Neste blog utilizo textos e imagens retiradas de diversos sites na web. Se os seus autores tiverem alguma objecção, por favor contactem-me, e retirarei o(s) texto(s) e a(s) imagem(ns) em questão.

13 outubro 2010

Os defesas são de Marte... os avançados de Vénus

Seleção nacional. Cada setor tem os seus habitantes naturais. A 'matemática' do meio-campo. Que 'jogadores de elite' existem no futebol português?

Fábio Coentrão... de Marte ou de Vénus?
Estela Silva/Lusa
Existem jogadores que deviam vir com 'livro de instruções'. Tudo ficaria mais simples. Para o treinador, em busca do melhor jogo para a equipa. Para os adeptos, que assim seriam mais justos na hora de julgar o seu valor. Se tivéssemos de simplificar as duas grandes expressões futebolísticas em termos de jogadores, seria quase automático dividi-los entre avançados e defesas. Como se viessem de planetas diferentes. Os defesas de Marte, mais guerreiros para afastar todas as bolas e ameaças de golo. Os avançados, de Vénus, para serem mais sedutores na hora de conquistar a baliza.

Ou seja, como os 'homens e mulheres' do livro de John Gray com o mesmo título, eles, em tempos (entenda-se num futebol romântico de antigamente ou meramente teórico) também viviam relações duradouras, porque aceitavam e respeitavam as suas diferenças. Depois, desceram à Terra (entenda-se ao relvado) e esqueceram as diferenças, passando a fazer exigências mútuas sem sentido. Muitas equipas vivem nesse dilema existencial. E o seu futebol ressente-se disso.

A missão dos defesas parece menos interessante, mas Hierro, antigo defesa espanhol, esclarecia que "há quem não entenda o prazer de roubar a bola a outro jogador, mas nós, os defesas, sentimo-lo bem!". É algo que, após cada corte, salta à vista na face de Ricardo Carvalho, Bruno Alves ou Pepe.

Mas, além das características e missões distintas que cada grupo tem, o jogo dá-lhes outros pontos de distanciamento ou aproximação. Se o talento os diferencia, a tática iguala-os. É este ponto que o treinador deve agarrar.

Tem o atual futebol português potencial para reunir, no mesmo onze, esses diferentes núcleos com capacidade de fazer em campo essa comunicação tática de forma sustentada no tempo? Falo, claro, da seleção e do grupo de 'jogadores de elite', com dimensão internacional indiscutível, que se deve distinguir a cada espaço temporal de, pelo menos, dois anos. Para atingir esse 'efeito tático' de aproximação é necessária uma 'terceira espécie' que só o futebol consagra: os médios. Ao invés dos outros grupos, com código genético diferente, o médio pensa em duas coisas ao mesmo tempo. São eles que, numa equipa, mais definem o estilo de jogo. E, na seleção, a questão é essa mesmo. Com a defesa pacificada em termos de soluções e o ataque desenhado por extremos, o problema por resolver está mesmo no meio-campo.

A ausência do velho 10, médio-centro ofensivo organizador e com criatividade, como foram, cada qual no seu tempo, Rui Costa e Deco, obriga a mudar a face do sector. Todos os nossos médios de elite são hoje demasiado parecidos no que podem dar ao jogo. Tiago, Manuel Fernandes, Meireles, Pedro Mendes, Veloso podem alguns ter maior capacidade de chegar ao ataque, mas nenhum deles é da chamada segunda linha do meio-campo.Todos gostam de vir mais de trás. Moutinho joga (ou melhor, quer jogar) em demasiados sítios ao mesmo tempo para ser esse elemento. A colocação de Pepe como médio-defensivo (trinco) ainda confunde mais esta ideia, pois ele é, por natureza, um defesa-central. Carlos Martins é o mais próximo desse estatuto. Está em grande momento de forma mas a dúvida é saber se irá sustentar essa nova 'construção' do seu futebol (técnica e emocionalmente) ao mais alto nível.

