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22 junho 2009

Crónicas de José Manuel Delgado


'Felipes' do século XXI em nova tentativa de tomada do poder


José Eduardo Moniz seria apenas a ponta do icebergue Complexa operação visava direitos televisivos 'Privatização' da SAD seria o passo seguinte

Entre 1580 e 1640, o reino de Portugal foi dirigido pela dinastia dos Felipes, ao mesmo tempo reis de Espanha. Quase cinco séculos volvidos, do lado de lá da fronteira o alvo não foi o comércio das especiarias nem a criação da Invencível Armada, mas a entrada, pela porta dos fundos, no Sport Lisboa e Benfica. Agora que a poeira vai assentando começam a ficar mais nítidos os contornos que estiveram por de trás do aparecimento de José Eduardo Moniz como candidato à presidência do Benfica. Fontes altamente colocadas no clube da Luz contaram a A Bola pormenores de uma operação bem gizada, que apenas não se concretizou por não ter sido reunido, em tempo útil, o dinheiro pedido pelo Grupo Prisa, detentor de parte do capital da Mediacapital/TVI, para vender as acções que detém, avaliadas em 500 milhões de euros.

A Prisa, grupo de comunicação espanhol com ligações ao Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) tem atravessado grandes dificuldades em virtude da crise mundial, facto que a levou a ver com bons olhos a alienação de parte importante da TVI. A Prisa em processo de fusão consumado com a Mediapro, outra entidade espanhola com interesses particulares nos direitos dos jogos de futebol, está a criar uma empresa mais dinâmica e vocacionada para este rentável nicho de mercado.

Há uns meses, a Prisa, numa fase aguda de dificuldades, aceitou vender por um valor ligeiramente mais baixo as acções avaliadas em 500 milhões de euros à Cofina, um dos principais grupos de media portugueses. A Cofina (que viu chumbada a sua pretensão de deter um «quinto canal»), para proceder a esta operação pediu um financiamento no valor total à Caixa Geral de Depósitos (CGD), que viria a chumbá-lo. Mais recentemente, a CGD fixou em 200 milhões de euros a verba com que estava disposta a financiar a operação da Cofina. Perante este cenário, esteve em cima da mesa a possibilidade do restante dinheiro ser suportado quer pela Prisa (ficando assim a Cofina com uma participação menor) e uma outra empresa nacional com interesses televisivos, que não a Olivedesportos.

Perante a possibilidade de José Eduardo Moniz vir a ser presidente do Benfica neste quadro, tornar-se-ia muito fácil à TVI adquirir os direitos televisivos dos jogos do Benfica, vendidos à Olivedesportos, até 2013, pela irrisória quantia de oito milhões de euros/época.

Desta forma, ao mesmo tempo que a Cofina ficava numa posição de força na TVI, a nova empresa Prisa/Mediapro poderia tomar conta da marca-Benfica, a mais cobiçada, em Portugal.

Aliás, a mesma fonte do Benfica que colocou A Bola a par destes desenvolvimentos que a direcção encarnada vinha a monitorizar há algum tempo, revelou que o boss da Cofina, eng. Paulo Fernandes, através da Tvtel, que detém, fez uma proposta de exploração, antes do arranque da Benfica TV, pela qual pagaria aos encarnados um milhão de euros líquidos por ano. O Benfica recusou esta possibilidade e aí se encontra a explicação, segundo a mesma fonte, para o facto de Luís Filipe Vieira não ter falado nos jornais mais representativos do grupo (Correio da Manhã e Record) e ter referido expressamente o nome do eng. Paulo Fernandes, quando revelou alguns ataques que o Benfica estaria a sofrer e uma perseguição pessoal que lhe estava a ser feita.

Assim, e para encerrar este capítulo, fontes benfiquistas não têm dúvidas em afirmar que o clube esteve em risco de ser «tomado de assalto» pelos espanhóis, desejosos de deitar mão aos direitos televisivos do Benfica, o que viria alterar o panorama das tv's nacionais, com prejuízo da RTP, da SIC e da SportTv.

A SAD DO BENFICA

Paralelamente a este objectivo referente aos direitos televisivos, havia outro, segundo as mesmas fontes, de ordem desportiva. Podia ser feito por duas vias, partindo sempre do princípio de que o Benfica, ao contrário do que actualmente sucede, passaria a estar disposto a alienar a maioria que detém na SAD.

Assim se explicariam os contactos feitos por José Veiga (que ficaria com o futebol) junto de um grupo asiático com ligação indirecta a Stanley Ho e de um outro grupo angolano. Seria, no fundo, abrir a 'privatização' ao futebol do Benfica, colocando-o nas mãos de investidores puros e duros e retirando-o de todo e qualquer controlo dos sócios.

Caso as eleições fossem em Outubro, esta estratégia teria pernas para andar, mais a mais se fosse complementada com uma acção concertada de desgaste da Direcção, junto dos sócios, até esse momento, muito fácil de fazer — tocando nos pontos certos e catequizando cirurgicamente alguns elementos... — mais a mais se os resultados desportivos não fossem satisfatórios.

PROCESSO EM MARCHA

Porém, apesar do anúncio de José Eduardo Moniz de sair de cena, não se pense que este é um processo acabado. Há uma providência cautelar colocada (de um alegado apoiante de Bruno Carvalho que, entretanto, diz não saber de quem se trata nem estar interessado em que as eleições sejam adiadas) em tribunal pedindo o adiamento do acto eleitoral para Outubro.

Neste momento algumas coisas parecem absolutamente claras:

a) A enorme apetência pelos direitos televisivos do Benfica;
b ) a vontade da Cofina entrar na TVI;
c ) o interesse no negócio da Prisa/Mediapro;
d ) um projecto bem articulado, que entregaria a marca Benfica maioritariamente aos espanhóis e possibilitaria a venda da SAD a investidores externos.
As fontes contactadas por A BOLA garantem que, apesar de todo este esclarecimento, susceptível de explicar aos sócios o que realmente se terá passado, ainda há mais pormenores que poderão, em breve vir a lume.

José Manuel Delgado in ABola


Última Hora

O director-geral da TVI, José Eduardo Moniz, vai processar o jornal "A Bola", tendo já dado instruções ao seu advogado para avançar com processos jurídicos contra Vítor Serpa (Director do jornal) e contra o jornalista José Manuel Delgado.

Em causa está a notícia na edição desta manhã que ligava Moniz a um plano que tinha como objectivo "tomar de assalto" o Benfica, garantindo que até a venda da SAD encarnada já estava preparada.

O jornal “A Bola” escreve na sua edição de hoje que o aparecimento de José Eduardo Moniz, como hipótese para a presidência do clube, se enquadrava numa complexa operação que visava os direito televisivos do Benfica, assim como a privatização da SAD encarnada.

O diário desportivo cita uma fonte interna do clube para explicar a complexa operação que estaria em marcha para derrubar a presidência de Luis Felipe Vieira, chegando mesmo a considerar que o clube esteve perto de ser «tomado de assalto» por espanhóis.

2 comentários:

Vindo de jornais... nunca se sabe... "O corno é o último a saber!"

Eu sinceramente acredito que possam existir 1001 tentativas de "raptar" o clube!!!

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