Crónicas de Santos Neves

Benfica... mal fica

Por Santos Neves in A Bola


BENFICA já perdeu... Poderá, ou não, recuperar rapidamente da bagunçada em que transformaram as eleições na Luz, mas, nestas semanas em que o processo eleitoral evoluiu de muito mal para pura calamidade, vê--se sujeito a quase inacreditável autodestruição! Parece comédia... com horrível qualidade; veremos se não vira tragédia.

Há largos anos que o Benfica, como nenhum outro clube português, gera doses industriais de ânsia por protagonismo pessoal... e/ou de maledicência interna. Um fartote. E terrível chaga. De sistemáticas tricas entre resmas de ditos notáveis até enormes espaços por eles abertos, propiciando fulgurante acesso de súbitos e empolgadíssimos benfiquismos — lógico: tão mais empolgados quanto mais súbitos... —, dos quais Vale e Azevedo, a sua fórmula para assaltar o poder e as respectivas consequências... não deveriam ser esquecida memória... Desde Borges Coutinho — vamos lá, desde Fernando Martins... —, está sempre tudo mal na liderança (nem Jorge de Brito escapou...), sob altas pressões contestatárias de múltiplas facções de fervoroso benfiquismo. É o círculo vicioso de causas e efeitos: isto acontece porque o Benfica não ganha — perdeu o comboio há 20 anos... não há 3 ou 4 — e o Benfica muito mais dificilmente ganhará enquanto isto acontecer.
Sabe-se ser este o invariável pano de fundo. Mas acaba de adquirir dimensão de grotesco! Ultrapassados todos os limites. Seja o do (como qualificar?!) desbragamento verbal do presidente da AG (rasgou avenidas para isto...); seja o do rol de artimanhas (deliberado estendal visando imbróglio jurídico); seja o de chocantes contradições sobre interesses do Benfica e do seu futebol; seja o do... ridículo! Ou como o Benfica volta a antecipar-se ao papel dos seus adversários externos...
QUANDO Vieira e Vilarinho anteciparam eleições, de imediato, e com absoluta clareza, os critiquei. Pelo tempo (nem o erradamente previsto Outubro, nem o lógico início de Junho) e, sobretudo, pelo modo... (dar a opositores só duas semanas de preparação, por muito legal que seja, nada tem de boa ética). E acrescentei que essa decisão, com vincado rosto de estratégia, era também tremendo erro... estratégico! Superevidente: irritando muita gente, alargaria o campo da oposição, até aí muito minoritária.
Se Vieira e Vilarinho agiram muito mal, a alternativa eleitoral Bruno Carvalho age muitíssimo pior. Vieira quis dar pouco tempo a adversários... Carvalho, com ainda maior, total!, despudor, vai mesmo ao fim da linha: quer proibir Vieira de ser candidato!!!
Não adianta falar de princípios democráticos... Fiquemos pelos pretextos (surrealistas) e pela realidade nua e crua: Carvalho sabe ter só uma forma de ganhar esta eleição — concorrer... sozinho. Preto no branco: para afastar Vieira, vale mesmo tudo (que é que esta expressão me faz lembrar?). Permitam-me contrapor: se a gestão de Vieira tem sido assim tão catastrófica, se o mundo benfiquista está assim tão contra ela, qual o medo de ir a votos para derrotá-la?
Carvalho tenta ladear a evidência: face à fragilidade de ganhar... sozinho, promete outra eleição daqui a 6 meses. Perguntar não ofende: por que não daqui a 3, em Outubro, se é no cumprimento de es- tatutos que faz tanta questão? Em tão pouco tempo, várias vezes mudou de rumo: anunciou despedir Jorge Jesus no dia seguinte... (ó diabo, os adeptos gostam dele...; pensando melhor, é para ficar); disse, alto e bom som numa TV, que no Benfica não pode ser capitão qualquer um... (ó diabo, os actuais capitães chamam-se Nuno Gomes, Luisão, Quim, por esta ordem; portanto, o grande mal passou a ser o atraso na renovação de contrato com o querido Nuno...).
Entretanto, nesta deliberada balbúrdia, a ver se dá... onde é que os interesses do Benfica e do seu futebol são o mais importante? Jorge Jesus e os recém-contratados futebolistas já devem ter pensado «onde é que me vim meter?!»...

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