Desta forma, cada vez mais o 4x2x1x3 da seleção deve inverter a equação numérica do meio-campo. O '2x1' passar para '1x2'. Ou seja, para substituir um jogador, usar... dois jogadores.

O segredo do bom futebol atual é os jogadores, em campo, pensarem todos a mesma coisa ao mesmo tempo, não distinguindo defesa e ataque pelas suas posições. Começar a atacar (recuperada a bola) com os defesas, começar a defender (perdida a bola) pelos avançados. Viverem no mesmo território de elite apesar de terem vindo de 'planetas' diferentes.

Sete jogos, um onze

O país futebolístico insiste em discutir o futebol com um apito na boca, mas o campeonato tem revelado, até à 7ª jornada, várias razões para ver os jogos de outra forma. Num plano geral, a qualidade de jogo melhorou bastante esta época.

O início do campeonato costuma ser o chamado tempo dos 'pequenos heróis'. Será o espaço onde encaixam Olhanense e Académica, projetos de bom futebol desenhados, respetivamente, por Faquirá e Jorge Costa. Cada um deles tem o seu avançado velocista para assustar os defesas adversários quando explodem a correr atrás da bola.

Um estilo no qual Sougou, extremo voador de Coimbra, parece um autêntico desenho animado imparável que, mesmo quando cai e perde a bola, está de pé, inteiro, logo na cena a seguir (entenda-se jogada seguinte).

Em Olhão, o 'baixote' Paulo Sérgio também acelera e ganha espaços perto da baliza antes dos outros. Por isso surgem ambos neste onze ideal de início de campeonato. Como está um guarda-redes brasileiro recém-chegado, Gottardi, em quem talvez devido às reduzidas assistências aos jogos do Leiria (outra boa equipa no topo da tabela) ainda poucos repararam.

No Minho, ao lado do Braga, ressurge o Vitória de Guimarães. Apesar de Manuel Machado, o seu treinador, poder por si só criar um novo dicionário de léxico futebolístico, em campo a equipa tem um discurso simples: ora com dois avançados soltos (Edgar-Toscano), ora com dois trincos a defender (Cléber-Flávio Meireles), diz claramente o que quer a cada momento do jogo. E com isso soma pontos (ganhou ao Benfica e empatou com o FC Porto).

No fim, a classificação irá certamente espelhar a macrocefalia habitual do nosso futebol. No início, porém, todos podem sonhar alto. Ainda bem.

Sincero de mais


Cristiano Ronaldo a 'bailar' Arni Torfason/AP
O mundo particular de Cristiano Ronaldo, uma espécie que há muito disparou da realidade terrena do futebol português e vive numa galáxia distante. Fora e... dentro do campo. Elogiam-se muito os jogadores que onde põem os olhos põem a bola. São cirurgiões do passe e do remate. Os verdadeiros mágicos, porém, são aqueles que com intencionalidade malandra põem os olhos num sítio e, cirurgicamente, põem a bola... noutro. Ronaldo sabe fazer as duas coisas, mas nos últimos tempos o seu futebol, espécie de 'TGV com bola', tornou-se demasiado 'sincero'. O que ameaça fazer... faz. Arranques, dribles, remates.

Para entender melhor esta tese, nada melhor do que recorrer aos clássicos. Garrincha. Conta-se que um dia quando um treinador adversário tentou convencer os seus defesas de que não era assim tão difícil travá-lo disse que "sim senhor", ele era um craque, mas que fazia sempre a mesma finta. Simulava ir para a esquerda e voltava a puxar para a direita e passava o defesa com ela. Os jogadores ouviam-no atentamente. De facto, aquela era mesmo a finta típica do "anjo das pernas tortas", como lhe chamou Vinicius de Moraes, só que algo não batia certo. Foi então que, no meio do silêncio, um jogador, o que estava mais perto dele perguntou: "Sim, mister. Ele faz isso. E vai fazer outra vez neste jogo. Mas... quando?"

