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27 agosto 2010

Até 19 de Setembro, que ninguém se enerve! - Por Leonor Pinhão


Por Leonor Pinhão in A Bola

Não é a primeira vez nem será, porventura, a última que as circunstâncias me obrigam a partilhar com os caríssimos leitores algumas noções que me foram ensinadas na infância pelo meu avô, um grande educador no que diz respeito ao comportamento minimamente exigível ao mais comum dos adeptos do Benfica, quer em público quer em privado.
Ora aprendam, se quiserem, com este episódio ocorrido há muitos, muitos anos, quando a CUF do Barreiro militava na divisão principal e, pelo final de uma tarde cinzenta de domingo, o bordo de um barco fervilhante de indignação, regressávamos os dois a Lisboa depois de uma derrota do Glorioso no campo da CUF.
A falange benfiquista lotava o cacilheiro e tal como as águas de Tejo espelhavam o céu, as conversas, em tom alto e desabrido, espelhavam o desânimo, a revolta, a intolerância dos passageiros esbaforidos perante o resultado do jogo.
Sentados lado a lado, ouvíamos o troar dos debates exaltados e de tal modo que o barco parecia navegar por vontade própria, abafado que fora pela barulheira o roncar do motor. O chinfrim, a mim, não me dizia nada. Naturalmente o que eu queria, naquele instante confuso que precede todas as crises de fé, era ouvir a opinião do meu avô.
- Foi muito mau perder, não foi? – perguntei-lhe em voz baixa.
- Quanto mais o Benfica perde mais eu gosto do Benfica – respondeu-me num tom peremptório e suficientemente alto para que os passageiros mais próximos o ouvissem e se calassem, momentaneamente embaraçados pela tirada do ancião que não admitia discussões. Mesmo assim, passado o pasmo inicial, houve logo quem pretendesse arrastar o meu avô para concordâncias fáceis.
- Mas não acha que Fulano não jogou nada? E que Sicrano está gordo? E que Beltrano não tem categoria para vestir a nossa camisola?
À espera da resposta, cravaram-se no velho uma dúzia de pares de olhos espevitados pela curiosidade que não foi satisfeita.
- Olhe, amigo, para mim dizer mal de qualquer jogador do Benfica é mais feio do que cuspir na sopa.
E acabou-se ali a conversa. Pelo menos naquele recanto daquele cacilheiro naquela viagem depois de uma derrota do Glorioso no campo da CUF do Barreiro.


VEM-ME esta memória marítima, obviamente, a propósito do arranque oficial da época de 2010/2011 em que o Benfica já encalhou em três escolhos e o inesperado da situação tem motivado farta gritaria, tal como acontece quando o caso é de aflição. E, na verdade, é. O Benfica já perdeu em duas jornadas desta Liga dois jogos, ou seja, soma em Agosto o mesmo número de derrotas com que, na temporada passada, chegou ao fim das 30 jornadas, em Maio.
Se Jorge Jesus fosse um sádico iluminado, restava-lhe agora somar de rajada os 4 empates contabilizados no campeonato de 2009/2010 e, depois, com um grande descaramento, abalançar-se a uma série de 24 jornadas seguidas só com vitórias, repetindo o registo da prova anterior, para festejar uma vez mais o título no Marquês de Pombal transportando Roberto Jimenez ao colo.
Lamentavelmente, não será este o cenário mais verosímil…
O guarda-redes espanhol que chegou ao Benfica para ser uma solução é, hoje, um problema, e dos grandes, que afecta não só a equipa toda como, de forma silenciosa e tremenda, está também a afectar a imagem de autoridade e a pôr em causa a voz do comando de Jorge Jesus. E essa perda de credibilidade do seu treinador era, justamente, a pior coisa que podia acontecer ao Benfica, brilhante campeão nacional em título e mais do que desejoso de repetir a conquista para se reafirmar como potência interna.

