Crónicas de José Manuel Delgado

Eleições no SLB

Por José Manuel Delgado in A Bola

HOJE, o Benfica vai a votos, prática que começou em 1909, durante o reinado de D. Manuel lI, prosseguiu durante os tempos conturbados da I República, resistiu ao totalitarismo do Estado Novo e continua no regime saído do 25 de Abril.
Para o Benfica, clube nascido do povo, que ao longo da sua história, para sobreviver, teve de, ainda como Sport Lisboa, criado na Farmácia Franco, em Belém, providenciar os meios humanos e aceitar os meios materiais fornecidos pelo Grupo Sport Benfica - e desta absorção (e não fusão, assim passaram ao papel, os pioneiros) nasceu o Sport Lisboa e Benfica, hoje com 105 anos - a democracia participativa é geneticamente natural. Génese popular, raiz democrata, esta é a matriz do Benfica, cujo debate interno sempre se tinha subordinado à dedicação ao clube. Até agora.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, a marca Benfica passou a ter um valor de mercado tremendo, fazendo que, com isso, fossem alterados os critérios de corrida ao poder. Longe vão os tempos (ou curta é a memória de alguns) em que Vilarinho se atravessou até à medula para derrotar Vale e Azevedo e Luís Filipe Vieira devolveu ao Benfica a grandeza histórica - no património, na credibilidade, na apetência pelos direitos associados à marca, televisivos e não só - tornando o clube da Luz no alvo mais apetecido dos grupos de média e demais interesses associados.
É neste quadro que hoje se disputam as eleições do Benfica - e só assim se compreende a intoxicação da opinião pública da última semana. Mas como o trigo acaba sempre por separar-se do joio, cá estaremos, serenamente, a aguardar o soberano veredicto dos sócios encarnados.

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