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04 outubro 2009

Crónicas de Fernando Seara

O Rio de Janeiro continua lindo

Por FERNANDO SEARA in A Bola

1 A vida tem destas coisas. Os momentos de transbordante felicidade são interrompidos por episódios funestos. O carácter das pessoas e das comunidades descobre-se aí. Ou se reage e o episódio esfuma-se no ar, ou a presença de espírito é diminuta e as dificuldades crescem. Vêm estas considerações a propósito do AEK-Benfica. Foi um fim de tarde grego e aziago. Ao Benfica faltou a determinação, a energia e o arreganho que demonstrou em todos os restantes jogos. Na primeira parte pareceu uma sombra de si próprio, lembrando os dias sombrios de Quique. A segunda parte já foi diferente, tendo sido muitas as oportunidades de golo, enorme a qualidade do guarda-redes adversário e injusto o resultado. Esta, aliás, a opinião unânime dos comentadores. E se é certo que o Benfica realizou a pior exibição desta época, menos certo não é que o empate, ou mesmo a vitória, se ajustavam melhor ao fim de tarde ateniense.

2 Este jogo descobriu, porém, algumas debilidades que Jesus não deixará de corrigir. A defesa ainda carece da solidez que o balanceamento atacante da equipa exige. Não é uma questão de intérpretes ao centro — a classe de Luisão e a abnegação e coragem de um David Luiz (que, ou muito me engano, ou será dentro de poucos anos um fenómeno na Europa do futebol) constituem um dupla invejável em qualquer grande equipa europeia —, mas a lacuna ainda não inteiramente preenchida à esquerda que parece desequilibrar o sector e criar em todos os restante jogadores uma permanente necessidade de ir à dobra, abandonando posições que nem sempre têm tempo para recuperar. Evidentemente que o grande Javi Garcia vai dando para remendar tudo isto. Depois, o sistema de jogo é feito para os jogadores de génio que o Benfica tem. E há dias em que a inspiração escasseia. E a equipa ressente-se, embora possua antídotos para superar essas crises conjunturais. Ou seja, Atenas não deve ter contribuído para a diminuição da euforia que se regista em torno da equipa notável que o Benfica possui. Mas deve ser encarada como um acidente de percurso que fez os benfiquistas perceber que nem tudo está ganho e que, como todos, também aqueles jogadores, mau grado o seu esforço, têm dias melhores e dias piores. Ao fim e ao cabo, todos são seres humanos. Mas, amanhã, na capital do móvel voltaremos, estou firmemente convicto, aos golos e às vitórias. E com um estádio cheio, repleto de milhares de benfiquistas cheios de fé e em aliança indiscutível com a equipa. Atenas foi um alerta. Sério para a equipa e relevante para todos nós. Temos que acreditar sempre e apoiar, em todas as situações, a nossa equipa, os nossos jogadores, a nossa equipa técnica. Como mostraremos, amanhã, desde o momento do aquecimento até ao apito final do árbitro!

3 Importantes, muito importantes, foram as restantes notícias provindas do universo benfiquista. Chegou aos 200.000 sócios. Meta fantástica. Principalmente num tempo e numa época em que cada cêntimo conta. É o resultado das vitórias e do futebol espectáculo. Mas é também a demonstração clara das potencialidades únicas que a marca Benfica possui. Não há como negá-lo. Segunda boa notícia: a preocupação da direcção desportiva em cativar os grandes talentos, com renovações contratuais feitas a tempo, adoptando cláusulas rescisórias com inegável significado económico. O Benfica está — e bem — a valorizar os seus activos.

4 Ainda neste capítulo, uma observação sobre Aimar. Escolha de Quique — que nunca o compreendeu —, martirizado por um passado de lesões graves e vítima na época pretérita de uma colocação posicional castradora, reencontrou-se consigo próprio, ganhou confiança, perdeu o medo, colocou-se no espaço certo e ei-lo, de novo, a envergar as cores da selecção argentina. Grande prémio para tanto sofrimento. Certamente Pablito não esquecerá o agradecimento devido a Jesus que o soube recuperar e tem gerido o seu esforço com inexcedíveis cautela e prudência.

5 O Rio de Janeiro conquistou a realização das Olimpíadas de 2016, ganhando a Chicago, Tóquio e Madrid. Foi uma vitória fantástica para os cariocas, para o Brasil e para a América Latina. Mas foi, essencialmente, uma grande vitória pessoal do Presidente Lula. Todos concordam que a melhor proposta, ao nível da concepção, da solidez, da inovação, do financiamento era a de Madrid. Como os observadores presentes anteontem em Copenhaga concordam que o comportamento estilo mega-star do Presidente Obama, demasiadamente convicto que a sua aura tudo vencia, foi contraproducente aos olhos do COI para a candidatura de Chicago, a primeira a ser eliminada. Mas o Brasil é o Brasil. É a potência emergente que, naquele espaço geopolítico, tem sabido constituir um bastião da democracia, não cedendo, nem por um milímetro, aos populismos e caudilhismos que perigosamente o rodeiam. Com esta vitória, quis o COI reconhecer ao Brasil a qualidade de potência mundial e de liderança regional. Fez muito bem. O desporto deve contribuir para o bem-estar dos povos e, por isso mesmo, a este nível, não pode alhear-se das questões políticas. Admirável o discurso final de Lula da Silva. Reconheceu que o seu país ainda é pobre, ainda é injusto, ainda é inseguro, mas que os Jogos Olímpicos contribuirão para minorar estas mazelas que ele — e com êxito — tanto tem tentado combater. Um discurso autêntico de um homem autêntico. Um exemplo de que como a vitória não deve alienar, nem sublimar a realidade. O Rio de Janeiro continua lindo, diz a canção. Será, nos Jogos Olímpicos de 2016, um inultrapassável espectáculo descrito, falado e cantado em português. Parabéns Brasil!

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