Saber perder é importante, mas saber ganhar também. E, quanto a isso, os últimos sinais no país não são exactamente brilhantes... Parece-me que andamos com as referências um bocado trocadas. O modelo de “sucesso” - e, por favor, carreguem bem nas aspas, que só esse palavrãozito dava para um contentor de teses de doutoramento - não pode ser nenhum Cristiano, o supremo cromo do “pintas vaidosão”, nem pode ser nenhum Mourinho, o técnico de futebol que se vê como um dos “eleitos”. Se queremos um modelo como deve ser, pensemos antes em Eusébio: o génio, o deus da bola portuguesa, o nosso craque para todos os sempres - e um exemplo de modéstia à prova de bala.
Não é moralismo nenhum. É que, no fundo, esse “sucesso zangado” é apenas outra variante do famoso “síndroma Mamede”, outra via para o nosso “medo de ser feliz”...
Ainda assim, vamos com calma. É tentador pegar no discurso amargo que o Presidente eleito fez no dia das eleições, juntá-lo ao empurrão inadmissível que o treinador do Benfica deu ao jogador do Nacional, e dizer que o país não sabe ganhar e que, assim, começamos a perder logo nas vitórias. Mas seria demais. Não, por favor. Não juntemos depressão à depressão. O país é o que nós fizermos dele no terreno. E o Benfica também, mister Jesus. A altura é de passar confiança aos craques, libertá-los “espiritualmente” para as alegrias do futebol, mostrar-lhes que a grandeza do Glorioso é um “ser” e não um “estar”.
Olhemos para Sidnei, por exemplo. Sábado, o central marcou o segundo golo com a determinação de quem mete a vitória na gaveta logo aos 20 minutos. Canto de Aimar, um daqueles cruzamentos argentinos em que a bola vai toda magicada das melhores malícias, o nosso miúdo dos brasis corre para o bico da pequena-área, salta a pés juntos como um jogador de básquete e, de cabeça, plim, passa a ideia do golo à bola.
Mas depois, lá está, não soube ganhar... Amoleceu e deixou que os avançados do Nacional furassem por ali dentro como turistas no dia mundial dos museus. É verdade que não foi só ele e que ele até terá mais desculpas, que anda sofrer o peso de todos os olhares agora que se fala da saída de David Luiz (bater na madeira). Mas Sidnei é um bom símbolo do que falta afinar neste Benfica. Não se pode dormir em serviço, nem com uma goleada no bolso. O Glorioso é para querer sempre mais, dar sempre o máximo, tentar o impossível. E conseguir.
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