Torres, velha glória de Benfica e selecção, coleccionou golos, títulos e elogios à sua personalidade. Morreu aos 71 anos.
Era alto e bondoso - chamavam- -lhe "bom gigante" -, mas o futebol português esqueceu-se dele após Saltillo e o avançar galopante da doença de Alzheimer. Hoje, todos o recordam: José Torres, antigo futebolista e seleccionador nacional, morreu ontem, aos 71 anos.
O nome de Torres confunde-se com a história do futebol nacional dos anos 60. O "bom gigante" (1,91 metros de bondade, nas palavras dos amigos) não jogou nas finais da Taça dos Campeões Europeus ganhas pelo Benfica em 1961 e 62, mas esteve nos outros momentos todos: as finais perdidas em 1963, 65 e 68, o 3.º lugar da selecção no Mundial 1966 e nove campeonatos nacionais dos encarnados.
Nessa altura, ao lado de Simões, Eusébio e José Augusto, Torres compunha o "ataque infernal" do Benfica e da selecção nacional. E é isso que José Augusto recorda, em declarações ao DN: "Vivi com ele os melhores momentos da minha carreira. O Torres foi um colega excepcional, com um percurso brilhante e muito meritório."
A carreira futebolística de Torres foi uma soma de jogos (384 por Torres Novas, Benfica, Vit. Setúbal e Estoril, 34 pela selecção), golos (217 pelos clubes, 14 pela "equipa das quinas") e títulos (nove campeonatos, três taças, e outros troféus menores pelo Benfica). Mas os elogios fúnebres detêm-se noutra faceta: a sua personalidade. "Era um grande amigo, sensato, humilde", diz José Augusto. "Era solidário, alegre, e tinha um sentido de humor fantástico", acrescenta António Simões. E José Augusto explica: "No Benfica, éramos colegas de quartos e éramos os reis das brincadeiras. Sonhávamos de noite para fazer de dia."
A bonomia manteve-se mesmo quando Torres deixou os relvados e se fez técnico. "Mais parecia um pai do que apenas um treinador", contou Carlos Manuel à Lusa. O antigo médio foi o autor do golo que apurou Portugal para o Mundial 1986, quando José Torres era seleccionador e, ante um cenário de muito difícil qualificação, apelou: "Deixem-me sonhar."
O sonho cumpriu--se, mas o Mundial foi marcado pelos problemas de disciplina e organização no estágio da selecção em Saltillo (algo que ainda causa mágoa nos amigos de Torres, como Simões). Desde aí, o "bom gigante" virou-se mais para outra paixão, a columbofilia. Até que a doença lhe tirou a autonomia e a memória, "sem que recebesse a homenagem que lhe faltou em vida", lamenta José Augusto. O último adeus a Torres é hoje, às 11.30, no Cemitério da Amadora.
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