ditas finas ironias sobre o petróleo que teria nascido na segunda circular lisboeta e desaparecido da portuense zona das Antas. Dezenas de milhões de euros apareceram no Benfica e no Sporting quando se tornaram imprescindíveis — investimento para a capacidade competitiva deixar de ser chocantemente débil — e o comando directivo teve talento e/ou possibilidades de os fazer brotar. Tal como aconteceu no FC Porto até conseguir valorizar vasto lote de futebolistas que vieram a dar--lhe, e ano após ano, para além de magníficos resultados desportivos, mais-valias financeiras absolutamente extraordinárias! Tão extraordinárias que teriam posto a zero o défice da SAD portista, caso tivesse sido essa a opção. Não foi; mas não é por esgotamento de petróleo, leia-se situação de penúria, que o FC Porto agora afirma não querer reforçar (veremos...) o nada curto investimento na equipa de futebol aplicado para esta temporada (como exemplos, recorde-se: superou as propostas do Benfica para aquisição de Álvaro Pereira e de Falcão, tal como, um ano antes, batera financeiramente o Benfica para lhe arrebatar Rodriguez).

Portanto, nisso de petróleo, e entre os três gigantes do futebol português, cada um cria o(s) seu(s) poço(s) quando pode e sente extrema necessidade... Se deles extrai bom proveito/rendimento, ou se os malbarata... eis outra (muitíssimo diferente) questão.

É muito fácil criticar — ainda mais fácil fazê-lo com tiradas de dita ironia... — as súbitas fúrias benfiquista e sportinguista por aquisição de jogadores que custam largos milhões. Mesmo facílimo para quem soma largos anos habituado a estar tão, tão por cima de Benfica e Sporting... — na nada estranha simbiose de investimento com conquista de títulos. É exactamente para combater a indiscutível hegemonia portista que o Benfica foi para a cabeça do toiro, nesta época e na anterior, no substancial reforço do seu plantel. E é por estar a bater no fundo em qualidade futebolística e resultados, que o Sporting, vendo o Benfica ultrapassá-lo qual foguete e o FC Porto distanciar-se cada vez mais, acaba de inverter drasticamente a sua política de grande contenção financeira.

Óbvio: para isso, um e outro tiveram de possuir condições. O Benfica tem vindo a criá-las na era Luís Filipe Vieira; sim, múltiplas engenharias financeiras, mas, depois dos anos de imprescindível saneamento, elas são bem mais possíveis graças à projecção do enorme poder comercial da marca Benfica para um nível anos-luz acima do que alguma vez fora atingido.

No Sporting, a recente liderança de José Eduardo Bettencourt viu a equipa de futebol num tal estado de fraqueza que já nem deu para pestanejar, quanto mais ter dúvidas: a maior parte dos 18 milhões de euros vindos de árduo acordo com a Câmara de Lisboa são aplicados no reforço do plantel, não na redução da dívida.

Claro que Benfica e Sporting enfrentam alto risco — o de não saírem de fiascos desportivos. Em Alvalade, o curto prazo terá de ter baixa bitola, mas lança a próxima temporada. Na Luz, fia mais fino... já! Quem não arrisca não petisca... Acima de tudo: tendo vindo a tornar-se fantasmas de si próprios na alta competição — e baixíssima maré desportiva é sinónimo de quase nulas receitas... —, qual era a alternativa?

No Benfica em enchente maré, para além de grandes receitas de bilheteira — e de muito acrescida força negocial noutras áreas financeiras ainda mais importantes... —, só a soma de Di María e David Luiz passou a valer 50 milhões de euros — como mínimo —, senão mesmo todo o investimento nos últimos dois anos...

No Sporting, que passaram a valer Miguel Veloso e João Moutinho após o global desconchavo dos últimos meses?... O extraordinário agente FIFA Jorge Mendes, personalidade do ano para A BOLA, recém-chamado a Alvalade, não faz milagres, precisa de forte recuperação da matéria-prima...

Posted in: Crónicas de Santos Neves