Por Rui Catalão in ionline
Enquanto no FC Porto já há modelo, sistema e até intérpretes definidos, Jorge Jesus ainda não atinou com o pós-Ramires e Di María. É que Coentrão há só um
O fardo pesado que Pinto da Costa pôs nos ombros de André Villas-Boas tornou-se mais leve no sábado. A conquista da Supertaça desfez o nevoeiro formado em torno da contratação de um treinador muito jovem, com poucas provas dadas, e de um FC Porto até agora órfão de líderes. As ideias do treinador chegaram à equipa e a motivação anulou o favoritismo encarnado que pairava sobre o jogo. No fim, tudo tinha mudado. O FC Porto é agora a equipa com mais certezas. Já o Benfica mostrou fragilidades que não lhe eram conhecidas.
É inevitável referir o nome de Varela: voltou mais cedo das férias para concluir a recuperação da lesão que o afastou dos relvados desde Março e esteve no seu melhor - a jogada do golo de Falcão fala por si. Além disso, também é justo reconhecer o mérito de uma dupla recém-construída que tantas suspeitas levantou com as fracas exibições no Torneio de Paris. Rolando e Maicon estiveram seguros a travar os caminhos para a sua baliza e o primeiro ainda subiu para abrir o marcador. Pelo menos por uma noite, Bruno Alves não fez falta nenhuma.
O mesmo não pode dizer o Benfica em relação a Ramires e Di María. Depois de trabalhar sobretudo o 4x3x3 durante a pré-época, Jorge Jesus voltou a pegar no 4x4x2 losango que serviu de base à conquista do título na época passada. Só que agora já não tem duas das peças mais importantes daquele esquema. Como resultado, o Benfica apareceu em Aveiro sem velocidade, sem criatividade e sem o espírito goleador do costume. As culpas têm de ser repartidas, mas não é descabido dizer que os problemas começaram com as saídas de Ramires e Di María. O brasileiro dava ao meio-campo a garra, a entrega e a capacidade física que agora parece faltar. A ausência do extremo argentino notou-se acima de tudo na falta de arte do jogo encarnado, mas também nas mudanças de velocidade que raramente existiram.
JARA, GAITÁN... Para já, Rui Costa ainda anda no mercado à procura de mais um reforço para tapar o buraco criado com a transferência do Queniano Azul para o Chelsea. Mas - pelo menos em teoria - Jara e Gaitán chegaram para ajudar a ocupar a vaga de Di María. Já ficou no entanto provado que nenhum deles encaixa muito bem neste 4x4x2: Jara fez boa parte da pré-época como terceiro elemento de um tridente ofensivo formado a partir de Cardozo e Saviola e até deu boas indicações. Agora fica a dúvida: Jesus deve deixar o losango no baú de recordações do título da época passada? Por enquanto, tudo aponta nesse sentido. Até porque só Coentrão tem velocidade para fazer de Di María. O que leva a mais uma interrogação: vale a pena desviá-lo do lado esquerdo da defesa, onde tem sido um dos melhores? César Peixoto cumpre, mas não é a mesma coisa. Para todos os efeitos, Coentrão é nesta altura o melhor lateral e o melhor ala do Benfica. E isso não é bom sinal.
Ainda no meio-campo, Jorge Jesus mostrou desde o início da pré-época que Airton estava à frente de Javi García. Mas as boas exibições de outros jogos estiveram longe de Aveiro. O trinco brasileiro tremeu, falhou vários passes e não teve discernimento nem reflexos para se antecipar a Falcao no lance do segundo golo. Javi viu o jogo sentado no banco, mas será esse o seu lugar? A época passada diz o contrário.
De vértice em vértice, chegamos a Pablo Aimar, o jogador cuja utilização Jorge Jesus gere com pinças. Bom, o argentino é capaz de passar da magia ao anonimato de um jogo para outro. E no sábado esteve mais próximo de não existir em campo do que de encantar e ajudar a resolver. Aimar continua a ser Aimar, mas Carlos Martins tem sido mais influente no meio-campo do Benfica. Com a chegada de mais um reforço e a mudança para o 4x3x3, Jesus terá de repensar o papel do número 10 na equipa.
... E ROBERTO De dúvida em dúvida chegamos a uma que se prolonga há semanas: Roberto. O espanhol voltou a não ficar bem na fotografia, desta feita no golo de Rolando, e deu mais motivos para os críticos contestarem os 8,5 milhões de euros gastos na sua contratação. No final, Jesus disse o que sempre tem dito: "Tenho confiança em todos os jogadores." Mas Roberto continua sem justificar o estatuto de quinto guarda-redes mais caro da história do futebol.
No Benfica de ontem só faltou Maxi. E pela segunda vez consecutiva os encarnados não marcaram. Pode não chegar para soar o alarme, mas dá que pensar.
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