Por João Gobern in Record
Desde a noite de sábado, e nem foi preciso esperar pelo final do jogo de Aveiro, o clima de euforia vivido para os lados da Luz teve direito a um duche frio que, por ironia do destino, pode vir a ser muito útil para uma época limpa e para que o Benfica possa realmente perseguir os seus objetivos. Por outras palavras, a forma empenhada e eficaz com que o FC Porto se apresentou, chegando nalguns momentos ao estatuto do “banho de bola”, pode ajudar a fazer de André Villas-Boas um inesperado “aliado” dos propósitos do campeão nacional.
Para já, num primeiro jogo oficial, ficou por confirmar a desenvoltura goleadora que o Benfica demonstrou na pré-época. Nem Cardozo, nem Saviola, nem Jara, nem Carlos Martins tiveram engenho e arte para marcar. Da mesma forma que, com maiores ou menores culpas, ainda não foi desta que Roberto se confirmou como a mais-valia anunciada. Suspiraram os benfiquistas pelos repentismos de Di María, pela entrega pendular de Ramires. Alguns, mesmo mais retraídos, não esqueceram a consistência de Quim. Todos, julgo eu, terão compreendido que a equipa para esta época, com rivais mais próximos e com desafios a sério na Liga dos Campeões, ainda está longe da máquina trituradora que se apresentou sem falhas em tantos jogos da temporada passada. Mais: houve, da parte de alguns jogadores do Benfica, uma rápida troca da arrogância pelo nervosismo, que se traduziu no recurso a faltas pouco habituais e nada aceitáveis num plantel que privilegia a técnica e o espectáculo, o que o leva a ser mais vítima do que carrasco dos adversários.
É certo que o FC Porto não deixou que o Benfica instalasse o seu habitual sistema: com a ajuda dos laterais e com Fernando reencontrado, a batalha do meio-campo começou a ser ganha aos primeiros lances. João Moutinho começou a dar razão aos que o consideram a grande contratação do defeso portista. E houve o fator Silvestre Varela, que, tal como há um ano, volta a ser um reforço poderoso e suscetível de gerar os desequilíbrios que Hulk, pelo contrário, não parece capaz de lograr. De Falcão já se sabe o que esperar. Rolando e Maicon arregaçaram as mangas para começarem a provar que Bruno Alves já é passado… ao contrário de Raul Meireles.
Para o Benfica, cujo técnico pode invocar (e bem mais do que os seus congéneres) a incerteza face às disponibilidades, tantos têm sido os assédios sobre os jogadores (e a janela de mercado ainda está escancarada), tantas têm sido as alternativas avançadas, é fundamental recomeçar. Ou seja, até domingo e daí em diante, a principal tarefa de Jorge Jesus tem a ver com atitude. Se conseguir lembrar aos seus homens que os jogos e os títulos se ganham em campo já terá meio caminho andado.
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