Crónicas de João Querido Manhã, in Record
A crise da União de Leiria, repleta de situações tragicómicas, deu a
conhecer, em fecundas entrevistas, a personalidade mirabolante do novo
líder do futebol nacional, uns meses depois de eleito para presidente da
Liga num processo a que o público e os meios tinham dispensado pouca
atenção. Mário Figueiredo é, afinal, um combatente em cruzada pela
distribuição equitativa dos direitos de televisão, que merece ser
acompanhado, pois promete frequentes momentos de grande hilaridade – um
novo Robin dos Bosques que quer tirar aos grandes para dar aos pequenos.
Figueiredo
defende com entusiasmo o seu “conteúdo” e assume uma comparação
arrasadora: a Liga espanhola é menos competitiva que a portuguesa.
Pretende que a massa financeira cresça com o alargamento da Liga,
partindo do princípio de que os clubes acrescentados fazem aumentar as
audiências. Exige que os clubes grandes recebam menos direitos de
televisão, para se aproximarem dos que recebem menos. E está convencido
de que existem televisões para continuar a pagar para transmitir um
campeonato desacreditado pelas arbitragens e pelo tráfico de
influências.
E, empunhando a bandeira dos clubes revoltosos,
acha que tem nas mãos uma indústria florescente, pujante e organizada.
Considera até que pode prosseguir alegremente uma estratégia de
confrontação aos clubes “dominantes”, que os jogadores do seu núcleo de
eleitores podem jogar sem receber salário ou que uma equipa com meia
dúzia de juniores amadores numa competição profissional seja preferível a
uma honesta declaração de falência.
Acrise do futebol
português é tão aguda, que não há tempo para rir com o rumo do seu
líder, que ainda se expressa como aquele excêntrico do anúncio do
Euromilhões. As decisões que estão a ser tomadas já não têm retorno, vão
passar a dirigentes vindouros uma herança sem salvação, exceto para os
que já se encostaram aos milhões da UEFA. A brincadeira do alargamento é
tão perigosa que justificaria, desde logo, a reserva de bens pessoais
dos dirigentes envolvidos como garantia de cobertura das dívidas
obscenas que se preparam para agravar, na maior das impunidades.
Mário
Figueiredo desafia a PPTV (tem dificuldade em pronunciar
Olivedesportos), partindo da premissa de que foi Joaquim Oliveira quem
levou o futebol português à falência. Ora, não foi.
Na
verdade, a sobrevivência da maioria dos clubes, incluindo os grandes,
nos últimos 25 anos só foi possível pelo financiamento dessa entidade,
também chamado de FMI do futebol, sem culpa da gestão desvairada e
criminosa de tais fundos. O que o estrambótico presidente da Liga propõe
agora, quando a maioria dos clubes ainda tem de ressarcir o magnate por
quatro ou cinco anos de receitas adiantadas, é a repetição do que outro
visionário fez há 12 anos, quando, igualmente na crista de uma onda
revolucionária, decidiu rasgar uns contratos. A Figueiredo só lhe falta,
por estes dias, um lema do tipo “um euro é um euro”.
1 comentários:
O Manha está a ler a "coisa" de pernas para o ar!
Ou é ingénuo ou coisa bem pior...
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