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13 setembro 2009

Crónicas de Luís Freitas Lobo


A minha táctica tem uma pop-star

Por Luís Freitas Lobo in www.expresso.pt

O "mundo particular" de Ronaldo por entre o avanço táctico da selecção, capaz de jogar em dois sistemas. A "miragem" do Mundial.
Por entre labirintos tácticos e momentos ora de crença, ora de receio, há um jogador que, a cada lance, a cada grande plano, parece viver num "mundo à parte", Cristiano Ronaldo. É assim no relvado, é igual fora dele. Nas revistas, na roupa, nas namoradas, nos SMS, nos malabarismos com a bola nos treinos, nas centenas de autógrafos, na pose a sair do avião, no sorriso subitamente de miúdo de rua, no regresso ao showbizz, num Ferrari destruído, na promessa fintas, no golo falhado, no protesto com o árbitro, aplausos, assobios, nos "oohs" de admiração ou de desalento...

Um infinito cocktail de imagens, sons e emoções que fazem de um futebolista mais do que alguém que só joga futebol. Fazem dele um case study do futebol moderno, sua feira de vaidades e ilusões iconográficas, consumindo imagens em vez de crenças. Na vida, como no jogo.

Quando me perguntam pelo estado do futebol português e falam no nome de Cristiano Ronaldo já tenho muita dificuldade em relacionar uma coisa com a outra. Porque o CR9 madrileno, metamorfose marketeer do CR7 de Manchester, já descolou dessa realidade global e criou o seu "mundo particular" onde o futebol luso terreno já nem chega. Nos debates sobre a selecção (renovação, formação, naturalizados, táctica) nada parece fazer sentido metendo ao mesmo tempo o modelo social, comercial e publicitário de Ronaldo no meio.

Em Copenhaga e Budapeste, esteve Ronaldo, primeiro, e a selecção, depois. Não se trata de qualquer subversão interna. Trata-se daquilo que hoje é o nosso futebol (de selecção) aos olhos do futebol internacional, que vê Ronaldo já como um "futebolista do mundo", vendedor de imagens e sonhos, e não como peça de uma equipa que apesar do estatuto adquirido se arrisca a ficar fora do Mundial. Era jogando nessa berma do precipício que se esperava o tal 'toque de Midas' que só os craques podem dar. Ele, porém, não conseguiu sair desse 'casulo galáctico' e foram dois brasileiros a fazer os dois golos que mantêm a matemática a funcionar.
Após longos anos em 4x3x3 (ou 4x2x3x1, uma variante) a selecção apareceu em 4x4x2. Depois, durante os jogos, voltou ao sistema anterior (4x3x3) e quando o fez provocou sempre um retrocesso exibicional no bom jogo que estava a fazer. Nesta análise devem, porém, destacar-se dois aspectos.

Primeiro: para quem acusa Queiroz de pouca visão táctica, reconhecer que foi ele quem, por fim, deu à selecção outra forma (sistema) de jogar. E jogar melhor. Movendo-se mais com a bola, encaixando melhor os jogadores e confundindo o adversário, habituado a uma standardização do jogo português. Uma evolução que deveria ter surgido mais cedo.

Segunda: capacidade para, depois, em pleno jogo, conseguir resgatar o 4x3x3 anterior, e, após curtos minutos de entendimento, voltar a pegar no jogo nessas diferentes bases tácticas, inclusive com Liedson a mover-se bem dentro dele, quando antes se dizia ele só poder jogar em 4x4x2 (com outro avançado ao lado). Não é verdade.

Pelo meio, Ronaldo pop-star e futebolista. Outro 'mundo'. Queiroz tenta descobrir a fórmula certa de encaixar o seu estilo Tim Burton num filme de futebol mais perto de Almodóvar. Pela táctica, é difícil. Resta pela emoção. Mantendo o gel, acrescentar outra base mental à sua existência futebolística.

A 'gestão' da equipa
Orientar uma equipa de topo passa muito por saber 'gerir' jogadores. Perceber os seus limites atléticos, adequar diferentes intensidades, e manter ao longo da época um permanente nível de qualidade de jogo. É esse o novo grande desafio de Jesus no Benfica, agora com Liga e UEFA em simultâneo. É o velho desafio de Jesualdo no FC Porto. Pelo meio, ainda as selecções.

Vendo jogar o Uruguai, segui o regresso do melhor Rodriguez, jogando sobre a esquerda, ora ala ora interior. Como no Porto, afinal. Penso que o melhor FC Porto 'táctico' passa, sem dúvida, por ele. Mais do que uma questão técnica, explorar-lhe a qualidade é uma questão de saber 'gerir' essa existência tripartida. Perceber até onde se pode esticar a 'corda' dos níveis de esforço. Uma sensibilidade que atravessa toda a época, todos os jogadores. É o treinador como 'barómetro atlético' do jogador. Pura gestão.

Momento táctico
Dentro do 4x4x2, a dupla atacante leonina tem princípios de jogo diferentes. Pensando em Djaló-Liedson, o 'levezinho' é quem mais faz 'dançar' os defesas, pois procura acções largas de ziguezague. Quando o lance ofensivo começa ele tende a descair (esconder-se) numa faixa, preferencialmente a esquerda, e, depois, recebendo a bola, volta em diagonal para a área, procurando com instinto zonas de finalização. Djaló é um avançado mais vertical. Também precisa de espaço para 'explodir', mas sem dar tanta largura, recua e arranca desde zonas mais interiores. Nas alas, Moutinho procura mais diagonais para o centro. Vukcevic garante profundidade como mais nenhum outro no sistema.

O espelho no balneário
Em dimensões diferentes, os futebolistas tornaram-se personagens comerciais no interior das quais coexistem os jogadores. Nesse cruzamento, muitos tornam-se um enigma: em que ponto dessa(s) personalidade(s) se esconde o talento futebolístico?

Fabio Coentrão não tem a dimensão iconográfica de Ronaldo, mas no seu 'pequeno mundo', das Caxinas até à auto-estrada para Lisboa, parece que sempre travou uma luta contra o talento. Rebelde por questão de estilo. Craque por questões de natureza. Falta dar 'corpo' e 'método' a esse talento e personalidade. Porque, nestes casos, a diferença entre uma grande carreira e um caminho errante em divisões secundárias é um ténue limbo no qual muitos caem.

Por isso, o caso de Coentrão no actual Benfica de Jesus, que vive nas 'nuvens', terá de ser muito mais do que a mera aposta num extremo engraçado que está num bom momento e finta e cruza bem. É entrar dentro de uma das cabeças futebolísticas mais complicadas em termos de saber usar o grande talento que tem. O início de época tem anunciado que está um 'jogador novo'. Mudar uma personalidade não é, no entanto, uma questão de um simples 'clique' de aumento de salário ou cláusulas de rescisão. O grande desafio é colocar a sua personagem mental a par da futebolística. Estabilidade emocional.

A Luz significa outras exigências num balneário onde o seu ego, que no intimista Rio Ave ofuscava o resto do grupo, é hoje apenas um reflexo no espelho enquanto ajeita o cabelo antes de entrar em campo. Talvez por isso, é um dos tais casos em que, quando o vejo em campo, rebelde ou genial, me vem ao pensamento tirar os espelhos do balneário. Pelo menos, antes do jogo. Não é uma metáfora. É mais do que isso. É o 'ponto G' para ser o talento, em vez do modelo, a ser estimulado antes de entrar em campo.

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