Carta aberta ao Presidente do Sport Lisboa e Benfica
Caro Presidente:
Certo que ultimamente a equipa de futebol do Sport Lisboa e Benfica – doravante denominada por nós – tem andado atrás do gabarito perdido. E de facto temos conseguido voltar às boas partidas, juntando, no mesmo desafio, o jogar assim-assim com jogar para nota artística.
Certo também que ontem foi um desses dias: uma hora de sonho e vinte minutos de pesadelo mais dez de absoluta normalidade assim-assim. Se, no ano passado por estas calendas levávamos uma vantagem de três zero, nem mesmo nos nossos piores pesadelos equacionaríamos empatar a partida (defino pior pesadelo: três jogadores expulsos e substituição defensiva de Di Maria por César Peixoto). Recordo até um jogo com a Naval Primeiro de Maio onde, aos onze minutos já estávamos a levar dois zero no lombo e, nesse mesmíssimo instante, a dúvida de todos os benfiquistas não residia em saber se conseguiríamos dar a volta ao jogo: estava, sim, em perceber se a volta era conseguida antes do intervalo ou na segunda parte. Ora, Presidente, ontem o Benfica definiu-se na sua versão desta época: estando a ganhar três a zero, nenhum destes todos benfiquistas (nós) estava tranquilo quanto à permanência do resultado, estivesse onde estivesse: no estádio, no sofá, no café ou, no meu caso, num quarto de hotel de estrada no País Basco Francês.
É certo, portanto, que este ano a coisa dificilmente lá vai. Até podia ir – fossemos nós uns melancólicos optimistas – mas, com o começo desastroso, as boutades e as robertadas, está difícil. Ora, é em alturas como estas que precisamos de um duche massivo de realfussbalitik – a realpolitik adaptada ao futebol. Perguntar-me-á, Presidente, o que lhe quero dizer com isto. Respondo-lhe com o final do jogo de ontem, com o momento em que Jorge Jesus agride ou tenta tentar agredir e agride um jogador do Nacional da Madeira que, seguramente, o provocou. Aqui está, Presidente, aquilo que nós mais precisávamos: bem mais que meia centena de reforços sul americanos.
Lembrando sempre que o jogador do Nacional em causa, Luís Alberto Santos dos Santos (sic), é para todos os efeitos e ao contrário do que alguns possam pensar, um agente desportivo, fácil será presumir que a justiça desportiva irá punir Jota Jota pelo acto. É justo, porque evidente, é de bom tom e tem o precedente dos quatro jogos que Scolari apanhou por esmurraçar um jogador sérvio chamado Dragutinovic. Ora, sendo Jorge Jesus punido com um, dois, dez, quinze jogos de suspensão ou apenas com uma simples multa, aqui estará aqui toda e qualquer – repito e ponho isto a negrito e a itálico – toda e qualquer justificação para todo e qualquer desaire do Benfica desta época, seja ele passado ou futuro. A partir daqui não importa a nossa própria incapacidade de ganhar, erros tácticos, erros de gestão de esforços, roubalheiras aqui e acolá. Na suspensão de Jesus – que deverá ser apodada de cabala montada por factores externos para deliberadamente prejudicar o Benfica e deliberadamente afastá-lo de onde merece (ou algo assim parecido, desde que contenha o advérbio deliberadamente) – residirá a explicação cósmica do que quer que seja, mesmo das quatro derrotas do início do campeonato. Sei eu, caro Presidente, que esta estratégia de comunicação não é original nem se coaduna muito com o livro de estilo do Benfica. Porém, é no mínimo uma ideia divertida e, deliberadamente, experimental.
Digne-se Vª Excelência receber os respeitosos cumprimentos e demais protestos de respeito de quem tem a honra de assinar-se um imenso benfiquista, Carlos Pringle.
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