As grandes equipas vencem até quando jogam pior, mas este Benfica tem perdido mesmo alguns dos jogos em que foi melhor durante mais tempo, como voltou a acontecer em Gelsenkirchen. Decorrida que está 20 por cento da época, a amostra já é de molde a permitir conclusões mais fiáveis e certeiras. E as principais são: o Benfica gastou 31,4 milhões em ordens de compra, mas foi menos certeiro do que desejava em boa parte das contratações; Jorge Jesus não tem conseguido manter o toque de Midas que, na época passada, lhe granjeou elogios de todos os quadrantes (até de Pinto da Costa); alguns dos craques com mais responsabilidades e estatuto no plantel têm estado muito abaixo do que seria expectável.
Este conjunto de circunstâncias reflectiu-se no rendimento colectivo e o Benfica perdeu cinco dos nove jogos oficiais que leva disputados, uma exorbitância, principalmente se levarmos em conta que foi batido somente por seis vezes em toda a época passada.
Na temporada anterior, o Benfica fazia tudo aquilo que distingue as grandes equipas. Tinha uma boa organização colectiva, era fortíssimo nos lances de bola parada, sabia reduzir os espaços entre linhas e funcionar em organização, mas principalmente em transições rápidas, tanto defensivas como ofensivas.
Hoje, o seu jogo parece algo entorpecido, funcionando muitas das vezes como um disco riscado e incapaz de fazer as demonstrações de ferocidade e eficácia que tanto entusiasmaram os adeptos na última época. Falta-lhe arquitectura e intensidade no meio-campo, demasiado rotineiro. Em suma, não tem estética nem épica.
Claro que, mais importante do que as perdas na elegância plástica são as inúmeras falhas de concentração de vários jogadores, a começar por aqueles que, no passado recente, transpiravam segurança e fiabilidade. Maxi Pereira e, principalmente, David Luiz estão à cabeça deste lote, principalmente o brasileiro, que parece inebriado pelos elogios e pelas recentes chamadas à selecção.
Também no capítulo físico há diferenças consideráveis, não colhendo já a tese de que alguns jogadores continuam a acusar o desgaste do Mundial em África. Claro que a cabeça é que comanda o corpo e não é de excluir a hipótese de a falta de confiança estar a reflectir-se no resto. E já nem o guarda-redes serve de desculpa, porque Roberto parece estar a ultrapassar o período crítico de falta de confiança e começa a afirmar-se como um verdadeiro reforço.
A verdade é que o Benfica perdeu boa parte do seu poder de intimidação. Falta-lhe a visão panorâmica de Aimar, novamente perseguido por lesões. O principal prejudicado com isso tem sido Saviola, que deixou de ter a sua alma gémea em campo. Carlos Martins até tem cumprido quase sempre com acerto quando joga no meio, mas é um jogador diferente, menos dado ao futebol de filigrana da dupla argentina. Obviamente, falta também o equilíbrio que era dado por Ramires e a capacidade de acelerar o jogo de Di María. Mas, chegados a Outubro, não faz sentido continuar a discutir as deserções, até porque elas eram inevitáveis e houve mais do que tempo de as colmatar de forma bem mais eficaz.
Nicólas Gaitán ainda não justificou os 8,4 milhões de euros e dificilmente o conseguirá enquanto houver a tentação de o comparar com Di María. Tem uma qualidade técnica inquestionável, centra bem e pode jogar na direita (ou na esquerda, ou até no meio). Mas já se sabia que o seu futebol é mais feito de diagonais curtas para o interior do que de cavalgadas pela linha. Com ele em campo, o Benfica é menos explosivo e tem menos profundidade do que tinha, obviamente, com Di María, até porque o problema não pode ser compensado na outra banda, pelo menos enquanto Salvio não começar a jogar o que não conseguiu mostrar nos breves meses em que esteve no Atlético de Madrid.
Jorge Jesus tem, nos últimos tempos, procurado ultrapassar esta questão com o adiantamento de Fábio Coentrão. Sendo verdade que o Benfica ganha profundidade, fica a perder em duas vertentes. Coentrão é hoje um dos melhores laterais-esquerdos da Europa (como o próprio Jesus não se cansou de dizer na altura certa) e o seu futebol ofensivo ganha ainda maior dimensão quando parte de terrenos mais recuados. Tão ou mais grave, a sua utilização como médio-interior obriga à entrada na equipa de César Peixoto, que não domina as artes da posição nem cumpre os mínimos desejáveis para integrar uma equipa de ponta.
É sabido que para a entrada tremida do Benfica na época muito contribuiu a forma esmagadora como foi derrotado na Supertaça pelo FC Porto. Um desaire que abalou a confiança e os alicerces de uma equipa em reconstrução, não sendo por acaso que o campeão nacional seja hoje derrotado várias vezes nos detalhes, quando era precisamente nos pormenores que antes fazia muitas vezes a diferença.
É também verdade que, nos últimos jogos, tinham-se registado sinais claros de retoma, que se esfumaram bastante frente ao Schalke 04. Sendo certo que nada está ainda irremediavelmente perdido para o Benfica, tanto na Champions como internamente, não deixa de ser verdade que não há grandes equipas sem maturidade e sem a capacidade de se manterem firmes em todos os jogos adversos. É esse o desafio de Jorge Jesus.
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