Qualquer benfiquista que olhe para o jogo do Benfica em Telavive apenas com olhos para esse jogo não pode de deixar de se sentir acometido por uma estranha mas genuína sensação de pena de Jorge Jesus. Mais do que dos jogadores.
Hoje, é Jesus o homem destinado a crucificar-se, e se qualquer benfiquista olhar, portanto, para o jogo de Telavive como o único jogo desta história, então não pode mesmo deixar de se imaginar na pele do treinador benfiquista: mas como é que foi possível perder este jogo por 3-0?
Coitado de Jesus; só lhe faltava mesmo ver-se associado a essa terrível lei de Murphy, segundo a qual «se algo se prevê que possa correr mal, então correrá ainda pior». Mais ou menos isto.
Digam lá, os benfiquistas, com franqueza: não sentiram a mesma estranha mas genuína sensação de que algo poderia correr mal no Estádio do Dragão? Pois correu ainda pior.
E desta vez: não terão sentindo, lá no fundo, a mesma estranha mas genuína sensação de que algo poderia correr mal em Israel? E, sinceramente, o que seria correr pior?
Apesar de apregoar, no início da temporada, ter a melhor equipa e a convicção de que o Benfica seria esta época bicampeão nacional, Jesus parece hoje, apenas três meses volvidos, um treinador destroçado, com muito menos alma e visivelmente mais descrente.
A equipa não podia ter começado pior o campeonato, mostrou relativamente cedo ter perdido boa parte da identidade vencedora que a levou ao título e, o que sempre me pareceu mais preocupante, foi perdendo espírito. Por falar em espírito e traduzindo o espírito da manchete de ontem de A BOLA faz realmente sentido perguntar: a equipa não pode ou… já não quer?
Para quem está de fora, é difícil, muito difícil acreditar que não haverá nenhuma razão de fundo para o Benfica ter mudado tanto do título para agora. É difícil.
Perguntarão: mas Jorge Jesus deixou de ser o bom treinador que a grande maioria reconheceu, sobretudo, na última temporada?
Como posso duvidar das qualidades técnico-tácticas de Jesus? Não posso. Mas posso duvidar de todas as outras. Diz Jesus: «De futebol sou eu catedrático.» Acredito. De tácticas, quererá dizer. Mas, desculpem lá o regresso do lugar-comum, um treinador de futebol é hoje muito mais que um treinador; é treinador, gestor de recursos humanos, comunicador, líder, confessor e conversor, manipulador e defensor; tem de contagiar, motivar, emocionar, congregar e confiar, ser eticamente solidário e tolerante, e, por fim, ser responsável, afirmativo e claro nas regras que impõe e na exigência que define.
Em qual destes aspectos mais será Jesus catedrático?
Já alguém ouviu o treinador do Benfica partilhar o sucesso com alguém da sua equipa técnica?
E alguém o ouviu assumir por inteiro a responsabilidade de uma única que fosse das oito derrotas que a equipa já soma nos 18 jogos oficiais que leva nesta temporada?
Jesus sabe de futebol? Saberá certamente, e talvez muito. Jesus é um bom líder? Infelizmente para ele e para o Benfica, parecem evidentes os sinais de que não será. E sem um bom líder, nenhuma equipa de futebol pode aspirar a ser verdadeiramente grande!
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