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29 outubro 2009

Crónica de Leonor Pinhão

Rui Costa, Vítor Baía e o futuro
(… sobre reportórios gastos e maus aprendizes)


Por Leonor Pinhão in A Bola

Na terça-feira pelo final da tarde houve sorteio da Taça de Portugal e lá se compôs a grelha dos encontros da próxima jornada da segunda competição nacional. Como é costume, jogam uns contra outros, a eliminar, e uns foram mais felizes do que outros nos ditames da sorte, como também é costume.

Nesta fase da prova, como também é costume, saiu ao Benfica um adversário difícil, o valoroso Vitória de Guimarães, que todos vimos, nessa mesma noite, moer o juízo à equipa do Sporting e de que maneira.

Voltemos ao sorteio da Taça. Voltemos, directamente, ao que não é costume e que, por isso mesmo, deve ser saudado como novidade e tão fresca e arejada novidade que traz consigo a promessa de um maravilhoso mundo novo. E não se trata de ficção científica, nada disso.

As imagens dos representantes do Benfica e do FC Porto no sorteio, nem mais nem menos do que os senhores Rui Costa e Vítor Baía, em tranquila conversa entre dois adversários de sempre e que sempre se respeitaram, causaram profundo regozijo entre todos os que consideram que o futebol português tem de mudar e que há uma geração de dirigentes à beira do fim do prazo de validade.

Enquanto Rui Costa e Vítor Baía confraternizavam em cordialidades, o presidente do Sporting de Braga, de acordo com os relatos da imprensa, não foi visto na sala do sorteio mas foi visto «no outro lado da rua», preferindo, porventura, o ar livre da Capital a «ter de se cruzar com Rui Costa e Lourenço Coelho», ou seja, com os representantes do Benfica.


Mau aprendiz de um reportório esgotado, o presidente do Sporting de Braga assim que perdeu os primeiros pontos, em vez de elogiar o fantástico arranque da sua equipa em nada diminuído pelo empate em Vila do Conde, resolveu preparar um mau ambiente para o próximo jogo dos bracarenses, precisamente contra o Benfica, em Braga.

Ao contrário do seu tesoureiro, que, racionalmente, está imensamente feliz com a visita do Benfica, António Salvador está imensamente preocupado em satisfazer as irracionalidades alheias e em apontar ao Benfica todos os males, começando pelos dois pontos perdidos com o Rio Ave — João Tomás, autor do golo dos donos da casa foi jogador do Benfica… — e terminando com a notícia, dada por si próprio com grande e estranha satisfação, de que o Benfica ia contratar durante a semana meia-equipa do Braga.

De tão disparatada, a tentativa de agradar a terceiros parece que não pegou. É o problema dos reportórios gastos. Venham, pois, os novos artistas e quanto mais depressa melhor.

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No final do jogo, Jorge Jesus chamou-lhe «uma solução de recurso». A verdade é que, na Luz, não se via uma solução de recurso tão interessante desde a já longínqua noite em que Fernando Chalana, treinador de recurso entre a saída de Jesualdo Ferreira e a entrada de José Antonio Camacho, inventou Miguel como lateral-direito. Miguel, um extremo-direito de raiz, nunca mais largou a posição de recurso e construiu, a partir daí, uma válida carreira nacional e internacional.

Nos dias de hoje, na Luz, os adeptos do Benfica viviam divididos entre duas soluções para a posição de lateral-esquerdo: o argentino Schaffer, excelente na arte de cruzar para a área adversária, e César Peixoto que parece merecer uma maior confiança por parte do treinador.

Na noite de segunda-feira, Peixoto, que estava escalado para ser o titular no jogo com o Nacional da Madeira, lesionou-se durante o aquecimento e já não regressou ao relvado. Foi Fábio Coentrão quem ocupou o seu lugar do primeiro ao último minuto.

A defender esteve intransponível, a atacar ofereceu um golo a Cardozo, outro golo a Saviola e a nós todos ofereceu-nos mais uma alegre dúvida para nos entretermos sobre a posição de lateral-esquerdo:

— Schaffer, Peixoto ou esse tal Coentrão?

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Manuel Pellegrini, treinador do Real Madrid, está muito confiante na rapidez da recuperação de Cristiano Ronaldo. Seria, de facto, bom para o Real poder contar com a arte do jogador português, até porque sem o contributo do seu número 9 já tropeçou na Liga espanhola, na Liga dos Campeões e de forma maravilhosamente absurda na Taça do Rei, caindo aos pés de uma equipa da III Divisão nativa.

Curiosamente, em relação à outra equipa de Cristiano Ronaldo, a Selecção de Portugal, parece que as coisas se passam de maneira bem diferente… Sem Cristiano Ronaldo a equipa de Carlos Queiroz deu muito melhor conta do recado, conseguiu a proeza de chegar aos play-offs de qualificação para o Mundial e quando tudo já parecia perdido.

A culpa desta anormalidade não é de Queiroz nem, muito menos, de Cristiano Ronaldo. É nossa, é do país.

Quando Ronaldo joga pela Selecção o país inteiro entra em transe e nem se mexe. «Pára Portugal!» — parece ser o grito mudo que emerge das profundezas da nossa terra. E Portugal pára para ver Ronaldo, de quinas ao peito, resolver todos os jogos e marcar todos os golos.

E o problema nem é, obviamente, este. O problema é que pára Portugal e param os jogadores (maioritariamente) portugueses da nossa Selecção, também eles expectantes em que o colega hollywoodescamente célebre lhes resolva, por estatuto, os jogos e marque os golos todos. E, como se sabe, uma equipa parada a ver um colega jogar não vai a lado nenhum.

E foi por isso mesmo que quase não fomos à África do Sul…

Se os jogadores da Selecção conseguiram provar que sabem correr e jogar sem Cristiano Ronaldo, Carlos Queiroz tem agora a sua maior e mais difícil missão como treinador: ensiná-los a correr e a jogar com Cristiano Ronaldo.

E, assim, as coisas acabarão por se compor.

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Bem podem os historiadores insistir em que a contenda entre Jorge Jesus e Manuel Machado é uma história pessoal que em nada belisca os emblemas que representam hoje e que representaram no passado.

Os historiadores são, por vezes, uns grandes mentirosos. Se de Jesus todos sabemos o que aprendemos na catequese, de Manuel Machado não nos esquecemos daquela vez, no passado, em que, perdendo contra as nossas cores, gritou que só lhe apetecia pegar «num pau de marmeleiro» e desancar o Universo inteiro.

Aguente-se.

1 comentários:

Bela crónica, como sempre. Mas só um reparo, eu não tenho nenhuma dúvida quanto ao defesa-esquerdo, Coentrão já!

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