Crónicas

O Trauma

Por Miguél Góis in Record

Eu estava mesmo convencido que Katsouranis era um bom trinco. Até conhecer Javi García. Eu estava mesmo convencido que Fernando era um trinco com bastante margem de progressão. Até conhecer Javi García. Eu estava mesmo convencido que o Rochemback era um jogador muito violento. Até conhecer Bruno Alves. Mas, voltando a Javi García, devo confessar que no início da época, quando soube o preço que custou ao Benfica, tive a reação típica do completo desconhecedor do fenómeno desportivo que sou. Considerei então que se estava a fazer um mau negócio. Devia ter tido em consideração o facto de o clube vendedor ser o Real Madrid: o clube que dispensou Eto'o; o clube que vendeu Makelele; pior que tudo isto, o clube que comprou Secretário.

Se há posição em que o Benfica cometeu mais equívocos nos últimos quinze anos, essa posição é a de trinco. Recordo-me de uma época, numa altura em que ainda não se transmitiam as partidas da pré-temporada, cujo principal destaque dos enviados dos jornais desportivos à Suíça foi a magnífica dupla do meio-campo benfiquista, constituída por Jamir e Bruno Caires. Alguns meses depois, lembro-me de estar no Estádio da Luz, e pensar: como é que o Jamir e o Bruno Caires vão carregar o jogo do Benfica, se eles nem parecem conseguir carregar em condições os seus próprios traseiros?

Hoje, é possível que tenha finalmente ultrapassado o trauma infligido pelos Paulos Almeidas, Jordões e Marcos Freitas deste mundo. O novo trinco do Benfica tem um posicionamento tão perfeito que, às vezes, pergunto-me se os jogadores adversários não serão repentinamente invadidos por uma vertigem suicidária que - por não terem assim tanto amor à posse de bola - os leva a dirigirem-se para o local onde se encontra Javi García...

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