Por Jacinto Lucas Pires in JN
Sei de um miúdo de cinco anos, quase seis, que diz que, quando for grande, quer ser jogador de futebol; se não der, treinador; se não der, professor de matemática. Parece uma ligação estranha, não é, esta entre bola e matemática? Mas basta olharmos para o meio-campo do Benfica para percebermos que tem tudo a ver.
Alguns melómanos, quando, de frente para um qualquer milagre musical (pensemos Bach, Jobim, Stevie Wonder), buscam o mais alto dos adjectivos, passam por “grandioso”, “genial”, etc, e só se dão por contentes se aterram em “matemático”. E não foi o nosso poeta dos poetas que disse que o binómio de Newton é tão belo quanto a Vénus de Milo? Pois, é assim também o meio-campo do Glorioso quando está bem afinadinho, a trocar a bola em velocidade, de pé para pé, triangulando surpresas até aos lugares do perigo. Escrevo ainda antes do jogo na Luz com o Tottenham, mas quem viu, por exemplo, o 4-1 ao Aston Villa não poderá deixar de concordar. Aquele ateliê-laboratório do qual podem fazer parte Aimar, Martins, Airton, Gaitán, Ramires, Amorim, García, Menezes (e dizer os nomes é, desde logo, uma espécie de reza feliz acreditando em toda a vitória, na vitória máxima), aquilo é do que há de mais concreto e mais musical. Isto é, de mais matemático.
Do jogo com o Aston Villa – e para lá do poema lírico que merecia essa máquina artística do meio-campo – ocorrem-me três notas individuais. (Perdoem-me, credo, o tom professoral.) Uma é sobre Roberto: que alegria não ter nada a dizer sobre o novo guarda-redes. Outra sobre David Luiz: parece mesmo certo, não acham?, que seja dele a braçadeira de capitão. Caro Jesus, não quero sugerir nenhuma revolução a partir de cima, mas não seria justo, em virtude do que os jogadores dizem ou não dizem, passar esse simbólico (e, portanto, importantíssimo) cargo de “primus inter pares” do brasileiro velho que quer partir para o brasileiro novo que escolheu ficar? A terceira nota é só um ponto de exclamação: Jara! Com avançados assim focados, chuteiras que gostam da bola mas que também sabem despachá-la no momento certo, vamos longe, quantos golos, vamos, sim.
Este ano é para a alegria, caros amigos. Futebol de pôr Maradona a saltar em Buenos Aires, Cruyff a aplaudir em Barcelona, Eusébio a voar sobre os imensos portugais mundiais. Não acreditam? Vejam os jogos, espreitem as manchetes. Até o treinador do Real já está com medo de nós...
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