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28 dezembro 2010

JORGE NUNO, O AMOR E EU.


Permitam-me os leitores que, desejando-lhes um bom Natal atrasado, me debruce sobre um elemento extra-Benfica. Coisa rara – senão inédita – na minha prosa, é certo. Mas hoje acordei assim. E, para além disso, o grau de pós-modernismo da discursividade deste elemento a isso me obriga, seja em nome de uma clubite aguda - porém analítica - da qual padeço, seja também em nome de um amor profundo à filosofia enquanto mãe de todos os saberes e, destarte, também do futebol.

Tendo estado, nesta quadra, isolado numa remota aldeia do interior da Lituânia – onde a informação chega a conta-gotas – tentei aceder a notícias não do meu país, mas sim do meu Benfica. Ora, nestas coisas de estatísticas, nuvens de palavras, like its e feeds, descubro que as maiores referências ao Benfica provém não de jogadores e ex-jogadores do clube, não de dirigentes e ex-dirigentes do clube mas sim, senhoras e senhores, pasmem-se os incrédulos, de Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, presidente do clube de futebol arqui-rival do Benfica, diseur de poesia, veterano das Caldinhas e mestre da arte de bem telefonar, alegadamente (reparem na astúcia defensiva com que uso o alegadamente).

Nada me move contra a pessoa em si. Porém, é na própria pessoa que devo centrar a minha análise sucinta, exacta e difícil de contradizer. Cá vai: Pinto da Costa amou profundamente o Benfica, mas o Benfica nunca o amou. Só assim, através da lei impiedosa do amor, conseguimos perceber o fascínio hepático-biliar que move o presidente de um clube que, mais do que uma identidade regional, nacional e internacional em franco crescimento tem como traço definidor essencial do seu programa um sentimento benfiquista, um amor que virou ódio. O Benfica é, pois, o combustível do presidente, a 98 sem chumbo que o faz carburar.

Vejamos os factos: a nível discursivo, o presidente do F. C. do Porto dirige-se mais insistentemente ao Benfica que ao clube a que preside. Ele é em entrevistas, em comunicados, em discursos que nem se consegue imaginar como será no balneário da sua equipa. Só alegadamente nas chamadas alegadamente telefónicas é que parece haver uma preocupação levemente maior pelo destino do, alegadamente, F. C. do Porto (denote-se, mais uma vez, a salvaguarda astuta no uso do advérbio de modo). Ora, caros leitores, como podemos compreender esta fixação? Apenas o podemos fazer à luz de uma paixão por corresponder. Mas será que se pode ser adepto de um clube e não ser, por este, correspondido enquanto clube apoiado? Por regra não, ou seja, eu não posso apoiar um clube e o clube não apoiar que eu o apoie e, por força disto, eu deixar de o apoiar. Porém, ao analisarmos o que verdadeiramente move Pinto da Costa, temos que encarar essa hipótese como altamente provável. Um pouco como encaramos a probabilidade do universo ser infinito quando lhe estamos à procura dos cantos. É que só podemos entender a actio do presidente do F.C. do Porto como resultado de um profundo sentimento pelo Benfica, tão extremo, tão extremo que deu a volta. A psicologia explica bem isto. Tipo “o amor que sentia levou-o à loucura e ao ódio”, para parafrasear um qualquer compêndio de lugares comuns. E mesmo tendo passado para o outro lado a intensidade sentimental de Pinto da Costa pelo Benfica acaba sempre por ser mais forte que a pelo F. C. do Porto.

Reparemos: quando o Benfica vai jogar ao Dragão, o sentimento é tão forte, tão forte, que os speakers estão proibídos de dizer Benfica: dizem antes visitante. Benfica é como o nome da paixão antiga que, como cantava Tim Maia, sempre mexe com a gente. Se – oh exemplo tão inocente! - uma pequena companhia de teatro vai representar para os filhos dos jogadores do F. C. do Porto a peça Pinóquio, cedo um assessor da presidência diz que os calções do pequeno aldrabão não podem ser vermelhos, que a companhia tem que desenrascar uns azuis para fazer a peça, caso contrário, nada feito. E quais as seis primeiras palavras que presidente do F. C. do Porto, seus jogadores, demais dirigentes e adeptos proferem, quando a sua equipa ganha um qualquer troféu, incluindo e destacando aqueles em que o Benfica não participa? Cito: “SLB, SLB, SLB, SLB, SLB, filhos”. Se isto não é fruto de um grande amor, meus caros leitores, o que é um grande amor?

É, pois, legítimo concluir que o presidente do F. C. do Porto não se move por desejos puros e inatos de grandeza, mas sim pelo propósito de ser um bocadinho mais que o Benfica. E isto mesmo quando o F. C. do Porto ganha mais que o Benfica, tem mais títulos internacionais que o Benfica e, em suma, é a melhor equipa portuguesa dos últimos trinta e cinco anos. É aqui, caros leitores, que reside a enorme pequenez do presidente futebolclubeportista. Podia ser, também, naquela táctica de perante qualquer derrota iminente do seu clube, dizer que se trata de um atentado às gentes do Norte e à sua região e depois, quando o clube ganha, não lhes dedicar nem uma vitóriazinha na Taça. Mas não: a política do presidente do F. C. do Porto nunca foi feita de per si, mas sempre em relação à existência do Benfica. Daí que Pinto da Costa podia ser presidente do F. C. do Porto, do Estrelas da Areosa, do Águas Santas ou das Águias do Falcão que, atendendo ao que o faz correr, a coisa seria a mesma. Só seria levemente diferente se, por acaso, calhasse ser presidente do Benfica: colapsava-se, explodia e daria origem a um novo sistema solar.

Na última semana, o presidente do F. C. do Porto fartou-se de falar à imprensa. E o que saiu do seu discurso? O Benfica e o seu treinador. O Benfica e os pontos de atraso. O Benfica e a cabazada do Dragão. O Benfica e o guarda-redes do Benfica. Sim, o mesmíssimo Benfica que não interessa porque já está a quinhentos pontos, o mesmíssimo Benfica que o ano passado não ia ser problema para ninguém. Como me dizia um velho amigo portista, “bastava a águia Vitória ter dentes e já o Pinto da Costa tinha contratado o Juan Bernabé”.

2 comentários:

Muito bem! aproveito para felicitar o autor pela crónica brilhante, pelo sarcasmo e acutilância.
É indisfarçável o amor que o Hugh Hefner de Contumil nutre pelo SLB .

Muitíssimo bem esgalhada esta postadela.

É uma radiografia feita ao clube sub-regional do Porto em 3D.

O retrato do Conselheiro Matrimonial, Gerente da Caixa, Padre da Freguesia, Engenheiro Chefe e extremado esposo da Filó, não podia ser mais nítido!!!

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