Não há nada com que um humorista lide pior do que com a alegria. Um cheque sem provimento também não é fácil para nós. Mas a alegria é particularmente complicada. A alegria, para os humoristas, é concorrência desleal. E, ao contrário do que possa parecer, a alegria não tem piada nenhuma. Um humorista alimenta-se de caos, insucesso, angústia, ressentimento. Conhece aquela anedota sobre um homem que é rico, tem uma mulher que não o engana, filhos que lhe são leais, e que nunca entra em bares frequentados por um inglês, um francês e um português? Eu também não. Ou seja, no fundo, o que eu quero dizer é: no meio desta enorme alegria que sinto como benfiquista, não consigo trabalhar. O Artur Jorge não estará disponível para voltar ao Benfica?
De repente, varreram-se da minha cabeça os comunicados do FC Porto, as crónicas de Sousa Tavares, e a última conferência de imprensa do Domingos. Só vejo benfiquistas no Marquês a cantar, benfiquistas em Cabo Verde a agitar bandeiras, benfiquistas no Porto a levar bordoadas... (Alto! Uma réstia de ressentimento? Querem ver que há esperança para esta coluna...)
Lembro-me de, em janeiro deste ano, algumas maternidades de Barcelona detetarem numa determinada semana a duplicação dos partos em relação ao período análogo do ano anterior, precisamente nove meses depois do golo que o Barcelona marcou nos últimos minutos das meias-finais da Liga dos Campeões contra o Chelsea. Chamaram-lhes os "bebés Iniesta". (Alguns especialistas preveem que, daqui a alguns meses, também nasçam nos Estados Unidos milhares de "bebés Tiger Woods". Mas, nesse caso, são mesmo dele.) Preparemo-nos, pois, para daqui a exatamente nove meses nascer uma quantidade suplementar de bebés em Portugal, a quem os demógrafos chamarão apropriadamente "meninos Jesus".
0 comentários:
Enviar um comentário
Qual a tua opinião?
Usa e abusa deste formulário para tecer as tuas ideias em defesa do GLORIOSO SLB!!