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31 maio 2009

Crónicas de Ricardo Araújo Pereira no Jornal abola


O que o Benfica venceu este ano

OS benfiquistas andam fartos do futuro. A culpa é, evidentemente, do próprio futuro: promete que vem, mas nunca mais chega. É desagradável. E o presente, infelizmente, não nos entusiasma. Que ganhou o Benfica este ano? Um triste troféu, e mais nada. Mas, pensando bem, talvez tenhamos ganho mais qualquer coisinha: ganhámos um Miguel Vítor, um Ruben Amorim, ganhámos um lateral-direito que não sabíamos que já lá estava (Maxi Pereira), e ganhámos o regresso do Moreira à baliza e à Selecção. Sem o sabermos, pode ser que tenhamos começado a ganhar o futuro. Se, paralelamente, surgir uma vaga de árbitros alérgicos à cafeína, poderão estar reunidas as condições para se começar a ganhar qualquer coisa.

Como é costume, no último jogo do campeonato a equipa do Porto entrou em campo com o cabelo azul. Confesso que não sei que tipo de tinta usam os portistas para pintar a cabeça, mas é certamente uma tinta que não adere ao gel. O árbitro, Pedro Proença, apareceu com a cabeça na sua cor original. É pena que um dos homens que mais contribuiu para o tetra não tenha podido festejar devidamente.

Ao que parece, a CMVM acredita nas manchetes dos jornais desportivos. Haja alguém. No dia em que um jornal publicou mais uma notícia, nunca confirmada, da contratação de um novo treinador pelo Benfica, a CMVM suspendeu as acções do clube até o caso estar esclarecido. Se o Benfica pretende manter em segredo as suas opções no que diz respeito à equipa técnica, o melhor é dizer que o assunto é tabu. Os senhores da bolsa toleram tabus instituídos pelos clubes, mas não lhes perdoam notícias de jornal. A contratação de Ramires também já tinha sido motivo para um pedido de esclarecimento. Os organismos financeiros admitem que os clubes negoceiem defesas-centrais com clubes que não possuem o seu passe e que a transacção ocupe as páginas dos jornais durante semanas, com declarações do jogador, lamentos do clube que detém os seus direitos desportivos, e bitaites dos dirigentes do clube que os deteve em tempos mas já não detém. Mas são inflexíveis quanto a centrocampistas adquiridos ao seu legítimo proprietário. É preciso saber muito de finanças para compreender o futebol português.

A final da Liga dos Campeões foi ganha pela equipa que Pinto da Costa queria que ganhasse. Mais ou menos o que acontece cá, mas sem café. O presidente do Porto tinha justificado a preferência pelo Barcelona com as afinidades que os dois clubes teriam. Recordo que o Barcelona chegou à final depois de eliminar o Chelsea num jogo em que o árbitro perdoou cinco grandes penalidades à equipa catalã. Realmente, é o que se chama, na gíria, uma vitória à Porto.

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