É que o Benfica não ganha dois títulos nacionais seguidos há um quarto de século, desde as épocas de 1982/1983 e 1983/1984, ao tempo de Sven-Goran Eriksson.
Neste pequeno desastre de arranque – e para já não é mais do que isto -, o Benfica só se pode queixar de si mesmo porque, atendendo às circunstâncias, até lhe fica mal chorar-se dos penalties que ficaram por assinalar no jogo com a Académica e no jogo com o Nacional da Madeira.
Essa, não é de todo, a conversa de um campeão que deveria ter assumido mais cedo, muito mais cedo, por princípios de Julho, desde o jogo com o Sion e daquela chapelada patética, que o dono da baliza não estava encontrado e que o erro de casting reclamava de correcção imediata e sem hesitações. São coisas que acontecem e não há que temer resolvê-las antes que a tempestade num copo de água se transforme num furacão de proporções assombrosas. E é isso que temos hoje.
A grande vítima dos azares de Roberto é, sem qualquer espécie de dúvida, Jorge Jesus, apontado como a força contratadora do jogador e, depois, perante o avolumar dos lapsos, apontando como a única força que contrariou o bom senso, apostando no guarda-redes que foi desencantar a Saragoça e que, ele próprio, Jorge Jesus, reconhecerá com mágoa mas sem esforço que é hoje a maior anedota do futebol português.

Tudo isto era dispensável, não era?
Eu dispensava, por exemplo, ter de ouvir as opiniões enternecedoras de Quique Flores, sugerindo, desde Madrid, «um novo voto de confiança que o ajudará a concentrar-se», quando o mesmo Quique Flores, na temporada de 2008/2009, foi bem menos paciente com Quim, afastando-o da equipa depois de uma curta série de jogos infelizes – goleado por 6 golos pela selecção do Brasil, por 5 golos pelos gregos do Olympiakos e protagonista infeliz de um Benfica-Vitória de Setúbal que terminou empatado, 2-2, e que afastou a equipa da liderança do campeonato.
Enfim… é o que acontece a quem se põe a jeito para ouvir sermões de vozes desautorizadas pela experiência histórica.
Vai ser difícil o trabalho do sucessor de Roberto, seja ele qual for, na baliza do Benfica. Mas não será esse facto que impedirá o Benfica de, rapidamente, se recolocar sobre carris e avançar com confiança para os seus objectivos ligeiramente embaciados depois do vapor destes primeiros jogos. O campo de manobra de Jorge Jesus é ainda largo e basta-lhe cumprir com o que prometeu na pré-temporada para que os ânimos serenem dentro e fora do balneário. Podem não estar lembrados, caríssimos leitores, mas o treinador do Benfica avisou bem cedo que só teria a equipa a jogar como ele gosta e como ele quer lá por meados de Setembro.
E basta consultar o calendário… na quinta jornada do campeonato, a 19 de Setembro, o Benfica receberá, na Luz, o Sporting e será, precisamente, nessa ocasião que a coisa ou vai ou racha. Até lá, o melhor a fazer é aguardar sem fazer ondas, não vá o barco entornar-se.

O Sporting de Braga surpreendeu na eliminatória com o Celtic, impressionou na eliminatória com o Sevilha, está, portanto, com toda a justiça, na fase de grupos da Liga dos Campeões. Resta saber como é que a equipa de Domingos de aguentará em duas competições exigentes, uma nacional, a outra das portas para fora. Na temporada última, houve quem visse no facto de o Braga ter sido afastado das lides europeias logo no Verão, a explicação para uma carreira interna absolutamente incrível que durou pelo Outono, Inverno e só terminou pelo final da Primavera. Mas agora não é momento para calculismos deste género. É momento para dar os parabéns ao Sporting de Braga.

2 comentários:

ela ouviu o Avô mas não aprendeu porque não quis... prefere cuspir na sopa! que crónica tão sem sentido! por um lado conta uma fábula em que acredita e depois marimba-se nela! depois diz que Roberto foi vítima de azares mas que agora é a maior anedota do futebol português!... que discurso mais ambíguo... "Tudo isto era dispensável, não era?"

é caso para dizer:tambem tu leonor?
deve ser a cronica mais triste que escreveu em toda a sua vida...nada aprendeu com o seu avô!
lamentavel de facto.

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