Quarta-feira, oito da noite, hora de pico de audiência. Tenho dois televisores à frente: os olhos no Benfica, os ouvidos no Conselho de Ministros. De um lado, o Benfica transpira. Do outro, transpiramos nós. Sócrates apresenta as medidas de austeridade.
Ontem foi um dia estranho para os portugueses. (Toque de calcanhar de Luisão, bola ao lado). Como pensar em futebol se nos aumentam os impostos? Se pagaremos mais IVA, se receberemos menos IRS, se as pensões não sobem, se perdemos abono de família? (Golo do Schalke! Não: anulado...). O futebol vê-se para lembrar o jogo, não para esquecer o resto. O desporto não é bebedeira, é celebração. (Saviola remata! Ao lado... Raúl remata... Ao poste!)
Ontem, enquanto o Benfica jogava, os funcionários públicos perdiam parte do seu salário. Uns nada, outros 3,5%, alguns 10%. Em média, um corte salarial inédito de 5% (Sai Saviola, entra Aimar. O jogo está chocho), é quase como receber 13 salários a partir do próximo ano em vez de 14. Mais: é a promessa de que a economia que mal se erguera vai de novo afundar.
O ano de 2011 será o cabo das Tormentas para a economia portuguesa (Golo do Schalke 04, Farfán. Mau...). Acordámos do sonho irreal em que vivemos, gastando de mais e produzindo de menos (2-0, golo de Huntelaar...). E o conforto que os Governos nos foram dando de que estávamos a recuperar foi a música mentirosa para os nossos ouvidos.
São já 21.30. As conferências de imprensa acabaram, o jogo também. Foi uma má noite para os benfiquistas. Mas também para os sportinguistas, portistas, academistas e todos os artistas tributados deste país. Abro a página online do Record: “Benfica não soube matar e morreu no final”. Exatamente como a crise, que o Governo não soube matar no início e que nos mata no final. Vamos à próxima jornada.
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