Quando José Torres morreu, ontem, já se tinha esquecido de nós. Também nós nos tínhamos esquecido dele. Mas há uma injustiça nesta comparação. Alguma vez teve ele razões para falar de nós, de olhos acesos e agradecidos? Não, nunca lhe demos nada. Já o contrário não é verdade. Uma noite do Outono de 1965, estou na Luz, no meu primeiro jogo ao vivo pelo clube que me fizera agradecido ao futebol. Era contra o Manchester United, noite dedicada a revelar um cometa, George Best, e hora e meia de eclipse de Eusébio, Coluna, Simões e José Augusto. E estando tudo a correr mal (acabaria num desastroso 1-5), ao quarteto talentoso só importava, bola no pé, centrá-la para a única esperança, que morava, mesmo nas horas más, no alto daquele corpo pernilongo e tímido, Torres. Meses depois, Portugal-Brasil, Mundial 66, Inglaterra. O nosso terceiro golo, começou de um remate de Eusébio, de ângulo impossível, que o guardião Manga defendeu para canto. Sozinho, Eusébio não conseguira. Eusébio marcou o canto, a bola foi à cabeça de Torres, que a colocou no exacto sítio da primeira tentativa - e, dessa vez, Eusébio fez o mais belo dos seus golos e todos correram a abraçá-lo. Ninguém ligou ao desconjuntado, ainda mais desconjuntado porque de braços longos e felizes no ar, Torres, o mais perfeito companheiro, bom para ajudar e para esquecer, o bom gigante que tornava os outros grandes.
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