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07 agosto 2010

Quem manda na equipa sou eu! - Por Luís Freitas Lobo

Por Luís Freitas Lobo in Expresso

Comandar. Como escolher um capitão de equipa. As diferentes ideias de liderança. A importância da noção de dupla nos defesas-centrais.


Ele é quase uma figura mítica. O líder de balneário. Cada vez mais ele aparece nos divãs futebolísticos mais profundos. Não é um diagnóstico fácil. Porque o jogador de futebol, egocêntrico por natureza, precisa que alguém de fora, treinador ou diretor, lhe imponha regras, mas tem dificuldade em aceitar que alguém de dentro, saído do seu grupo, se lhe imponha. O conceito de liderança pode adquirir, porém, diferentes contornos.

Pensemos só no futebolístico. O jogador pode até valer mais pelo que transmite espiritualmente do que pelo que dá ao jogo tecnicamente. Por exemplo, David Luiz e Luisão. Qual fará mais falta ao Benfica? Depende da perspetiva. David Luiz é hoje um jogador de classe mundial ainda a crescer. Potencial fantástico. Rápido, forte e com técnica, corta e arranca com a bola. Luisão tem dificuldades com a bola, não é elegante. Quanto mais atrás defender, melhor parece (porque, na área, tira tudo de cabeça). Impõe-se sobretudo pelo grito, pelo carácter que transmite e intimida (túnel, balneário e campo). Quem comanda mais a equipa (Luisão) pode, porém, não ser, neste caso, quem, no geral, mais falta fará (David Luiz), se sair.

Nesta teia de relações em campo há jogadores que são um pouco como os 'pais' dos outros. Os defesas-centrais, voltam a ser o exemplo. Há sempre um que na dupla cresce sob a 'asa' do outro. Não é um drama. É, até, natural, num plano técnico e humano de complementaridade sem comparação com outros lugares do campo. Pensamos num e logo imaginamos o outro. É o melhor que pode acontecer a uma equipa ao analisar os seus centrais.

Por isso, para o FC Porto perder Bruno Alves é perder mais do que um mero central. Sai, também. o 'pai' do outro... central. Gritando com todos, colegas e adversários, fazendo de cada corte uma afirmação de carácter, a seu lado qualquer central, mesmo saído do berço, se sente maior. Rolando foi o último exemplo. Sem esse seu 'capitão natural', perde-se uma base do ADN dos onzes azuis-e-brancos desde há décadas. Um traço que dá condições (primeiro mentais, depois técnicas) para os outros jogadores crescerem e serem melhores até do que verdadeiramente são.

Noutro prisma, o Sporting também vive a síndroma do capitão perdido. A Polga parece faltar algum carisma, que tem Carriço, mas ainda talvez demasiado preso ao 'berço'. Paulo Sérgio disse que a braçadeira irá vaguear por diferentes jogadores. É intrigante. Ou seja, a braçadeira até pode andar a passear, a liderança essa é que não. Porque ela não nasce de se ter uma braçadeira. Emerge naturalmente do grupo. Mas, no limite, o verdadeiro capitão até pode nem jogar. Ser suplente. E entrar outro em campo com a braçadeira. Este cenário sucede mais com os ditos veteranos. Um exemplo? Vítor Baía nas últimas épocas no FC Porto. Faz parte da transmissão dos códigos, regras de comportamento que regem cada habitat particular, de clube para clube.

Início de época e ressurge a questão da escolha do capitão. Primeira tentação: o que grita mais no grupo. Ou o que melhor fala com os árbitros. A magia do jogador-símbolo que fica épocas infinitas no clube acabou. O líder deve ser, então, decidido pelo olhar. A forma mais forte de dizer "quem manda na equipa sou eu!". Lembra o que dizia Futre quando lhe perguntavam o que fazia Baresi para liderar o balneário do Milan dez anos seguidos: "O Baresi não diz nada. Apenas olha para ti!".

"Ser quem não é..."

Sporting: o início

As coisas mudam rapidamente. Construir uma equipa pode ter vários pontos de partida. Existe o lado da tática, claro, mas existe também o da mensagem de personalidade coletiva que se quer construir. A mensagem de Paulo Sérgio em Alvalade é, neste momento, clara. Os dois símbolos (e donos do balneário) do Sporting das ultimas épocas "desapareceram". Moutinho (vendido), Liedson (de goleador indispensável a "um jogador como os outros" que vai para o banco e entra quando tem de entrar). Ao mesmo tempo, Vukcevic ressurge a titular, com a autoridade de quem se sente protagonista de um filme híbrido de regeneração. O primeiro jogo, na Dinamarca, com o Nordjiland confirmou esta reciclada teia de relações que faz os pilares "tático-humanos" do novo Sporting. O treinador (e estrutura) quer marcar a rutura, afirmar o "novo ciclo". Silenciosamente, mexeu-se no balneário e sua correlação de poderes. Nesta fase, essa estratégia de (re)construção de bastidores é mais importante do que a do relvado. Porque visa mudar formas de pensar, referencias individuais do grupo e condutas de comportamento. Pelo meio, muda também a equipa taticamente, para ela ser capaz de jogar em dois sistemas (4x4x2 clássico e 4x2x3x1). A disponibilidade física dos jogadores nesta fase é total e a equipa joga bem. Maniche e Pedro Mendes parecem duas "jovens promessas" tal a forma como correm e jogam. A dupla atacante Saleiro, excelentes pormenores de passe, e Postiga (com Liedson no banco a ver). As aventuras de Vukcevic na direita e, após a desmarcação exemplar, a finta e o golo. De jogador proscrito a primeira página de jornais. O futebol tem, de facto, caminhos insondáveis, mas ver, de repente, toda esta inversão de valores confunde mais do que seduz. Porque ninguém pode, genuinamente,ser quem não é.

