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13 setembro 2009

Entrevista a Pako Ayestaran

in ionline


As respostas são medidas, estudadas. Pako Ayestaran, o preparador físico que acompanhou Quique Flores e agora está no Valência nunca diz mais do que o necessário, nem quando é o Benfica que está em causa, aquela equipa que se arrastou no ano passado para uma época medíocre, com jogadores a questionarem métodos de trabalho. Conclusão: na Luz está apenas um plantel como os outros, "tem bons e maus atletas".


O que levou do Benfica?

Aprendemos sempre por onde passamos e o Benfica foi a minha segunda experiência no estrangeiro [depois do Liverpool].

A ideia que alastrou cá, no início, foi a de que era difícil aplicar novos métodos de trabalho.

Em qualquer equipa os jogadores têm sempre os seus hábitos, tradições, são resistentes à mudança.

Mas conseguiu? À saída que balanço fez do seu trabalho?

Não sou nada conformista, teria de analisar tudo, estudar resultados. Mas regra geral fico sempre com a sensação de que podia fazer melhor.

As notícias de final de época e, agora, as de início, dizem isto: os jogadores não gostavam dos métodos de trabalho, especialmente as cargas no ginásio, em cima dos jogos; e agora alguns estão mais leves ou mais ágeis, como é o caso do Cardozo.

É possível. Sabe que o peso de um atleta depende muito da sua estrutura, da percentagem de massa gorda, de como se cuida e trabalha. Tudo isso tem influência no rendimento.

Mas o caso do Cardozo...

...pode ser uma situação normal e positiva. No final o que interessa é o seu rendimento, se está a jogar e se rende.

Qual foi o atleta que mais o surpreendeu no Benfica?

David Luiz. É bastante dotado fisicamente, com grandes condições para desempenhar o lugar que ocupa.

David Luiz também perdeu peso, está mais seco. É para ganhar velocidade?

Não se ganha velocidade quando se perde peso, pode é perder-se força. Depois, também pode variar a capacidade para suportar esforços, mas tudo isso depende dos quilos ganhos ou perdidos, se são em excesso ou não.

Tem visto o Benfica? O que deixou nesta equipa?

Não sei, não vou dizer se deixei algo, o que sei é o trabalho que aplicámos, os hábitos que criámos, algumas rotinas que mudámos. Se o ritmo de jogo é bom ou mau, isso depende de várias circunstâncias.

Como por exemplo?

A questão da condição física não pode ser separada das restantes, não há uma hierarquia em que o físico apareça como o mais importante. Há um conjunto de variáveis, que se conjugam para o bem e para o mal. A base de tudo acaba sempre por ser a qualidade dos jogadores, é a partir daí que nasce o êxito. Repare, a condição física depende muito do nível do atleta, da forma como está motivado, como se prepara e cuida. Geralmente, quando se contrata um grande jogador, não vem apenas um futebolista evoluído técnica e tacticamente - vem também um grande atleta. De um burro não se faz um cavalo de corrida, isso é impossível; quando muito, o burro pode andar um pouco mais depressa.

Na Luz havia essa qualidade?

No Benfica havia de tudo, como em todo o lado, como agora no Valência. Se tenho 50 euros e não posso gastar mais é natural que não possa ir ao mercado buscar qualidade. Funciona assim em todo o lado. No final há uma conclusão sempre igual: os plantéis que conseguem êxito são aqueles que são mais dotados geneticamente. Foi isso que vi, por exemplo, no Liverpool de 2004/05 [campeão europeu], ou no Valência que ganhou a Taça UEFA [2003-04].

O que o surpreendeu pela negativa no Benfica?

Nada de especial. Sabe, o que me surpreende hoje em dia é a condição física dos futebolistas estar a piorar. Hoje os jogadores estão piores do que há algum tempo, isso faz-me pensar, reencontro alguns com os quais trabalhei há uns anos e vejo que estão piores.

Mas porquê?

Talvez se deva ao futebol estar condicionado por modas. Às vezes muda-se e não se questiona nada, nem o que pode ser positivo ou negativo. Acho que há regras positivas que devem manter-se mas estão em risco porque nos últimos anos começou a competir-se mais e a treinar-se menos.

É a questão dos calendários sobrecarregados?

Pois... a competição é como tudo. No início ajuda à subida de forma mas depois, quando em excesso, torna-se prejudicial. É aí que entra a qualidade do treino. As melhores equipas são aquelas que fazem uma melhor gestão desse desgaste e do trabalho.

A separação de Quique Flores é momentânea ou definitiva?

O futuro é imprevisível. O passado está escrito, quanto ao futuro, vamos ver... Acertámos uma parceria no Benfica e agora seguimos outros caminhos [o antigo treinador do Benfica está num ano sabático].

Mas podem voltar a juntar-se?

Repito, isso é imprevisível. Nunca pensei voltar a Valência e aqui estou.

No passado, em Liverpool, também se separou de Rafa Benítez. Escreveu-se então que a relação se desgastou porque o Ayestaran seria demasiado próximo de José Mourinho, rival então no Chelsea. É verdade?

A minha relação com Benítez acabou por desgaste e porque cada um decidiu ir à sua vida. Quanto a Mourinho, tinha uma relação normal com ele, encontrava-o no campo, falávamos de forma educada.

Mourinho impressionou-o?

Como disse, em futebol o que interessa são os resultados. Toda a gente sabe o que Mourinho alcançou, naturalmente deve fazer as coisas bem feitas.

No Valência encontrou o Manuel Fernandes, um miúdo que era um touro no Benfica...

...Não me surpreendeu, tem grandes condições, conheço-o há muito, tentámos contratá-lo no Liverpool.

E ainda tem o Miguel.

Teve algumas lesões no ano passado mas fez aqui grandes épocas. É outro futebolista com grandes condições.

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