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07 outubro 2010

Futebol, dos pés para a cabeça


Os jogadores mais influentes numa equipa detetam-se pela dimensão de espaço que eles ocupam nos seus movimentos habituais.

Os grandes jogadores, quando aparecem, marcam o seu território de uma forma incontestável. Numa explicação puramente morfológica, o futebol é um jogo atraente e quase enigmático porque é jogado com os pés e pensado com a cabeça, algo que coloca em contacto pontos extremos do corpo atlético. É um bom ponto de partida para pensar numa equipa, jogadores e jogo, evolução e dilemas. Penso nisso quando ouço Fábio Coentrão a falar sobre o seu crescimento como jogador, de rebelde incompreendido até estrela do Benfica: "Antes pensava só com os pés. Hoje, penso com a cabeça, os pés... com tudo. Hoje, sim, considero-me um jogador de futebol!" A cabeça e os pés, a distância física máxima. Eis o grande desafio de uma equipa (e jogadores). Cruyff dizia que o futebol é "um jogo para ser jogado com a cabeça" e, com isso, enquanto recordava as suas fintas e passes mágicos (com os pés), dizia a origem de tudo. O melhor futebol, no entanto, vive de emoções e sentimentos. Leio António Damásio e fixo-me quando diz que "para ter uma emoção não é necessário um sentimento. Para ter uma emoção, basta um objeto. Um carro que se despista provoca susto, sem se estar a ter sentimento nenhum, está-se apenas a responder emocionalmente a uma situação". Claro que quando falava sobre isto, Damásio não pensava em futebol. Mas quando depois diz que "os sentimentos confundem-se com o princípio da consciência" ou a "possibilidade de não ter só uma reação automática, mas de a partir daí construir conhecimentos, relações com determinados objetivos", não resisto a transpor todo este mundo de razões e emoções para o futebol, o jogador, a bola e o... jogo. Coentrão sempre teve emoção com a bola (os pés em ação). Faltava-lhe, porém, o sentimento (a cabeça). Ter consciência no jogo e não reagir apenas emocionalmente ao objeto (bola). A razão estará algures no meio disso. Como o bom futebol. Os jogadores mais importantes/influentes numa equipa podem ser detetados em função da dimensão/amplitude de espaço que, no jogo, eles ocupam nos seus movimentos habituais. Nesse sentido, Coentrão estará até a tornar-se um jogador demasiado importante no jogo do Benfica em busca da sua melhor expressão. Neste momento, Jesus não terá outra opção do que mantê-lo a extremo-esquerdo para devolver à equipa profundidade pelo flanco que perdeu Di Maria. Fica, porém, com um problema defensivo, que obriga Coentrão a correr mais para ocupar maior parcela de relva, recuando também para ajudar a defender (nessa visão coletiva, é de crer que Fábio Faria seja melhor defesa-esquerdo do que César Peixoto).

Sentiu-se isso na Alemanha, frente a um Schalke 04 que deu a maior parte do relvado ao Benfica e esperou o decorrer do jogo para perceber onde estariam espaços ou erros para lançar um ataque. Perante este tipo de estratégias, o Benfica tem tendência a acelerar sempre o jogo, só o entendendo em velocidade. A época passada via o adversário como um "grande mentiroso". Agora, "acredita" nele. E é facilmente atraído pelo "objeto". A solução não será a de tornar o jogo mais lento, mas antes gerir melhor os ritmos de jogo. É o que, taticamente, o atual futebol "encarnado" necessita. Ou seja, jogar mais com a "cabeça" e menos só com os "pés". Fazer, como equipa, o percurso de Coentrão. As melhores equipas são as que "mentem melhor" em campo. Mentiras com pés e cabeça, claro.

Onde está Liedson?

Depois das derrotas do campeonato, a Liga Europa (5-0 ao Levai Sofia) re-equilibrou emocionalmente a "nação verde", mas é perigoso criar ilusões a partir de um simples resultado. Os problemas (e qualidades) do jogo sportinguista permanecem e não nascem de questões mentais, embora, claro, um bom resultado solte mais os jogadores. Paulo Sérgio continua a gerir taticamente a equipa a partir de vários sistemas. Neste jogo surgiu num 4x3x3 com dois médios defensivos, mas a ideia que ficou é que lhe foi mais difícil libertar-se de um desses seus médios recuados, Zapatero, libertando a equipa para uma saída de bola mais rápida, do que do próprio onze búlgaro.

No meio de todo este conjunto de jogos (e debates em seu torno) um facto destaca-se: Liedson caiu da equipa titular e passou a sentar-se no banco, depois de ter sido substituído ao intervalo de um jogo, com o Nacional, que estava 0-0. É a maior nota de autoridade (dentro fora do relvado) que Paulo Sérgio deu até agora como treinador do Sporting. Especula-se que as razões terão ultrapassado questões desportivas. Seja como for, esta decisão expõe o treinador que, destemido, numa fase de crise latente, tira da equipa o seu goleador (mesmo que num momento menos produtivo). A época passada, Carvalhal não conseguiu fazer o mesmo e, poucos dias depois do incidente Sá Pinto, o "levezinho" apareceu a titular na Trofa. E, claro, fez o golo da vitória.

Um treinador vive entre estes dois mundos que, tão próximos, podem ser tão complementares como conflituosos. Enfrentar o maior ego do balneário antes do onze adversário em campo. Segue-se o campeonato e o regresso ao mundo competitivo mais real (e cruel) para Paulo Sérgio e seu exército.

O primeiro Mourinho

O impacto Mourinho em Madrid ainda não explodiu dentro do relvado. No início, é o impacto do discurso, a postura, o 'jogo' das conferências de imprensa. O clube que antes era conhecido pelos jogadores (de Di Stefano ou Butragueno a Zidane ou Ronaldo) é agora primeira página pelo treinador que tem. É o primeiro 'campo de batalha'. Segue-se o jogo com uma bola pelo meio. Em busca de uma identidade, as exibições da equipa têm sido criticadas. E, reparem, escrevi 'uma' identidade, e não a 'sua' identidade. Porque Mourinho não tem uma ideia predefinida de qual será o melhor estilo de jogo. De início, talvez tentando fazer sombra ao Barça, tenta um jogo mais técnico e apoiado. Não é esse, porém, o seu código genético. As suas equipas são mais pragmáticas. Em vez de 12/13 passes, chegar à baliza em três ou quatro. O jogo, com o Auxerre, já deu indicações nesse sentido. O seu Real vai caminhar nessa direção, rumo a um jogo mais direto, sem tantas preocupações estéticas. Um futebol 'realista', ainda escondido no 'LabMou' de Madrid.

O 'bicho' tático

É a primeira sensação deste campeonato. À sexta jornada, a Académica de Jorge Costa plantou-se no segundo lugar. Será uma realidade circunstancial, mas não acontece por acaso. Tem a base do bom futebol, procurando a técnica como ferramenta. A tática? O 4x3x3. A maior arma? A velocidade de um jogador que quando arranca parece 'voar baixinho': Sougou. O seu upgrade deu-se quando descobriu onde está o... travão. Passou a saber o timing certo para fazer o passe ou o remate. O onze não é só Sougou (reparem no médio Diogo Melo) mas é através dele que faz levantar o adepto da cadeira. Alguém dizer que é adepto da Académica continua a equipara-se a um 'ato de cultura'. Este onze não usa 'capa e batina', mas tem estilo e personalidade. É um 'bicho' tático.

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