Fomos eliminados, é triste, etc. Mas também, bem vistas as coisas, é mais do que natural um desaire destes por esta altura. No fundo até se pode dizer que o Guimarães nos ajudou, de alguma maneira, no fim-de-semana passado. Sim, estou a falar a sério. É uma revelação básica, uma lição necessária a qualquer equipa que queira caminhar para as glórias. Por mais brilhante que seja, por mais mística que carregue nas históricas chuteiras. Uma revelação tão difícil quanto simples: também sabemos jogar mal.
Foi triste sofrer o silêncio da Luz a seguir àquela cabeçada de Lazzaretti, foi triste ver os nossos craques desinspirados e em modo “excesso de confiança” até soar o alarme dos últimos minutinhos, foi triste ver o mister Jesus contabilizando como remates não sei quantos chutos para a frente, pois foi. Mas agora temos finalmente uma história para contar, uma história nossa para nós próprios. Agora o Benfica já pode alimentar-se de uma narrativa de corpo inteiro para chegar aos amanhãs que cantam. “Era uma vez uma equipa genial que começou a ganhar e a golear e venceu tudo até ao fim.” Isto não é história nenhuma, amigos. Nenhum coração compra isto, ninguém sofre uma alegria de verdade com uma “sinopse” destas, é óbvio.
Já lá diz Nick Cave, todos nos construímos a partir de uma qualquer catástrofe. O conhecido cantor-escritor australiano refere-se ao campo da criatividade e da linguagem, mas o mesmo vale (digo eu) para essa imaginação concreta a que damos o nome de “futebol”. Menos mal que a nossa “catástrofe” na história desta época seja na Taça e se chame Guimarães. (E daqui vai um abraço, entre parêntesis, a toda essa gente boa da cidade-berço que nunca deixa de ter fé no seu “quarto grande”.) A dramaturgia de cada um de nós faz-se disto, de transformar “menos” em “mais”. Com as goleadas e todo o espectáculo de futebol-arte que o Glorioso apresentou em jogos anteriores, dava para organizar, não tenho dúvidas, uma bela antologia de poesia lírica. Mas a história do Benfica de Jesus começa é agora, caros amigos.
O capítulo seguinte? Sugiro um título longo: “Como transformar o balde de água fria de Lazzaretti em quatro ou cinco golaços nossos em Alvalade”.
2 comentários:
Uma excelente crónica, carregada de experiência de vida. Ao ler este texto não foi só sobre futebol que estive a usufruir.
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