Por Jorge Malheiro in O Benfica
Até o nome lhe ficava a matar. Coluna era coluna. Resistência, solidez, força. "Os homens são na proporção dos seus desejos", escreveu o mestre Almada Negreiros. Coluna era enorme, porque desejava, desejava intensamente.
Nasceu na antiga Lourenço Marques, entreteu-se com várias modalidades, alardeando singular ecletismo. Praticou basquete, natação, atletismo. Com mais apego ainda futebol, no Desportivo, filial laurentina do Benfica. Transformado em ídolo local, não tardou a guia de marcha para a então Metrópole, assim se dizia em bom tom situacionista.
Mário Coluna até não teve coexistência pacífica com José Águas, no comando do ataque vermelho. Eram redundantes, ainda que soberbamente. Visionário, Otto Glória, técnico afamado, colocou-o na intermediária. Perdeu-se um grande avançado, ganhou-se um centro-campista fenomenal. Vivia o jogo com cuidados paternais, tinha gestos santos.
Era o sol do meio-dia. Eminência parda de Eusébio, mais tarde companheiro de equipa, tudo venceu, com excepção da Taça Intercontinental, mau grado duas tentativas. Esteve em cinco finais europeias, foi Bicampeão da Europa, sempre com golos da sua lavra. Pela Selecção, atingiu o pódio, no Inglaterra 66, era o capitão, o líder da mais afinada orquestra da bola nacional. Na mundialização do seu prestígio, envergou também a braçadeira da equipa da FIFA, na festa de homenagem ao mítico Ricardo Zamora. Dava músculo, dava cérebro, dava alma, dava até pele, dava até sangue. Dava ordens ao jogo, dava-lhe ordem também. Dava jeito, tanto jeito. Dava o que dava e não dava mais porque mais não havia para dar. Sem exagero, Coluna era o farol do futebol português. Depois, o último imperador. Agora, o “Monstro Sagrado”.
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