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07 janeiro 2011

Treinador: 365 dias + 90 minutos x 60 jogos = ?


Se olharmos para o relvado, existem mais de uma centena de perfis de futebolistas. Se olharmos para o banco, não existem assim tantas classes distintas de treinadores. Claro que mudam ideias de jogo, filosofias táticas, capacidade de relação humana, etc., mas no final a diferença entre eles é feita da forma mais simples (e redutora, também). Os que ganham e os que perdem. A fronteira entre o êxito e o fracasso. Esses dois grandes 'impostores', como disse Kipling, dois 'territórios' no qual vivem, alternadamente, todos os treinadores. O mais vertiginoso no mundo do futebol é, porém, a velocidade com que essa viagem é feita. Uma fronteira tão ténue que pode ser atravessada até na mesma época. Identificar o 'treinador do ano' no futebol português leva-nos para esses dois tipos de territórios completamente opostos.

Jorge Jesus viveu 'uma vida' nos subterrâneos do futebol português (do Felgueiras ao Moreirense), conquistou os chamados 'topo de gama' da sua segunda linha (de Belém a Braga) até que, por fim, já na ternura dos 50, abriu-se-lhe a porta de um grande, um Benfica em crise de auto-estima, órfão de heróis e títulos. Numa época, Jesus revolucionou o 'mundo benfiquista' dentro e fora do relvado.

Redimensionou jogadores, acordou adeptos e, num clube ávido de encontrar novos símbolos, tornou-se maior do que toda a estrutura que o rodeava. Ganhou e jogou bem. Mas o ano tem a 'armadilha futebolística' de dividir duas épocas. E a nova temporada mudou a realidade. Mudaram alguns jogadores, a bola passou a não entrar, alguns maus resultados, e, num clube confundido, o treinador-herói passou, num ápice, a ser olhado com desconfiança. As mesmas páginas e páginas que se escreveram de elogios passaram a encher-se de críticas. Não faz sentido. Porque, na essência, o treinador que conquistou o título nacional em maio é exatamente o mesmo que foi eliminado da Liga dos Campeões em Israel em novembro.

Por ter vivido entre esses dois mundos, êxito e fracasso, Jorge Jesus é um 'treinador do ano' especial no futebol português. Para além de muitas análises (táticas e técnicas) que se podem fazer ao futebol do Benfica, esta 'bipolaridade' de análise espelha na perfeição a subcultura de análise que, transversalmente, domina todo o status do futebol português (adeptos e imprensa). De herói a vilão em poucos meses. A história perfeita para explicar a secular 'montanha-russa' de competências na qual um treinador tem de trabalhar em Portugal.

Ganhou três campeonatos em quatro épocas, mas no Porto já ninguém se lembra que Jesualdo Ferreira existiu. Mesmo nessa fase, porém, nunca foi idolatrado pelo mundo 'azul-branco'. Problemas de imagem, disse-se então. Dessa forma, em 2010, o ano em que não ganhou, saiu, logicamente, sem fazer ruído. Mais um bom exemplo, num contexto mais global, da fronteira de Kipling aplicada ao nosso futebol. Por isso, para os ditos 'treinadores jovens' que despontaram em 2010, as histórias destes dois velhos caminhantes são duas boas lições de vida. Domingos e Leonardo Jardim, cada qual no seu estilo e especificidades de origem e crescimento, são 'treinadores de futuro'.

Domingos, 'filho do Dragão', inventou o Braga vice-campeão nacional. Entrou, porém, neste 'mundo dos bancos' desde o início já com uma marca de distinção. Jardim veio anónimo da Madeira e, sem perder o sotaque ilhéu cerrado, tem provado, com o 'milagre Beira Mar', que também ainda é possível crescer e fazer uma carreira a pulso, só pelo jogo, sem o 'elevador dos empresários'. Até onde poderá chegar?

Todos eles, Jesus, este ano o melhor símbolo do que é a vida nos bancos, Jesualdo, Domingos, Jardim, são treinadores do ano no futebol português.

Falta ainda um nome: André Villas-Boas. Mais do que o novo 'aprendiz de feiticeiro' que quiseram fazer dele, quando surgiu (primeiro na Académica, depois no FC Porto) após longas épocas passadas nas catacumbas táticas do castelo de Mourinho, Villas-Boas tem, claramente, mais 'qualquer coisa' na sua essência particular de treinador.

Todas as épocas, porém, a fórmula é igual para todos: "Treinador: 365 dias + 90 minutos x 60 jogos = ?"

2010: 'Onze' do Mundo

Foi um ano em que o futebol viveu confundido, vendo como existem mesmo mais de 1001 maneiras de ganhar um jogo (e um título). Entre a Espanha campeã do mundo de seleções e o Inter campeão europeu de clubes há um abismo de filosofias de jogo a separá-los. Este 'onze' destaca aqueles que melhor desenharam bom futebol em 2010.