Ou seja, a sinceridade do futebol não está em fazer coisas diferentes de cada vez que se toca na bola, até se pode fazer a mesma coisa várias vezes, o difícil é ninguém descobrir quando e em que local ela se fará. Cristiano Ronaldo é hoje um mágico 'sincero de mais'. Basta aprender a 'mentir' algumas vezes e criar ilusões para criar... dúvidas. Afinal, quando é que ele vai arrancar enlouquecido com a bola?

Hulk

O FC Porto de Vilas-Boas é uma equipa mais lenta do que a de Jesualdo. O facto de privilegiar mais a posse de bola, em jogo apoiado, torna o impacto que Hulk provoca no jogo (adversários e própria equipa) ainda mais explosivo. Partindo da direita, puxa a bola para o pé esquerdo e joga com o que a natureza lhe deu: potência, velocidade, técnica e remate. O facto de a equipa jogar mais "devagar", obriga-o a controlar melhor as mudanças de velocidade e o timing de travar para rematar e, até, passar a bola, algo que antes era raro. Com esses fatores tem sido a chave azul-e-branca em muitos jogos (entenda-se invenção de jogadas para golo).

Fábio Coentrão

Lateral-esquerdo ou extremo, vive cada 90 minutos a correr de uma baliza à outra. Perto da sua, luta a defender e recupera a bola. Perto da do adversário, mete velocidade e cria jogadas de golo. Uma alternância que cansa só de ver. Coentrão é hoje o jogador mais importante na equipa do Benfica, porque depende dele a possibilidade de Jesus aplicar o seu preferencial plano de jogo, ora com profundidade dada num flanco por um extremo puro (antes Di Maria), ora com capacidade para, depois, perdida a bola, rapidamente se reequilibrar defensivamente. Só Coentrão tem a chave que garante essas duas coisas. O rebelde tornou-se um jogador responsável, sem perder a imaginação insubmissa. Como o próprio disse: "Antes jogava só com os pés. Agora jogo também com a cabeça!".

Postiga

O Sporting continua um mundo de problemas, dentro e fora do relvado, mas, mesmo com a equipa em 10º lugar emerge um jogador quase como se jogasse sobre uma "jangada de pedra": o renascido Postiga. Apanhando o vazio deixado pela crise de Liedson (sentado no banco) reencontrou a sua velha casa nº9. Um habitat onde voltou a marcar golos, o mais fantástico de expressão europeia (nos 5-0 ao Levski). A equipa muda demasiado de estrutura (ora joga num 4x3x3 com extremos, como num 4x4x2 losango com laterais a subir, ora passa para 4x2x3x1 com dois pivôs, ora passa para 4x1x3x2 com um trinco) e não define uma 'casa tática' preferencial. Um jogador que, mesmo por entre todas estas sucessivas mutações, consegue destacar-se é algo que, por si só, merece realce. É a chave-Postiga.

Lima

Três golos em Sevilha (vitória por 3-4 e entrada na Champions) e uma bomba do meio da rua no Dragão pondo o Braga a ganhar 1-2. Obras de Lima que ergueram os sonhos bracarenses. Por isso, a desilusão pelo que surgiu depois. Derrotas na Champions (6-0 e 0-3) e reviravolta no Dragão (3-2). O Braga continua personalizado mas não tem conseguido gerir dois níveis competitivos tão elevados. Domingos já mudou mais taticamente em 9 jogos do que na época passada toda. Principais problemas? Os laterais e posição indefinida de Aguiar. Principais qualidades? Os centrais Moisés-Rodriguez, a classe de Alan e a velocidade de Matheus. Heróis e vilões do livro de aventuras aberto pela chave goleadora de Lima.

0 comentários:

Enviar um comentário

Qual a tua opinião?
Usa e abusa deste formulário para tecer as tuas ideias em defesa do GLORIOSO SLB!!