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12 agosto 2010

A bola nos dias da rádio - Por José Jorge Letria


Por José Jorge Letria in O Benfica

A rádio pública portuguesa está a comemorar 75 anos de existência, com a qualidade e o destaque que a efeméride merece. A rádio que, para algumas vozes do pessimismo militante, não tem futuro, é, do meu ponto de vista, talvez o meio de comunicação que melhor se poderá adequar no futuro às necessidades do cidadão comum em termos comunicacionais, já que o acompanha ao longo de todo o dia, mesmo onde a televisão não chega, e também por ter um registo mais intimista que não precisa da imagem para se projectar e para fazer o seu caminho.

Sempre fui um ouvinte atento e empenhado. Sempre fui um grande “consumidor” de rádio, porque ela nunca deixou de me fazer a companhia que eu sempre dela esperei. Recuo no tempo e recordo-me de, antes da televisão ter chegado a Portugal em 1957, a rádio ser, em termos de comunicação, o grande meio que entrava nos lares portugueses, mesmo tendo presente o modo como foi utilizado pela ditadura.

Mas foi também a rádio que mais contribuiu para que o futebol saltasse dos estádios para o interior das casas das pessoas, inundando-as com a emoção que sempre rodeou as grandes partidas. Recordo-me bem de ver o meu pai sentado na sala, nas tardes de domingo, num cadeirão que era o seu lugar cativo na bancada do seu fervoroso benfiquismo, de ouvido colado ao rádio de que tanto gostava, sem deixar que ninguém interrompesse a sua intensa concentração.

Esses eram os dias da rádio e da emoção de a ouvir e de partilhar com outros, com muitos outros, aquilo que ela tinha para contar. Eram outros tempos, outros hábitos, diferentes ritmos de vida e de comunicação. Mas foi a rádio, como de resto continua a ser hoje, o meio capaz de nos pôr a todos centro do relvado, através do jogo insuperável da imaginação. Haverá algo que se compare à fulgurante palavra “Gooooolo!” gritada aos microfones da reportagem radiofónica ?

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