16.03.2009
Quero acabar entre papoilas
O tema talvez lhe interesse pouco, amigo leitor, e a minha opinião sobre ele ainda menos, mas eu estou convencido de que, dos 5 maiores poetas portugueses de sempre, dois ou três são o Fernando Pessoa. Um desses, chamado Álvaro de Campos, escreveu o seguinte: «Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância». Eu, na infância, amei papoilas.
Percebi que era uma pessoa doente quando Artur Semedo morreu. Vi as imagens do enterro na televisão, o caixão coberto por uma magnífica bandeira vermelha, com a águia e a roda da bicicleta rigorosamente no centro. Lembro-me de ter pensado: «Quem me dera ser eu dentro daquele caixão.» É no momento em que dá por si a invejar um morto que uma pessoa compreende que sofre de uma maleita grave.
Ontem o Benfica ganhou mais um troféu e, se é verdade que Polga e João Moutinho deviam ter sido expulsos a meio da segunda parte, não é menos verdade, que o penalty que nos dá o empate não existe. Os benfiquistas não se alegram com as vitórias obtidas na sequência de golos ilegais. Felizmente, são muito raras. Compreendo, por isso, a indignação de Paulo Bento. Teria sido muito fácil para Lucílio Baptista ver que o penalty era inexistente. Bastava que estivesse na posição em que o Vukcevic se encontrava quando marcou o golo ao Rio Ave. Dali, via-se perfeitamente. Além disso, Paulo Bento tem razão quando diz que o sportem tinha o jogo controlado. O modo como Tiago controlou com os olhos aquele cabeceamento do Miguel Vítor à barra tornou claro que o Benfica não tinha qualquer hipótese de chegar ao golo.
E, acima de tudo, compreendo a revolta de Filipe Soares Franco. Um homem que, quando o sportem joga com o Porto se senta ao lado daquele dirigente que está suspenso por dois anos por tentativa de corrupção, só pode ser apreciador de jogo limpo. É especialmente irónico que isto aconteça logo a ele.
«Rosebud» é a última palavra que, no início de Citizen Kane, a personagem de Orson Welles profere antes de morrer. No final, o espectador verifica que Rosebud era a marca de um trenó que o milionário amara na infância. Eu tenho um palpite sobre a última palavra que direi antes de morrer. Quem estiver ao meu lado (se estiver alguém) talvez perceba mal o que direi e pense que me estou a despedir — o que não corresponde à verdade. É possível que, devido à minha condição de moribundo velho e desdentado, a dicção esteja ligeiramente afectada, e isso faça com que a minha última palavra se pareça com «Tchau». Por isso, deixem-me aproveitar agora para esclarecer que, muito provavelmente, a palavra que eu estarei a dizer é «Shéu». Eu quero acabar entre papoilas.
Percebi que era uma pessoa doente quando Artur Semedo morreu. Vi as imagens do enterro na televisão, o caixão coberto por uma magnífica bandeira vermelha, com a águia e a roda da bicicleta rigorosamente no centro. Lembro-me de ter pensado: «Quem me dera ser eu dentro daquele caixão.» É no momento em que dá por si a invejar um morto que uma pessoa compreende que sofre de uma maleita grave.
Ontem o Benfica ganhou mais um troféu e, se é verdade que Polga e João Moutinho deviam ter sido expulsos a meio da segunda parte, não é menos verdade, que o penalty que nos dá o empate não existe. Os benfiquistas não se alegram com as vitórias obtidas na sequência de golos ilegais. Felizmente, são muito raras. Compreendo, por isso, a indignação de Paulo Bento. Teria sido muito fácil para Lucílio Baptista ver que o penalty era inexistente. Bastava que estivesse na posição em que o Vukcevic se encontrava quando marcou o golo ao Rio Ave. Dali, via-se perfeitamente. Além disso, Paulo Bento tem razão quando diz que o sportem tinha o jogo controlado. O modo como Tiago controlou com os olhos aquele cabeceamento do Miguel Vítor à barra tornou claro que o Benfica não tinha qualquer hipótese de chegar ao golo.
E, acima de tudo, compreendo a revolta de Filipe Soares Franco. Um homem que, quando o sportem joga com o Porto se senta ao lado daquele dirigente que está suspenso por dois anos por tentativa de corrupção, só pode ser apreciador de jogo limpo. É especialmente irónico que isto aconteça logo a ele.
«Rosebud» é a última palavra que, no início de Citizen Kane, a personagem de Orson Welles profere antes de morrer. No final, o espectador verifica que Rosebud era a marca de um trenó que o milionário amara na infância. Eu tenho um palpite sobre a última palavra que direi antes de morrer. Quem estiver ao meu lado (se estiver alguém) talvez perceba mal o que direi e pense que me estou a despedir — o que não corresponde à verdade. É possível que, devido à minha condição de moribundo velho e desdentado, a dicção esteja ligeiramente afectada, e isso faça com que a minha última palavra se pareça com «Tchau». Por isso, deixem-me aproveitar agora para esclarecer que, muito provavelmente, a palavra que eu estarei a dizer é «Shéu». Eu quero acabar entre papoilas.
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