Primeiro sonho

Sporting de Braga europeu

Um penálti, um canto e um livre. Três lances, três golos. Primeiras pedras da construção europeia do sonho bracarense na Champions. Frente a um rudimentar onze escocês, o Celtic, em campo hoje com um valor muito longe da dimensão da sua história, a primeira aparição do onze Domingos na nova época resgatou todos os princípios de jogo (esquema, 4x2x3x1, equilíbrio coletivo e força mental) que fizeram a sua alma na época passada. E, no entanto, pelo meio, tinham saído muitos jogadores. Desde o guarda-redes e o lateral ofensivo, Eduardo e Evaldo, às colunas do corredor central, Viana-Aguiar, além do melhor 10 desequilibrador estar lesionado, Mossoró, e o tempo para treinar e inserir novos elementos ainda ser curto.

Este Braga tem, no entanto, algo que está muito antes dos jogadores: a força de uma ideia de jogo. Pode ser mais ou menos atraente, passar mais tempo a defender do que a atacar, mas tem, sobretudo, a capacidade de perceber sempre o que se está a passar no jogo e o que este lhe pede em termos de atitude (posicionamento e dinâmica) a cada momento. Soube ler, segurando, os momentos iniciais, percebeu depois afinal que Celtic era aquele, começou a esticar-se, ganhou confiança, assustou os escoceses, marcou, descansou emocionalmente, estabilizou taticamente, geriu a posse (e não posse) de bola, e quando sentiu que era o 'seu momento' no jogo, avançou e matou praticamente a eliminatória, 3-0!

Novos heróis: Salino e Elderson, dois 'corre-caminhos', do centro e faixa. Velhos heróis: Alan, o 'abre-latas' e dois defesas-centrais com um íman que atrai a bola, Moisés-Rodriguez. Foi apenas o primeiro momento do sonho europeu. A Champions está na génese deste Braga. Notável.

Seguindo jogadores

Valdez

A primeira dúvida, para quem mal o conhecia e viu os seus primeiros jogos no Sporting, foi logo: mas é ele médio ou avançado? Primeira resposta: é bom jogador. E, nesta resposta, está a simples certeza que salta ao ver a sua qualidade de posicionamento em campo. Tem jogado sobre a esquerda e é sempre um equilíbrio da equipa sem bola e um fator de desequilíbrio com ela. Muito experiente, Valdez, 29 anos, conduz, com o caráter chileno, a bola com muita segurança e tem remate. Por isso mistura conceitos de médio (ofensivo) com (segundo) avançado. Nesse cruzamento, pode jogar nos dois sectores, embora seja mais recuado, atrás dos avançados, que a dimensão total de jogo pode surgir mais completa em campo e encaixar melhor nos diferentes esquemas de jogo que Paulo Sérgio quer meter no Sporting.

Gaitán

Primeiro erro: sempre que se fala nele, fala-se de Di María. Entendo a tentação (está a jogar no mesmo lugar de quem partiu), mas não faz sentido (porque é um jogador muito diferente). No jogo do Benfica, ficará sempre a perder na comparação com Di María, que fazia coisas que mais ninguém fazia. Era um extremo. Gaitán pode parecer fazer coisas mais 'banais', mas é mais capaz de andar por outros espaços da relva. Não é um extremo. Gaitán até pode partir, começar a jogar, desde a faixa. Não pode é viver lá o jogo todo. Como fazia Di María. Por isso, quando Gaitán vem para zonas interiores vê-se o seu verdadeiro traço de qualidade. Controlo de bola, toque/drible curto e passe, desmarcação, passe. Como segundo avançado, dá soluções diferentes à construção atacante benfiquista.

Jara

No primeiro olhar parece um 'projeto de Saviola'. Não tem, no entanto, a mesma condução de bola curtinha do 'conejo'. Jara é um jogador que até se move nos mesmos espaços, o território do chamado segundo avançado, muito usado na Argentina (e em toda a América do Sul) onde não existe essa coisa do 4x3x3 e dos extremos, dominado pelo 4x4x2 dos avançados vagabundos. Como é Jara. Em relação a Gaitán, e até Saviola, tem mais remate. É mais avançado a todos os níveis e, ao contrário de Gaitán, tem dificuldade em pensar como médio. Precisa de um avançado mais forte e fixo (estilo Cardozo ou Kardec) para soltar todo o seu potencial. Conhecendo os novos espaços, passa a conhecer os territórios (tempo e jogo de marcações) para pisar o seu talento com a bola ao mesmo tempo.

Souza

A chegada de Moutinho desviou os olhares do outro reforço para o meio-campo do FC Porto. Souza é um jogador ainda em embrião, já feito na América do Sul, mas para fazer na Europa. Ou seja, no Brasil, a jogar no lugar dos pivôs, Souza era um tipo de nº 6 que não existe na Europa, pois nos relvados brasileiros todas as equipas jogam com dois médios defensivos (a chamada dupla de "volantes") à frente da defesa. Era onde estava Souza, que também gosta de pegar mais no jogo (como jogava no Vasco da Gama), pelo que no transfer para o futebol europeu quase encaixa então no perfil do nº 8, um médio mais subido. Souza vive hoje entre esses dois mundos. Espicaçou o futebol de Fernando, que agora precisa correr mais para segurar o lugar. Entretanto, Souza, a nº 6 ou nº 8, cresce na nova "fábrica" de Villas-Boas.


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