Na defesa, para quem não segue o fenómeno futebolístico mais de perto, o nome que pode suscitar mais interrogação neste 'onze' é o do lateral esquerdo. Pensavam em Coentrão. Podia ser, mas escolhi Bale. E quem é Bale? É um galês verdadeiramente assombroso que joga no Tottenham. Só tem 21 anos e, não duvido, vão ouvir falar muito dele ao mais alto nível. É uma locomotiva (que também joga a médio) que enche o campo. Fixem o seu nome e sigam-no.

A meio-campo, a 'casa dos baixinhos' mágicos: Xavi, o mais pensador; Iniesta, o mais rápido; Sneijder, o mais criativo. Uma tripla aliança sagrada de bom futebol.

No ataque, o talento natural de rua de Messi, o talento mais fabricado pop-star de Ronaldo e um caça-golos que despertou já avançado na carreira, Milito, esguio ponta-de-lança argentino que, parecendo ir desmontar-se todo em cada jogada de perigo em que pega na bola perto da baliza adversária, levou, com o seu instinto goleador, o Inter à conquista da Champions.

Este é o meu 'onze' do mundo de 2010.

A Taça da Liga

O novo ano arranca com a Taça da Liga já com os clubes ditos 'grandes'. Mas nenhum deles olha para a competição como algo estimulante. Os seus objetivos estão noutros pontos desportivos e financeiros. Eu penso, porém, que a Taça da Liga foi uma excelente ideia. O seu regulamento competitivo é que é muito discutível. Continua a ser uma competição de 'pernas para o ar' no formato grupos-eliminatórias. A sua calendarização também.

Na essência, a Taça da Liga interessa sobretudo aos clubes ditos 'pequenos', pois pode ser para eles uma fonte de receitas extraordinárias muito significativa. O mais difícil é convencer os jogadores (e os treinadores) dessa importância quando entram em competição numa fase muito inicial da época. Sei que o sucesso (e a sobrevivência) da prova depende principalmente do interesse que os 'grandes' colocarem nela, mas existirão outras formas de proteger os clubes que veem na Taça da Liga esse tal 'pequeno tesouro'.

Lidar com a 'pressão'

O que tem de especial André Villas-Boas, o treinador que inventou o FC Porto versão 2010/11? Tal como Mourinho, entende que antes do apito do árbitro os jogos começam e acabam nas suas conferências de imprensa. É um entendimento que resulta da consciência do poder da comunicação. Nesse momento, entra na cabeça dos adeptos, jornalistas e... jogadores (seus e adversários). Durante 90 minutos, a forma como vive cada jogada tem o poder da imagem. No futebol (mundo) atual, esse domínio da imagem e comunicação significa dominar mais de 50% do seu conteúdo. O seu saber tático (e treino) é, também, cada vez mais evidente.

Jesus disse que lhe falta ainda lidar com a pressão a sério. Referia-se aos jogos decisivos. Não penso que isso vá ser um problema para Villas-Boas. Pelo contrário. Essa 'pressão externa' é do que ele mais gosta e, ganhando ou perdendo, vai lidar bem com ela. A verdadeira pressão por que lhe falta ainda passar é outra: a 'pressão interna'. Aquela que vem de dentro do próprio clube do treinador (seus adeptos e direção). Essa é que quando acontecer (porque acontece a todos os treinadores) será o seu grande teste de resistência como treinador com 'T' grande (tática, comunicação e imagem). Não digo que vá surgir em breve. O seu FC Porto parece, atualmente, 'inquebrantável'. Neste momento, 2011 parece feito à sua imagem. Com ou sem pressão.

Seleção: 'Visão Bento'

Depois do 'processo Queiroz', a seleção reencontrou o seu espaço 'mais natural' com Paulo Bento. Esta semana, quando questionado sobre qual a sua ideia global para o futebol português, disse, pura e simplesmente, que não sabia o que era um projeto Paulo Bento. O futebol português regressou, portanto, à sua lógica mais simples. O poder do resultado à frente do poder das ideias.

Bento referiu que "projeto é com os clubes, potenciar aquilo que é o melhor para o futebol português". Ou seja, o selecionador não quer dirigir o edifício das seleções do futebol português. Apenas seguir o trabalho dos clubes e explorar os seus jogadores. É uma filosofia como outra qualquer. Penso, no entanto, que o nosso futebol (seu edifício global) necessita de muito mais. Não digo que isso tivesse de ser obrigatoriamente uma missão do selecionador, mas, sem essa ideia global, as seleções, como o 'projeto de Bento', continuarão sempre a ser apenas o 'próximo jogo' quando deviam ser 'a atual e próxima geração'. Para já, Bento tem furado por entre todos os pingos de chuva desse edifício sem pilares do nosso futebol. Chegará um dia, no entanto, em que terá de ser algo mais do que os jogadores para o próximo jogo. Basta-lhe olhar para o passado e ver o que sucedeu aos seus antecessores nas últimas décadas. Então, já será tarde para ter o poder das ideias. Sem gabinetes, o seu habitat é apenas a relva.

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