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18 janeiro 2011

Futebol, import & export


É uma espécie de 'buraco negro' no normal bater dos ponteiros do relógio competitivo da época. Intruso, o mercado de janeiro sonha alterar coordenadas a meio da prova. Os jogadores vivem dias inteiros à espera da chamada mágica do seu empresário, que salta de clube em clube, onde cada direção busca o reforço que revolucione o plantel. O 'futebol dos negócios' comanda o futebol dos relvados. Não é fácil, porém, mudar o curso do campeonato a meio, sobretudo num tempo de cofres quase vazios.

Mas, mesmo com dinheiro, poucos clubes entendem bem este período. Porque este não é o momento certo para revoluções. Na melhor versão, serve para colmatar erros pontuais do início da época ou colmatar lesões. Ou seja, numa astuta relação qualidade/preço, fazer contratações quase cirúrgicas, porque nesta fase não há tempo para adaptações. Por isso, o jogador ideal de janeiro pode-o não ser em agosto. Nesta altura intermédia, a opção resulta de uma análise muito mais específica da equipa, pois já está definida a forma como joga (ou quer jogar). Vendo o que falta para isso suceder, deve apenas procurar-se o(s) jogador(es) que ponha(m) essa máquina em andamento.

Falar, neste tempo, num jogador que vale 100 milhões de euros causa alucinações. As cláusulas de rescisão deixaram de ser um 'valor sério' para serem sobretudo uma referência. Os donos do passe querem, sobretudo, fazer uma afirmação de 'personalidade negocial'. O futebol de Hulk tem um valor tangível expresso em arranques e remates demolidores. A sua importância no atual onze do FC Porto expõe o outro lado do plantel: o de um abismo a separar os habituais titulares dos crónicos suplentes (por isso, a ausência de Pereira será preocupante). O ataque com Hulk, James e Walter é muito diferente do ataque com Hulk, Varela e Falcão. O jogo com o Nacional expôs essa realidade.

A melhor contratação que se pode fazer nesta fase é, muitas vezes, descobrir no plantel um jogador até então suplente que passa a jogar melhor e torna-se uma solução, quase a salvação. Isto pode acontecer por várias razões. Pela sua subida de forma, pela adaptação, por recuperação de lesões, etc. No Benfica, pelas jogadas e golos fantásticos dos últimos jogos, é hoje tentador rever esse elemento salvador em Salvio. É evidente que o jogador evoluiu, mas, toda essa euforia, pode nesta fase causar uma ilusão de ótica perigosa na análise global à equipa.

O Benfica tem, no onze, necessidades posicionais que são visíveis desde o início da época e prologam-se até agora. São lacunas facilmente detetáveis porque têm os nomes próprios dos jogadores que as abandonaram (Di Maria-Ramirez, claro). Um extremo-esquerdo e um médio taticamente mais culto que equilibre a equipa nas transições defesa-ataque-defesa. A contratação de Fernández faz, por isso, sentido. É um bom extremo, que, sem ser um fenómeno, vai para cima dos defesas. Faltaria o tal segundo elemento mais tático. Nessa batalha, outra lição: a forma como atacou 'tarde de mais' a contratação de Elias (entretanto surgiu o Atlético de Madrid) mostra como, para os clubes portugueses, a única possibilidade de competir com os gigantes internacionais passa por 'pensar primeiro', prospeção inteligente e jogar em antecipação no mercado.

O onze e o plantel. Duas realidades que se relacionam no decorrer da época até uma dominar a outra. Nesse sentido, mais do que olhar para o onze, o FC Porto necessita neste mercado intercalar de olhar para o seu plantel. O Benfica, pelo contrário, mais do que para o plantel, necessita de olhar para o seu onze.

Mercado 'verde'

O Sporting continua a sonhar com o seu 'pinheiro' - o último é Samaras, um grego a jogar na Escócia -, mas, enquanto ele não chega, destaca-se o 'bonsai' goleador do costume. Liedson, nº 9 levezinho que gira no ar com bola e mostra como os grandes avançados não se medem aos palmos.

Paulo Sérgio já disse que esse jogador até nem seria para ser titular, antes alternativa em determinada fase do jogo. Referia-se, penso, a uma fase final com o jogo mais direto, onde o fator aéreo é decisivo, ou então a jogos, sobretudo em casa, contra equipas mais fechadas na sua área. A ideia do texto principal sobre a relação onze/plantel ressurge nesta pequena 'reflexão verde'. Mais do que uma alternativa para o plantel, o Sporting devia procurar uma verdadeira mais-valia para o onze titular.

Desde o título de 1999/00, o Sporting criou o mito de que se pode ganhar títulos pelas contratações em janeiro. Os jogadores então contratados foram André Cruz, César Prates, Mpenza e Sphear. Qual foi o mais importante? O defesa-central. Podia ser uma inspiração para os tempos presentes.

Universo da bola

A vocação aventureira lusitana adquiriu no século XXI outros contornos: os descobrimentos do futebol. Destemidos, vários treinadores partem numa cruzada pelos relvados mais escondidos do mundo. Esta semana, Jaime Pacheco rumou à China. Uma babilónia exótica que vai desde o Vietname (Calisto) até à Síria (Rui Almeida), passando pelo Kuwait (José Romão), Irão (Casimiro), Emirados (Cajuda), Bahrain (Barreto), Burkina (Paulo Duarte), Guatemala (Guilherme Faria), Coreia do Sul (Nelo Vingada), Arábia Saudita (Peseiro), etc. Pode-se ainda falar Angola, Guiné, Canadá, Marrocos... Dirão que tudo isto foge à elite onde vive Mourinho, onde ninguém ousa chegar. Manuel José tornou-se faraó do futebol egípcio e será o melhor exemplo para definir esta legião de portugueses desterrados: um 'comunicador-professor' com uma facilidade tremenda em se adaptar a situações adversas. Passados 500 anos, o mesmo ADN aventureiro.

A ameaça turca

De repente, emerge um novo oásis para os jogadores portugueses. A Turquia e o emergente Besiktas. Consequência da força negocial do 'empresário do ano', o clube turco, depois de Quaresma, contratou num ápice ao futebol espanhol e alemão, mais três craques: Simão, Manuel Fernandes e Hugo Almeida.

Além dos contratos faraónicos que certamente fizeram, há uma pergunta que é obrigatória: o que ganham desportivamente estes jogadores portugueses indo jogar para a Turquia? Sinceramente, nada.

Os adeptos receberam-nos num delírio impressionante, sem dúvida, mas o futebol turco é hoje, competitivamente, da chamada 'segunda linha'. A única diferença está na sua força financeira, num mundo de negócios que funciona como íman irresistível para o moderno e dominador 'futebol dos empresários'. São eles que determinam hoje o timing das transferências no futebol. Para o bem e para o mal.

Não existem ilusões: os grandes negócios de Agosto já estão, hoje, todos programados por esse sistema. A maioria dos clubes, financeiramente dependentes, vive nesta balança. Muitos tornaram-se quase 'placas-giratórias' de jogadores.

Vendo toda esta 'montagem turca' pelo puro prisma futebolístico, é perturbador ver o nosso futebol perder alguns dos seus grandes jogadores para outro com um nível técnico e tático muito inferior ao português. Só para se ter uma ideia do tipo de futebol que se joga na Turquia, quando um jogador faz um passe para o lado, é quase engolido pelos assobios dos adeptos que querem é ver a bola perto da baliza adversária o mais rapidamente possível - mesmo com um pontapé longo pouco pensado para a frente. Ver Simão neste cenário é um atentado ao bom futebol.

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