Ficar ou não ficar 'KO'

Por João Bonzinho in A Bola

DOMINGO, 22 de Novembro, Estádio da Luz: o Benfica corre, corre, corre, e nem sempre bem, remata, remata, remata, e quase sempre mal, mas não consegue evitar a derrota diante do V. Guimarães e a eliminação (prematura, muito prematura) da Taça de Portugal. Sofre um golo de bola parada — com ferro matas, com ferro morres — e nem de bola parada (de cujos lances já conseguiu esta época 24 dos 51 golos oficiais) bateu o guarda-redes Nilson, um bom guarda-redes, particularmente inspirado sempre que defronta o Benfica.Este foi o último ensaio benfiquista antes do derby. Mau ensaio. Fica a ideia de um Benfica sem plano B para quando as coisas não lhe correm bem. Um Benfica a jogar sempre da mesma maneira, ao mesmo ritmo frenético e sem a paciência, provavelmente mais aconselhável, para dar a volta a um adversário bem posicionado, concentrado nas marcações e com forte presença física na luta pela bola. Muralha como a do Vitória nunca se vence a soco.

Um Benfica a correr muito mas com pouca utilidade, a rematar muito mas com tremenda falta de pontaria e uma inadequada sofreguidão para pôr a bola na área contrária. Jogando num ritmo tão elevado e com tanta falta de espaço o que pode esperar-se? Erros. Muitos erros.

Quando a bola entra, a dinâmica de jogo do Benfica chega a ser extraordinária; se não entra, torna-se ordinária. No boxe, vencer por KO ao 1.º assalto não significa qualidade de combate. Com um perigo: o de nos acharmos tão superiores que nos esquecemos de evoluir, de procurar outras soluções, de criar outras técnicas. Quem se habitua a vencer por KO no 1.º assalto dificilmente melhora o seu boxe. Até ao dia em que trincar a orelha do adversário é a única coisa que resta.

Ora o que se presume, em primeiro lugar, que o Sporting de Carvalhal procurará fazer, amanhã, no maior derby de sempre do futebol português, é tirar a bola dos pés do Benfica e guardá-la como uma jóia. É a única maneira de baixar o ritmo do jogo e de impedir o Benfica de fazer o que, neste momento, mais gosta: mandar velozmente no meio-campo adversário.

Em teoria, o Sporting não está capaz de discutir o jogo em pé de igualdade com o rival. O facto de ter argumentos para vencer não quer dizer que tenha condições para dominar. Esta época, aliás, o Sporting não se tem dado nada bem com a necessidade de fazer as despesas do jogo. Pelo contrário, esteve melhor quando o papel principal estava (nos confrontos com a Fiorentina e FC Porto) mais do lado do adversário, como, aliás, tudo indica que voltará a repetir-se no jogo de amanhã.

Depois de Braga, este será, pois, o segundo grande teste ao Benfica de Jesus.

TESTE à organização do Benfica deu-se também, esta semana, na apresentação de um livro de Manuel Sérgio, professor catedrático na área do desporto, na qual marcaram presença, entre outros, o presidente do FC Porto e o treinador do Benfica, Jorge Jesus, duas personalidades que, pelos vistos, se dão amigavelmente.

Sabendo isso, os responsáveis encarnados não tiveram, porém, o senso, o cuidado e a conveniência de conseguir evitar que os dois se encontrassem sozinhos para um abraço e uma fotografia (estratégica?) que cada um tratará sempre de utilizar como mais lhe aprouver, se é que me faço entender. Terem, os mesmos responsáveis, corrido no dia seguinte a tornar públicas as confiantes palavras de Jesus no título de campeão que terá dirigido ao líder portista é o mesmo que correr a apagar um fogo quando dele só restam cinzas.

Para mau entendedor, arrisco um exemplo: nas mesmas circunstâncias, ou seja, no seu território e num acto oficial, jamais a organização do FC Porto permitiria o registo fotográfico de um abraço entre o presidente do Benfica e o treinador portista por mais amigável que fosse a sua relação. Para o FC Porto, isso seria um KO.

ESTRANHO, apenas isso, estranho não ter ouvido qualquer palavra de estímulo ou confiança do treinador do Benfica no seu jovem futebolista brasileiro Keirrison no final do jogo com o V. Guimarães.

Keirrison, já deu para perceber, não vive momento particularmente feliz nesta sua experiência benfiquista. Keirrison, também já muitos perceberam, é um jogador com talento, talvez até muito talento para atacante. Mas em Lisboa, como diriam os seus compatriotas, o chute tem saído sempre ao lado. O chute na bola e o chute na felicidade.

Titular frente ao V. Guimarães, apesar daquele lance em que matou a bola no peito e rematou de primeira para excelente defesa de Nilson, Keirrison abandonou, mais uma vez, o relvado da Luz de olhos no chão e ao som de assobios, sabendo, ainda por cima, que está a chegar Cardozo e será, por isso, recambiado para o banco ou mesmo, quem sabe, para a bancada. KO!

Acredito que nestas alturas deve saber bem uma palavra pública do treinador.

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