Aprendi nos Esteiros do Soeiro, também nos Capitães da Areia, do Jorge Amado. Os filhos dos pobres têm mais raiva. Como aqueles com Uma Vida Violenta, os putos do Pier Paolo Pasolini. Como outros nos tempos imperiais do pão, do caldo ou de quase nada disso. Como o Mantorras, bola no pé, tantas vezes de trapos. Mais aquele ar angélico, aquele corpo de vento, aquela alma feliz
Cedo, muito cedo, mostrou-se a Van Gaal, a Mourinho também. A quimera chamava-se Barcelona. Despiu complexos, deu-se todo ao sonho. Deu-se tanto que até agradou. Razões burocráticas, também cruéis, devolveram-no ao seu mundo. E não tinha outro, no sortilégio das habilidades infindas com a redonda? Tinha, tinha mesmo.
Passou por Alverca e a todos fascinou. Abriram-se-lhe as portas da Luz, palco de tantas glórias. Não desmereceu, teve a plateia a seus pés. Nova coqueluche do Benfica, soltava o génio. Era narcótico no drible, letal no golo. Havia ali aroma a terra quente, técnica nativa, delicioso futebol-macumba.
Mal olhado por defesas ímpios, machucavam-lhe os ossos, torturavam-lhe o ânimo. Um dia, ao lado do Eusébio e do Simões, na catedral vermelha, até se lançou o grito “deixem jogar o Mantorras”. Reivindico a paternidade da frase, essa que perdura no santuário da bola.
A insânia competitiva arrumou com Mantorras, diz-se que também um inadequado acompanhamento clínico. Sobrou um olhar doce, sobrou um pedacinho do infinito.
1 comentários:
Gritemos: Reformem o Mantorras|
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